terça-feira, 16 de agosto de 2016

Portugal. PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS E OUTRAS CALAMIDADES


Assistimos aos atos de "salvamento" de populações, casas e cultivos, por bombeiros voluntários com a ajuda de populares que enfrentam todos os riscos, inclusive de morte, e o que mais sobressai é o desespero de quem perde o fruto do seu trabalho e das suas poupanças, que resultaram de sacrifícios da família. E maior indignação provoca, a impotência de quem confiava na gestão governamental do país para alcançar o desenvolvimento e algum conforto social.

Este tema, o da gestão e administração da vida de um povo, tem muito que se diga e merece ser pensado com grande responsabilidade. Não se trata de atirar pedras em uma ou outra força partidária que se sucedem nos altos cargos do Governo. É mais. É saber qual o objetivo dos programas elaborados para o funcionamento do Estado: defender os direitos humanos da população ou a acumulação de riquezas para a promoção e enriquecimento de uma elite que ditará as regras da gestão e da administração dos serviços públicos.

Ouvindo, nos noticiário televisivos desta trágica semana de incêndios que destroem Portugal em Agosto de 2016, os depoimentos de engenheiros florestais e de chefes da corporação de bombeiros revelam que estudos de grande valor têm sido produzidos para prevenir incêndios desde a Revolução dos Cravos, mas que os relatórios circulam por mesas e gavetas de responsáveis políticos que deveriam criar as condições para a sua execução urgente. Quais serão os obstáculos? Os orçamentos para habilitar os serviços de apoio do Estado aos bombeiros voluntários que contam sempre com a solidariedade dos demais voluntários da população além de aperfeiçoarem sempre o seu treinamento e organização do trabalho.

Então vamos descobrir que a distribuição de verbas orçamentais vão primeiro para as instituições financeiras para que possam oferecer empréstimos, mediante juros, para agentes intermediários comprarem aviões e demais equipamentos de combate às chamas, destinados a diferentes instituições do Estado. E o dinheiro vai escasseando de mão em mão e se divide entre administradores especialistas em burocracias que distribuem fartos relatórios para aprovação de políticos que defendem as suas cores partidárias e não a população lá em baixo.

Sem entrar em muitos esclarecimentos, vamos á origem dos erros (ou dos crimes) devido à incompetência de governantes e gestores a nível superior da hierarquia no Estado. O programa de desenvolvimento nacional não considera o fator social à frente do financeiro, e mais, desvia a favor do interesse de uma elite privilegiada grande parte do orçamento devido ao povo.

Um defensor do ambiente explicou a importância dos guardas florestais para prevenir os incêndios: durante todo o ano os guardas florestais conhecem as localidades rurais, ensinam a manter a limpeza do terreno de material combustível, ajudam os habitantes idosos com recursos do poder local e de associações de moradores que contam com jovens voluntários solidàrios, conhecem os casos de debilidade mental de possíveis incendiàrios recorrendo ao apoio de instituições de tratamento adequadas, chamam a atençatenção dos serviços competentes sobre a falta de acesso ou de limpeza das florestas, da proximidade com casas, controla a prática de uso do fogo para limpeza dos terrenos ou alimentação, fogueiras festivas, desatenção de fumantes, promovendo uma constante campanha de prevenção ligada às escolas, associações locais, serviços públicos ou privados da localidade.

Em Portugal há pouco mais de 30 para todo o território nacional e deveria ter centenas. O custo deste serviço é bem menor que o de apagar incêndios. Mas tem mais, além da vantagem financeira que o gestor incompetente aprecia, o guarda florestal estabelece um contato permanente com a população rural recolhendo ensinamentos práticos e levando critérios de base científica para que organizem a comunidade com recursos modernos, solidariedade, responsabilidade social, em defesa da produção, da saúde, do convívio, da educação, do interesse por matérias profissionalizantes que abrem novos caminhos de desenvolvimento pessoal e nacional.

Não é fácil mudar as mentalidades de políticos que se subordinam ao comando externo que, por meio da pressão financeira, midiática, da indústria turística (que reivindica em Portugal as casas dos guardas florestais para equipamento turístico) e de uma visão contabilistica do desenvolvimento nacional que nada tem de humano e social. O caminho é eleger para os cargos políticos apenas os que se comprometerem a não defender os interesses conservadores da elite dominante no sistema capitalista e, ao contrário, privilegiar o atendimento social como base do desenvolvimento nacional.

*Zillah Branco -  Cientista social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Brasil, Chile, Portugal e Cabo Verde

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