terça-feira, 5 de abril de 2016

Neurocientista português identifica mecanismo cerebral que nos permite criar rotinas

Imagem:caminhodecura
Um estudo liderado pelo neurocientista português Rui Costa desmontou uma tese científica, ao provar, numa experiência com ratinhos, que dois circuitos do cérebro, que se pensava serem antagónicos, afinal são ambos 'bons', embora produzam coisas diferentes.

"São dois circuitos no cérebro que se pensava que trabalhavam um contra o outro, um era bom, o outro era mau. São os dois bons, mas fazem coisas diferentes", assinalou o investigador-principal, da Fundação Champalimaud, em Lisboa.

Os dois circuitos cerebrais - via direta e via indireta - estão nos gânglios da base, localizados por baixo do córtex do cérebro e responsáveis pela coordenação motora, por comportamentos de rotina, pelas emoções e pela cognição.

Julgava-se, segundo Rui Costa, que um dos circuitos, a via direta, 'dizia' que uma coisa era boa para ser feita, enquanto o outro, a via indireta, 'dizia' que causava repulsa.

Contudo, o estudo, publicado hoje na revista Current Biology, concluiu que ambos os circuitos "são positivos, sinalizam que as coisas são boas", só que um, a via direta, está direcionado para uma ação intencional, e o outro, a via indireta, para uma ação de rotina.

Rui Costa deu o exemplo do elevador de um prédio. Aprende-se a carregar no botão, mas também se adquire o hábito de carregar no botão, ao ponto de nem sempre o botão corresponder ao piso que se pretende.

Na experiência, a equipa do neurocientista expressou uma proteína, a opsina, que responde à luz e ativa os neurónios (células do cérebro) de "uma forma específica", nas vias direta e indireta.

Os dois circuitos neuronais, com opsina, foram depois estimulados nos ratinhos com luz, que passava através de uma "fibra ótica muito fininha" colocada no cérebro dos roedores.

As vias direta e indireta eram ativadas sempre que os ratinhos eram desafiados a pressionar uma pequena alavanca.

Para surpresa dos cientistas, os roedores carregavam sempre na alavanca, mesmo quando era ativado o circuito, via indireta, que, supunham, os iria levar a fugir e a evitar repetir a ação.

O que aconteceu, relatou Rui Costa, é que os ratinhos pressionavam a mesma alavanca, e até uma outra diferente, de modo automático quando tinham a via indireta ativada. O mesmo não acontecia quando era ativado o outro circuito, a via direta, em que os ratinhos carregavam várias vezes na alavanca, mas depois, a dada altura, paravam 'intencionalmente' de o fazer.

Apesar de haver "pequenas diferenças, que podem ser gigantes", entre os cérebros humanos e os dos ratinhos, ressalvou Rui Costa, a experiência pode revelar-se, em seu entender, importante para o estudo e tratamento dos comportamentos aditivos e compulsivos, no sentido de se tentar ativar ou inibir mais um circuito ou o outro com medicamentos, para dar mais controlo às ações das pessoas com tais distúrbios.


Fonte: Lusa

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