Novas revelações feitas sobre praças financeiras offshore, desta vez sobre as Bahamas, em particular sobre administradores de empresas aqui sediadas, indicam a presença de 28 portugueses, uma ex-vice-presidente da Comissão Europeia e uma ministra britânica.
Os dados sobre as Bahamas Leaks foram recebidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung e peloConsórcio Internacional dos Jornalistas de Investigação, baseado em Washington, que os estão a divulgar na Internet.
A informação disponibilizada em Portugal nos sites do Expresso e da TVI, diz respeito a “1,3 milhões de ficheiros relativos a 176 mil companhias e incluem os nomes de 25 mil administradores e funcionários nomeados por essas offshores ao longo dos anos”, indicou o semanário.
No caso dos Documentos das Bahamas, e ao contrário do ocorrido com os designados Panama Papers, “o acervo não inclui e-mails ou contratos relacionados com essas companhias ou quem são os seus beneficiários últimos”, ressalva o jornalista Micael Pereira, do Expresso.
O jornalista revela ainda que “os 29 portugueses identificados pelo Expresso e pela TVI surgem como administradores em 38 empresas“.
Sem políticos no conjunto, os nomes mais conhecidos são os de Micael Gulbenkian, sobrinho-neto do fundador da Fundação Calouste Gulbenkian, e dois dirigentes do Banif, Joaquim Marques dos Santos, presidente entre 2010 e 2012, e Carlos Duarte de Almeida, presidente-executivo no mesmo período.
Os Bahamas Leaks mostram ainda que Pedro Morais Leitão, ex-presidente da ONI e atual administrador da Oi, foi nomeado administrador de uma companhia chamada Mare Nostrum, juntamente com José Maria Franco O’Neill, antigo administrador do Metropolitano de Lisboa, e com Carlos Barbosa da Cruz, ex-administrador do grupo de media Cofina e um dos sócios do escritório de advogados CCA Ontier, em Lisboa.
Os portugueses identificados foram contactados por email pelo Expresso, mas apenas Carlos Barbosa da Cruz respondeu.
“O meu cargo na sociedade em referência, aliás sem atividade, processa-se no quadro de um mandato profissional, relativamente ao qual estou abrangido pelo dever de sigilo”, afirmou.
Entre os nomes revelados está também o da holandesa Neelie Kroes, ex-vice-presidente da Comissão Europeia e ex-comissária para a Concorrência (2004-2010) e Agenda Digital (2010-2014) – que administrou uma sociedade offshore entre 2000 e 2009, sem o comunicar em Bruxelas.
Kroes agora é uma consultora paga pelo Bank of America e pela Uber.
A ministra do Interior britânica, Amber Rudd, por seu lado, foi identificada, pelo diário The Guardian, como tendo sido diretora de duas empresas, nas Bahamas, durante a sua carreira no mundo dos negócios – antes de enveredar pela política.
O Reino Unido tem sido um dos vários países que anunciaram querer reduzir o uso destes designados paraísos fiscais, portanto, estas revelações que indicam que um dos principais ministros beneficiou de um regime que não taxa rendimentos individuais ou coletivos podem levantar questões desconfortáveis para o governo britânico.
A organização não-governamental Tax Justice Network (Rede para a Justiça Fiscal) comentou que o facto de esta informação ter sido libertada vem revelar que as Bahamas são “uma ameaça global”para o sistema fiscal internacional.
“Para muitos de nós que estudam os paraísos fiscais, era apenas uma questão de tempo até que um grande escândalo atingisse as Bahamas”, disse um dos membros do grupo, Moran Harari.
/Lusa
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