sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

MACROSCÓPIO – PRONTO, É JÁ NO DOMINGO

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


A campanha eleitoral está a acabar. À hora a que escrevo, os candidatos gastam os últimos cartuchos. Foi uma campanha que não entusiasmou – não houve grandes mobilizações, nem grandes audiências, nem aplausos dos comentadores, apenas críticas quase generalizadas. Mas já lá vamos, pois fiz uma selecção dos que me pareceram ser alguns dos mais relevantes textos de opinião publicados nos últimos dias. Antes, porém, alguma informação útil, já a olhar para a noite eleitoral.

Começo por A importância das presidenciais: guia em 9 passos, um Especial da Helena Pereira que é um bom guia para ler politicamente os resultados eleitorais de Domingo. Os passos são os seguintes: Vamos ter uma outra 2ª volta (como em 1986)?; Um Presidente eleito por menos de metade do país? Outra vez?; Como se divide o eleitorado do PS? E dois chamam mais do que um?; Se Marcelo ganhar, ultrapassará Cavaco?; Marcelo vs. PàF. Como se comparam?; Marisa mantém o Bloco com ânimo (e influência)? E Edgar? Tem força para ser líder?; E o discurso contra a corrupção, vale quanto por cá?; e, por fim, Dos outsiders, quem vale mais: Neto ou Tino?

Depois há que saber o que dizem as últimas sondagens. Está aqui (Sondagens: Marcelo ganha, Belém afunda, Nóvoa sobe) informação sobre as três que foram reveladas na quinta-feira, a Helena Pereira e o David Dinis discutiram o seu significado noúltimo podcast das Presidenciais, mas o meu destaque vai para a análise de Pedro Magalhães, no seu blogue Margens de Erro.


O quadro acima, onde se comparam os resultados das últimas sondagens com os das sondagens em 2006 e 2011, sustenta, a par com um outro quadro síntese das últimas sondagens conhecidas, algumas anotação feitas pelo politólogo em As últimas sondagens presidenciais. Eis uma delas: “Marcelo em perda. Dito isto, em 11 sondagens, apenas uma não lhe deu mais de 50%, e o conjunto das sondagens desta semana dá-lhe um intervalo de confiança que não cruza os 50%. Marcelo está basicamente com a mesma intenção de voto estimada que Cavaco estava em 2006. Mas por outro lado, alguém acredita que a abstenção seja 38% desta vez?”

Por fim, e antes de ir às opiniões, apenas uma ajuda a quem sinta que ainda precisa de mais um argumento. Podem fazê-lo nestes cinco pequenos vídeos que preparámos no Observador e a que chamámos Cinco manifestos num minuto.

