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Um estudo
liderado pelo neurocientista português Rui Costa desmontou uma tese científica,
ao provar, numa experiência com ratinhos, que dois circuitos do cérebro, que se
pensava serem antagónicos, afinal são ambos 'bons', embora produzam coisas
diferentes.
"São
dois circuitos no cérebro que se pensava que trabalhavam um contra o outro, um
era bom, o outro era mau. São os dois bons, mas fazem coisas diferentes",
assinalou o investigador-principal, da Fundação Champalimaud, em Lisboa.
Os dois
circuitos cerebrais - via direta e via indireta - estão nos gânglios da base,
localizados por baixo do córtex do cérebro e responsáveis pela coordenação
motora, por comportamentos de rotina, pelas emoções e pela cognição.
Julgava-se,
segundo Rui Costa, que um dos circuitos, a via direta, 'dizia' que uma coisa
era boa para ser feita, enquanto o outro, a via indireta, 'dizia' que causava
repulsa.
Contudo,
o estudo, publicado hoje na revista Current Biology, concluiu que ambos os
circuitos "são positivos, sinalizam que as coisas são boas", só que
um, a via direta, está direcionado para uma ação intencional, e o outro, a via
indireta, para uma ação de rotina.
Rui Costa
deu o exemplo do elevador de um prédio. Aprende-se a carregar no botão, mas
também se adquire o hábito de carregar no botão, ao ponto de nem sempre o botão
corresponder ao piso que se pretende.
Na
experiência, a equipa do neurocientista expressou uma proteína, a opsina, que
responde à luz e ativa os neurónios (células do cérebro) de "uma forma
específica", nas vias direta e indireta.
Os dois
circuitos neuronais, com opsina, foram depois estimulados nos ratinhos com luz,
que passava através de uma "fibra ótica muito fininha" colocada no
cérebro dos roedores.
As vias
direta e indireta eram ativadas sempre que os ratinhos eram desafiados a
pressionar uma pequena alavanca.
Para
surpresa dos cientistas, os roedores carregavam sempre na alavanca, mesmo
quando era ativado o circuito, via indireta, que, supunham, os iria levar a
fugir e a evitar repetir a ação.
O que
aconteceu, relatou Rui Costa, é que os ratinhos pressionavam a mesma alavanca,
e até uma outra diferente, de modo automático quando tinham a via indireta
ativada. O mesmo não acontecia quando era ativado o outro circuito, a via direta,
em que os ratinhos carregavam várias vezes na alavanca, mas depois, a dada
altura, paravam 'intencionalmente' de o fazer.
Apesar de
haver "pequenas diferenças, que podem ser gigantes", entre os
cérebros humanos e os dos ratinhos, ressalvou Rui Costa, a experiência pode
revelar-se, em seu entender, importante para o estudo e tratamento dos
comportamentos aditivos e compulsivos, no sentido de se tentar ativar ou inibir
mais um circuito ou o outro com medicamentos, para dar mais controlo às ações
das pessoas com tais distúrbios.
Fonte:
Lusa
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