Estudar em Portugal revelou-se a
oportunidade de uma vida para Rasha Rahme e Salam Abdeen, duas estudantes
universitárias que deixaram a Síria para começar uma nova vida, sempre na
esperança de um dia regressarem ao país natal.
Antes da guerra, a vida na Síria era
pacífica, estudavam na universidade, viviam com os pais, tinham uma vida
simples: "Tínhamos tudo, agora não temos nada", conta Rasha Rahme, de
26 anos, a estudar arquitetura na Universidade Lusófona.
"Ninguém esperava que as coisas
evoluíssem para uma guerra e eu esperava que acabassem rapidamente, mas isso não
aconteceu", diz à Lusa.
Tanto Rasha como Salam viviam na cidade
de Salamieh, no distrito de Hama, a cerca de 45 quilómetros da cidade de Homs.
Rasha tem lá a mãe, Salam tem um irmão, dois anos mais novo.
Segundo a informação que vão tendo dos
familiares que ainda vivem lá, "as coisas não estão muito bem" e
"todas as semanas ou todos os meses há ataques". Falta a água, a
eletricidade e, às vezes, também a internet.
A comida está cada vez mais cara:
"Se queres cozinhar para um dia, comparando o euro com a libra síria, tens
que gastar cem euros apenas para um dia e apenas para uma pessoa", conta
Salam, 25 anos.
No dia-a-dia, as pessoas tentam
encontrar soluções para viverem com alguma normalidade, diz Salam, ajudando-se
umas às outras e procurando "encontrar maneiras de ir conseguindo".
"Todos os meses há dois ou três
dias de medo, mas depois habituamo-nos. Esperamos dois dias e depois saímos e
retomamos a vida diária porque as pessoas querem continuar com a sua vida.
Habituamo-nos e fazemos por continuar e melhorar o estado das coisas",
aponta.
Chegaram a Portugal em 2015, através de
uma bolsa de estudo da Plataforma Global de Apoio aos Estudantes Sírios, uma
iniciativa do ex-Presidente da República Jorge Sampaio, criada em 2013.
"Para mim, foi uma grande
oportunidade poder vir e terminar os meus estudos porque na Síria não há futuro
atualmente", diz Rasha, que admite que antes de a guerra começar não tinha
quaisquer planos para ir para fora do país.
Já Salam teve conhecimento da Plataforma
em julho de 2015, depois de muito procurar por uma oportunidade que lhe
permitisse terminar o seu mestrado em Tecnologias de Informação.
"É a oportunidade de uma vida para
mim. Procurei muito por uma bolsa, mas não estava a conseguir. Quando consegui
pensei: 'Esta é a minha oportunidade para ir, começar de novo, fazer algo de
bom e talvez, quando terminar, conseguir ajudar as pessoas na Síria'",
disse.
A integração em Portugal tem decorrido
da melhor maneira possível: Rasha assume-se apaixonada por Portugal, um país
onde já se habituou a viver e onde se sente confortável. Salam descreve o país
como pacífico, onde sentiu que se podia integrar e ajustar, mesmo que tenham
diferentes formas de estar na vida.
"Todos perguntam e não nos fazem
sentir como estranhos, mesmo que tenham hábitos diferentes, como na
alimentação. Perguntam gentilmente e aceitam os nossos costumes", refere
Salam.
Rasha conta, por outro lado, que apesar
de não ser fácil assistir às aulas -- já que ainda não fala português
fluentemente -- os professores e os colegas ajudam imenso e é-lhe permitido
fazer os testes e entregar os trabalhos escritos em inglês.
"As pessoas ajudam sempre e, por
isso, tem sido fácil", adianta, acrescentando que essa ajuda surge mesmo
numa ida ao supermercado.
O mais difícil de superar tem sido as
saudades e o afastamento da família.
"Se conseguisse trazer a minha mãe
seria perfeito. Estar com ela num sítio pacífico onde já não sentisse medo por
ela", diz Rasha.
"É difícil começar de novo quando
se deixa alguém para trás. O meu irmão ficou na Síria, está lá sozinho e eu
estou sempre preocupada com ele, penso como é que ele está, como é que vive,
penso sempre nele", refere, por seu lado, Salam.
Pelo menos até 2017, a vida destas duas
jovens será feita em Portugal, mas, admitem, o objetivo -- mesmo que seja só a
longo prazo -- é regressar à Síria e ajudar na reconstrução do país.
"Um dia as coisas hão de recomeçar
e os jovens serão aqueles que vão ajudar a reconstruir o país porque somos a
base da comunidade", entende Rasha.
Desde 2013, a Plataforma Global de Apoio
aos Estudantes Sírios atribuiu 140 bolsas de estudo no ensino superior, em dez
países, tendo recebido 2.500 inscrições.
A Plataforma conta com o apoio das
universidades e politécnicos portugueses, mas também de empresas e da sociedade
civil.
Fonte e Foto: Lusa
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