terça-feira, 16 de agosto de 2016

A monotonia da nossa vida pública


A monotonia da nossa vida públicaSe se comparar o número global de membros efetivos dos diversos partidos políticos (número este muito inferior ao dos eleitores que afluem às urnas pela pressão da obrigatoriedade do voto, e não têm remédio senão inscreverem em sua cédula eleitoral algum candidato de partido a que não pertencem), com o número de brasileiros em idade de votar, a desproporção é flagrante. Muitíssimos são os brasileiros que não pertencem nem aderem estavelmente a partido algum.
Essa abstenção se deve à indiferença política de muitos deles: a coisa pública pouco ou nada lhes fala à alma. Mas, ao que tudo indica, a maior parte desse eleitorado não arregimentado opta pela marginalização partidária, não porque lhe falte interesse pelo bem comum e pelas problemáticas relacionadas com este, mas por outra razão: é que eles acalentam no fundo da alma anelos, ideais, sugestões políticas, sociais e econômicas para as quais não encontram nenhum reflexo nos mass media compactamente homogeneizados.
Mass media mais ricamente diferenciados, do ponto de vista ideológico, doutrinário e cultural, poderiam servir de meios de expressão e de consequente aglutinação de inúmeras almas que se calam. E a vida pública brasileira adquiriria assim a amplitude e a vitalidade que lhe faltam.
Com efeito, entre os que assim são abafados se encontram, muitas vezes, reflexões ansiosas de se comunicarem, aspirações palpitantes do desejo de procurarem em larga escala elementos afins aos quais somarem os que já têm, com o fito de iniciar uma pregação política ou socioeconômica específica, concepções novas do Brasil que não chegaram a se esboçar inteiramente, vida corpuscular, miúda, mas estuante, a qual lateja nos recantos ideológicos minoritários e obscuros do País e que tendem a lançar cada qual, em tais circunstâncias, seu SOS para salvar o País… ou para que o País os salve da situação anquilosada na qual vegetam.
Não é difícil admitir que toda essa vida, comprimida pelo anonimato a que a relega o capitalismo publicitário, se “vingue”, recolhendo dentro de si as riquezas de pensamento que muitas vezes possuem. E privando assim a vida pública da vivacidade rica e inesperada que lhe é peculiar.
Daí resulta em parte a monotonia da nossa vida pública: “monotonia” no sentido etimológico do termo. A “mono-tonia”, sim, que instila o tédio político no grande público. E produz a “a-tonia” de considerável parte do eleitorado.
Excertos da obra de Plinio Corrêa de Oliveira, Projeto de Constituição angustia o País, Catolicismo, Ed. Extra, SP, 1987, p. 19.

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