terça-feira, 16 de agosto de 2016

Portugal. PEDRO E O APOCALIPSE

Mariana Mortágua – Jornal de Notícias, opinião

"Esperamos que o que seja preciso e o que é difícil seja menos do que aquilo que podemos fazer porque podemos fazer mais do que aquilo que é difícil, podemos também fazer o que é necessário". Perceberam? Foi assim o discurso de Passos Coelho na rentrée no PSD: confuso e fastidioso, apesar do habitual tremendismo quanto ao futuro do Governo e do país.

Entramos no décimo mês deste Governo e já perdemos a conta aos apocalipses anunciados por Passos. Ele era porque o PS nunca se entenderia com Bloco, PCP e Verdes para formar Governo, depois porque Governo sim, mas Orçamento nunca, afinal Orçamento está bem, mas PEC nem pensar, e com o PEC aprovado as sanções é que poriam fim a isto tudo. Passos bem chama por ele, mas o raio do Apocalipse teima em não vir, e lá se vão as esperanças de um retorno do PSD ao poder. Porque é só disso que se trata, não é?

Largá-lo foi traumatizante e o regresso está difícil. Compreende-se porquê. Para regressar seria preciso ser oposição e ter alternativa. O PSD falha em ambos.

Mas, de facto, que oposição pode o PSD fazer? Veja-se o discurso de Passos no Pontal. Fala-nos de pobreza e desigualdade. Então, mas não existiam ambas há 10 meses? E não foi o próprio que disse iríamos empobrecer? Fala-nos da necessidade de proteção social. Então, mas não foi o PSD que cortou nos apoios? E não foi o PSD que votou contra os aumentos desses apoios? Fala-nos sobre empurrar com a barriga. Então, mas não foi o Governo de Passos que escondeu os problemas do Banif e do Novo Banco? Fala-nos sobre ética governativa. Mas o ídolo empresarial de Passos não é Dias Loureiro? E Maria Luís Albuquerque e Paulo Portas não arranjaram belos empregos no privado apenas por causa dos seus cargos governativos?

E a alternativa do PSD, qual é? Menos rendimentos, mais privatizações, cortes nas pensões e segurança social privada, horários de trabalho mais pesados. A alternativa é o alinhamento com o radicalismo de Bruxelas e o empobrecimento com base na ideia falida de que a austeridade melhora as economias. Veja-se a Europa como está.

Quando as possibilidades de uma oposição decente são minadas por um passado demasiado recente e a alternativa política é indizível, a única saída é mesmo desejar uma catástrofe que teima em não chegar.

*Deputada do BE

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