Os militares da Guiné-Bissau que nos últimos anos participaram no abate ilegal de florestas do país, deverão voltar para o mato, mas desta vez com o objetivo de plantar árvores, de acordo com um novo projeto ambiental.
"O que se pretende é reconciliar os militares com o seu povo", explicou à Lusa o representante da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em Bissau, Nelson Dias.
Aquele responsável percorreu todos os quartéis da Guiné-Bissau entre março e maio e mostrou filmes onde se vê o resultado do corte desenfreado de madeira após o golpe de Estado militar de abril de 2012 -- e que só com a eleição de novas autoridades em 2014 foi possível travar.
"O que se passou foi um crime ambiental e quem ficou com essa responsabilidade foram os militares", mas o representante da UICN considera que "eles foram utilizados".
Ou seja, deram cobertura ao abate, mas "quem realmente beneficiou do negócio ilegal de exportação de toros de madeira foi meia-dúzia de empresários", alguns de países estrangeiros.
Nos quartéis, Nelson Dias diz ter ouvido militares assumirem a culpa no processo e exprimirem o desejo de se redimirem, tanto mais que "muitos deles nem tinham consciência" do crime ambiental que o corte de árvores representava.
Apesar de crise política no país, a dinâmica "está lançada e não vamos parar".
Todos os quartéis foram sensibilizados para o projeto, as chefias militares apoiam-no e vai arrancar a instalação de viveiros para que a plantação das árvores possa começar no próximo ano.
A iniciativa tem o apoio do Governo, através do Ministério da Defesa, do Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP) e já foi apresentado a parceiros internacionais.
O único inventário florestal da Guiné-Bissau, publicado em 1985, recomendava um limite de corte de 20.000 metros cúbicos de madeira por ano para um total de dez espécies comerciais.
No entanto, só em 2014, a Direção-Geral de Florestas e Fauna (DGFF) certificou a exportação de 91.138 metros cúbicos de uma única espécie, pau-de-sangue, tendo quase toda como destino a China, referiu à Lusa, Constantino Correia, engenheiro florestal e antigo diretor-geral de florestas.
"Isto é muito grave", sublinhou.
Constantino Correia apelou à intervenção do Ministério Público para que apure "muitas cumplicidades" das mais altas autoridades para que um punhado de gente ganhasse muito dinheiro em pouco tempo, sem olhar aos danos ambientais a médio e longo prazo.
O relatório da Campanha Florestal e Faunística de outubro de 2013 a junho de 2014 da DGFF concluiu que boa parte do assalto à floresta foi feita por "tronqueiros" que não prestaram contas a ninguém e que foram protegidos por elementos fardados ligados a forças militares ou de segurança.
O documento não esconde que tudo funcionou com base em "influências ou relações para fazerem pressão ao nível mais alto da governação".
Em abril de 2015, o Governo da Guiné-Bissau decretou uma moratória de cinco anos que impede o corte de árvores nas florestas do país.
LFO // PJA - Lusa
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