Vamos agora aos textos de opinião, bastante variados. Arrumei-os desta vez por órgãos de informação, sendo que são vários os temas abordados, da pobreza do debate a nove na RTP à controvérsia das subvenções vitalícias, passando pelo tema das 35 horas ou pelas qualidades e defeitos dos principais candidatos. Aqui fica esse apanhado:
  • Portugal merecia melhor do que isto, que eu próprio escrevi no Observador: “É deprimente. É pior ainda do que tínhamos previsto. É um tormento que só desejo que possa acabar já este domingo, sem reprise pois nada o justifica.”, pelo que “Portugal não merecia isto. Muito menos todos os portugueses que, nos últimos anos, pelo que fizeram, inventaram e se esforçaram, nos devolveram alguma esperança de que existe um futuro. Isto não. Isto foi uma campanha fixada no retrovisor.”
  • Marcelo Rebelo de Sousa, obviamente, de Rui Ramos, no Observador: “Vivemos numa época de incerteza evidente. Temos o governo mais fraco dos últimos quarenta anos. O pior presidente, neste sistema político e nas actuais circunstâncias, seria um presidente dependente de um só sector ideológico, vinculado a um único “tempo (…). Ao regime convém um presidente com força própria, que lhe permita nomeadamente ser flexível. Marcelo Rebelo de Sousa tem essa força. Tem a força de um dos mais longos percursos públicos da democracia.”
  • O grau zero da política, de Manuel Villaverde Cabral, ainda no Observador: “Com um candidato previsivelmente vencedor entregue à mais rasteira das campanhas perante o recuo do PS, que não se atreveu a assumir um candidato próprio, a questão que se coloca não é tanto o ruído de fundo em torno das chamadas «direita» e «esquerda», mas sim a questão de saber se – sim ou não? – o país vai completar a recuperação económica e financeira empreendida após a virtual bancarrota de 2011 ou se vai desbaratar os poucos ganhos conseguidos e cair numa nova forma de resgate.”
  • Uma eleição importante, um editorial do Expresso: “Apesar de o último mandato de Cavaco Silva ter tido fraca popularidade – sobretudo na segunda metade -, o Presidente da República sempre teve um papel fundamental no nosso sistema. Em momentos de tensão, é ele o vértice, o escape e o peso que equilibra ou desequilibra o sistema. Num período de grande incerteza política e de profundas incógnitas económicas, o próximo Presidente terá um papel fundamental na nossa vida política.”
  • Desmancha-prazeres, de Miguel Sousa Tavares, no Expresso: “No debate da RTP, nove dos dez candidatos presidenciais (excepto Maria de Belém, que faltou), juraram por sua honra estar dispostos a morrer pelo Governo de António Costa e pelas 35 horas na função pública. O contrário excluiria muitos votos e nenhum dos candidatos se atreve a tal. Mas os 80% de trabalhadores que não vivem do Estado e que foram chamados a pagar a falência do Estado, todos aqueles que ouvem dizer que “não há portugueses de primeira e portugueses de segunda”, todos os que não recebem resposta alguma à pergunta “por que razão se há-de trabalhar menos no Estado?”, ficaram esclarecidos: a política é o lugar zero da coragem intelectual.”
  • Valorizar a democracia parlamentar e o acto eleitoral, de Francisco Assis, no Público: “Dá muito jeito a uma certa direita umbilicalmente ligada às verdadeiras oligarquias existentes o trabalhinho sabujo da extrema-esquerda quando esta se empenha em identificar a representação nacional com uma casta. Esta palavra surgiu ultimamente no vocabulário político dos extremistas europeus. Começou em Itália com dois jornalistas (…) e instalou-se de seguida no vocabulário da política espanhola através do recém-criado (…) Podemos. Estes últimos chegaram ao ponto de considerar mais importante a contraposição povo/casta política do que a habitual dicotomia esquerda-direita. A moda acabou por chegar a Portugal e até já Francisco Louçã (…) se resignou à utilização de tão patético “conceito”.
  • O regime está podre, de João Miguel Tavares, no Público: “Cereja no bolo da desvergonha – temos a reacção furibunda de políticos de esquerda como Marisa Matias ou Catarina Martins ao novo acórdão do Tribunal Constitucional. Escasso tempo atrás, quando as decisões do TC invocavam exactamente o mesmo princípio para impedir cortes estruturais na despesa pública, essas decisões eram absolutamente sagradas. Agora já não são. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Só mesmo a falta de pudor é que permanece. Assim não vamos longe.”
  • Hélas..., de Vasco Pulido Valente, ainda no Público: “Depois de meses a ouvir falar as dez criaturas que se resolveram candidatar à Presidência da República continua a não haver uma campanha à Presidência da República, excepto aquela que os jornalistas se esforçaram por inventar. (…) Vivemos dois meses numa ilusão ou, se preferem, numa falsificação. E hoje continuamos a não saber nada sobre eles.” Assim, “para dar uma ajuda ao cidadão perplexo”, o colunista sintetiza numa frase o que pensa de cada um deles – menos de Marcelo.
  • O desinteresse pelas presidenciais, de André Abrantes Amaral, no jornal i: “Outro dia comentei com a minha mulher que, para nosso espanto, as presidenciais são já no domingo. Para quem não anda imerso nas notícias políticas que inundam os jornais, estas eleições passaram de tal forma despercebidas que a sua existência parece surreal. Já? É agora que se escolhe quem vai substituir o Cavaco? E os candidatos são aqueles que têm aparecido na televisão enquanto fazemos zapping?
  • Notas soltas sobre uma campanha triste, de João Pedro Henriques, no Diário de Notícias: “Sendo Costa um vencedor como primeiro-ministro, é no entanto um perdedor como secretário-geral do PS. Está longe de estar curada a profundíssima ferida que provocou no partido quando pôs em causa a liderança de Seguro depois de este ter vencido as europeias de junho de 2014. Os ataques da candidatura de Maria de Belém que põem em causa a neutralidade da direção do PS revelam-no. A batalha entre Belém e Nóvoa é também (talvez acima de tudo) uma batalha dentro do PS. Prevê-se uma noite eleitoral muito azeda, se Marcelo ganhar à primeira.
  • Duplo risco, de Vital Moreira, no Diário Económico: “Além de ter sido cooptado como candidato oficioso do PS, Sampaio da Nóvoa erigiu-se também em candidato oficioso do “novo tempo político” (palavras suas), marcado pela constituição do Governo do PS com base numa inédita frente das esquerdas parlamentares (e não só). Parece óbvio que os candidatos do BE e do PCP não têm outra função senão a de congregar o respetivo eleitorado e de carreá-lo para o candidato da “maioria de esquerda” numa desejada segunda volta. Por isso, o provável inêxito da candidatura de Sampaio da Nóvoa, que as sondagens anunciam, corre também o risco de se transformar na primeira derrota política do “novo tempo político”.
  • Marcelo de Rans, o candidato dos afetos, de António Moita, no Diário Económico: “Nesta campanha “a brincar”, o candidato Marcelo de Rans chegou e sobrou. Mas, quando for “a sério”, Marcelo Rebelo de Sousa, o político, terá de dar muito mais para poder vir a ser um grande Presidente da República. Creio que o irá conseguir. Mas é bom que comece já no próximo Domingo.”
  • Perdido em Marte, de João Pereira Coutinho, no Correio da Manhã: “Quinhentos mil infelizes assistiram ao grande debate das presidenciais. Com vergonha o confesso: fui um deles. Não dei o tempo como perdido: na impossibilidade de ouvirmos Maria de Belém (…), confirma-se que oito candidatos desconhecem em absoluto o cargo. (…) Aliás, a maior surpresa destas presidenciais foi ter revelado ao país que Marcelo, afinal de contas, é um menino de coro – e a mais pura encarnação da normalidade. É um mito que cai e um choque que fica.”

Para terminar num registo algo diferente, referência para a crónica desta semana de Miguel Támen no Observador, O fim da admiração. É uma crónica que procura responder a uma pergunta sobre esta estranha forma de humanidade que é o português: “Porque é que quando admiramos alguma coisa ou alguém, quase toda a gente perde a paciência connosco? Donde vem a incapacidade de admirar?” Eis a sua conclusão: “Deixamos de sentir admiração quando concluímos que, porque somos todos mortais, nada do que fizermos é merecedor do menor espanto, e aliás da menor condenação. Todos mortais, todos iguais.”

Todos iguais? Talvez não. Domingo é uma altura de escolhermos entre diferentes. Por isso, desta vez, não me despeço apenas com desejos de bom descanso de melhores leituras – acrescento o desejo de que todos vão votar. Mesmo.

 
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