Cerca de 300 organizações feministas e sindicais argentinas estão a convocar uma greve de uma hora esta quarta-feira contra os feminicídios, depois do assassinato brutal da adolescente Lucía Pérez, de apenas 16 anos, que foi violada e empalada.
As mulheres de todo o país deverão sair às ruas entre as 13h e as 14h (17h a 18h em Lisboa) vestidas de negro, aderindo à convocação feita através da hashtag #NosotrasParamos.
Inspiradas pelas experiências de paralisação das mulheres na Polónia e na Islândia, as argentinas reivindicam: “Si mi vida no vale produzcan sin mi” (“se a minha vida não vale, produzam sem mim”).
O movimento #NiUnaMenos (“nem uma menos”), que levou mulheres argentinas às ruas a 3 de junho de 2015 contra os feminicídios no país, “convoca as mulheres a se vestirem de negro e a saírem às ruas para dar visibilidade à violência e ao ajuste económico que atinge com mais força as mulheres”.
As mulheres querem chamar a atenção da sociedade em geral para os feminicídios brutais cometidos recentemente e para os efeitos na vida das mulheres do ajuste fiscal promovido pelo governo Macri, a partir das articulações feitas no Encontro Nacional de Mulheres, realizado em Rosario entre 8 e 11 de outubro.
“Com a raiva pelo feminicídio de Lucía em Mar del Plata, pelo ódio de uma mãe que mata sua filha lésbica, pelas adolescentes esfaqueadas em La Boca e com a repressão sofrida no Encontro Nacional de Mulheres em Rosário, chamamos a sair de nossos lugares de trabalho e das nossas casas na próxima quarta-feira, às 13h, para visibilizar os feminicídios e a precarização da vida das mulheres”, convocou Florencia Minici, do #NiUnaMenos.
O jornal El País relata que, desde o assassinato de Lucía Pérez, pelo menos outras três mulheres foram assassinadas na Argentina. O Supremo Tribunal de Justiça da Argentina registou 235 feminicídios em 2015, ou seja, uma média de um crime a cada 36 horas.
De acordo com a organização brasileira Universidade Livre Feminista, feministas chilenas e mexicanas também farão uma série de ações em solidariedade.
Assassinato brutal
O homicídio de Lucía Pérez, de apenas 16 anos, está a chocar a Argentina. A jovem estudante foi levada por um grupo de traficantes depois das aulas e morreu depois de ter sido drogada, violada e empalada com uma estaca de madeira.
O assassinato aconteceu na noite de 8 de outubro, em Mar del Plata, uma cidade de 600 mil habitantes situada 400 quilómetros a sul de Buenos Aires.
As autoridades acreditam que Lucía foi obrigada a consumir grandes quantidades de cocaína e canábis, sendo depois violada. A jovem sofreu ferimentos internos bastante graves acabando por não resistir à violência de que foi alvo pelo grupo de traficantes.
Lucía foi deixada já morta à porta de um hospital local, depois de os raptores lhe terem dado um banho para tentar esconder as lesões. Os médicos foram informados que a jovem tinha morrido de overdose, mas as análises ao corpo revelaram os horrores a que tinha sido submetida.
“Nunca vi uma conjunção de fatos tão aberrantes“, afirmou a procuradora María Isabel Sánchez ao falar à imprensa sobre o crime, citada pelo El País.
“Esta rapariga foi empalada e foi essa a causa da sua morte. Foi sujeita a abusos sexuais brutais e desumanos“, referiu a responsável pelo caso.
Foram encontrados preservativos usados, várias drogas, brinquedos sexuais, armas e munições na carrinha em que Lucía Pérez foi transportada. Matías Gabriel Farías, de 23 anos, e Juan Pablo Offidani, de 41, foram detidos e são até agora os principais suspeitos do crime, acusados de abuso sexual seguido de morte.
Esta terça-feira, a polícia deteve um terceiro suspeito, Alejandro Alberto Masiel, acusado de tentar encobrir o homicídio.
O pai da jovem apela para que os membros do gang sejam condenados a prisão perpétua.
“Não queremos 10 ou 15 anos para depois saírem da prisão e fazerem o mesmo. A minha filha foi drogada, violada e empalada. Que animal é capaz de fazer uma coisa destas?“, questiona Guillermo Perez.
AF, ZAP
Comentário: em que mundo vivemos nós? Que espécie de seres são estes que não se respeitam uns aos outros? Somos todos imprevisíveis...
J. Carlos
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