Todos
os dias, o ateliê de expressão plástica da Associação de Paralisia Cerebral de
Coimbra (APCC) enche-se de utentes para pintarem quadros em acrílico, num
trabalho que pode significar orgulho, vício ou até a ambição de uma carreira.
No
departamento de expressão plástica, com várias pinturas dos utentes espalhadas
pelas paredes, o ambiente é calmo. Os nove utentes estão concentrados em cada
uma das suas telas, mas a coordenadora, Suzete Azevedo, avisa que o silêncio
não é normal.
O
dia-a-dia do ateliê é mais animado, refere. A informalidade impera e há sempre
tempo para rir e para se falar dos bons e maus momentos, por entre as pinturas
que se vão fazendo, ao som de música.
Ao
todo, são cerca de 90 utentes que participam no departamento ao longo de toda a
semana, sendo pessoas com patologias diversas e que, em algumas situações,
recorrem a adaptações para poder pintar de acordo com as suas capacidades, diz
à agência Lusa Suzete Azevedo.
Os
quadros que foram sendo pintados nos últimos quatro anos estão agora em
exposição no Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral da APCC, com o
intuito de ganharem nova casa. São 82 obras, algumas recriações de quadros de
Mondrian, Picasso ou Miró, entre outros artistas, que estão agora disponíveis
para compra, com preços entre os 50 e os 250 euros.
No
ateliê, a arte é encarada como um meio de empoderamento "da pessoa com
deficiência", em que os utentes participam, decidem e fazem, nem que seja
"uma coisa simples como decidir a cor de tinta a utilizar", explana a
coordenadora.
A
atividade acaba por ter "um impacto grandioso", em que o objeto
artístico significa "sucesso" - o fim de todas as etapas que
transformaram uma tela branca numa pintura.
"Todos
têm orgulho", sublinha Suzete Azevedo.
Que
o diga Ricardo Rebola, de 40 anos, completamente compenetrado no seu quadro,
onde pinta o "postal" mais comum da cidade de Coimbra. Enquanto dá
uns retoques no branco das nuvens do quadro que está perto de terminar, o
utente não esconde a satisfação de pintar.
"Ambiciono
ser artista plástico", vinca Ricardo várias vezes. Olha para a pintura,
explica-a, fala das dificuldades que vai tendo e questiona-se a si próprio:
"Será que encontrei um futuro?".
Para
o utente da APCC, o futuro será sempre feito de paleta e pincel na mão. "A
minha ambição é continuar este projeto, mostrar a minha arte e os meus
trabalhos", sublinha.
Apesar
de alguma dificuldade em explicar a sensação de pintar, Ricardo sublinha que no
ateliê a sua mente encontra "tranquilidade. Não encontro confusão.
Encontro apenas outro mundo".
"Damo-nos
todos bem, brincamos e é uma experiência única pintar. Fazemos o que
conseguimos e não é exigido a mais nem a menos. É o que conseguimos e no nosso
'timing'", explica Adelaide Almeida, de 35 anos, que também participa nas
atividades de expressão plástica.
João
Bogalho, de 42 anos, já pinta "há dois anos" e corrobora a
constatação de Adelaide: "É uma experiência muito boa".
Segundo
o presidente da APCC, Antonino Silvestre, nas obras está espelhada "muita
da sensibilidade" dos utentes e das suas capacidades.
A
atividade de expressão plástica "é uma área muito gratificante, que a
associação nunca pode deixar de ter", frisa.
Para
alguns dos utentes, a ida ao departamento é já "um vício", refere
António Castanheira, um dos participantes, que vai ao ateliê três vezes por
semana.
Quando
termina um quadro, António já só pensa qual será "o próximo", num
trabalho em que "as horas parecem que passam a voar". "Sinto-me
realizado", afirma.
Fonte
e Foto: Lusa
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