O presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) considerou hoje que a detenção dos sete militares dos comandos para interrogatório judicial foi um "processo de julgamento em praça pública inédito em Portugal", questionando a atuação da procuradora.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) emitiu na quinta-feira mandados de detenção a sete militares, cinco oficiais e dois sargentos, no âmbito do inquérito às circunstâncias do treino que levaram à morte de dois alunos no 127.º curso de Comandos.
Ontem, em comunicado enviado às redações, o presidente da AOFA, o tenente-coronel António Mota, criticou estas detenções que fizeram “estrondo na comunicação social”, questionando “se havia necessidade da senhora procuradora, em colaboração com a Polícia Judiciária Militar ter montado uma operação de caça ao homem” dos sete militares “como se perigosos e foragidos criminosos se tratassem”.
“A resposta a esta questão tem que ser dada por quem tem responsabilidades políticas na área da defesa, pois os militares que foram detidos, foram-no no âmbito das suas funções e no pleno exercício da mesma, num processo de julgamento em praça pública inédito em Portugal e cujo alcance na credibilidade dos militares e das Forças Armadas ainda está por apurar. A quem interessa esta situação”, questiona.
A AOFA “continua a defender que o que se passou deve ser averiguado até às últimas consequências, a fim de que se apurem todas as responsabilidades”, mas “espera que tal aconteça num clima de total entendimento do que é a realidade militar e sem quaisquer preconceitos”.
O tenente-coronel António Mota considerou ainda que “não era necessário deter quem não deu qualquer sinal de se tentar subtrair ao apuramento de responsabilidades”.
“A segunda pergunta que se coloca, face à afirmação de ‘ódio patológico’ experimentado pelos instrutores em relação aos instruendos, é onde ou a quem foi a senhora procuradora colher tão categórica qualificação incluída no despacho de pronúncia? Aos instruendos que permaneceram no curso? Ou aos que dele se retiraram por vontade própria ou foram eliminados”, questionou.
A associação “lamenta profundamente a morte de dois camaradas de instrução” e está solidária com a dor das famílias e amigos, “mas não pode deixar de estar preocupada com a aparente intoxicação da opinião pública, que em tudo prejudica o apuramento da verdade e o bom nome das Forças Armadas e dos militares”.
O médico Miguel Onofre da Maia Domingues, indiciado por dois crimes de homicídio negligente, foi sujeito sexta-feira à medida de coação de suspensão de funções no Regimento de Comandos e em outras unidades de saúde militares.
O capitão-médico, responsável por zelar pela saúde dos instruendos do 127.º curso de comandos, durante o qual morreram os militares Hugo Abreu e Dylan Silva, foi o único dos sete arguidos detidos quinta-feira sujeito a uma medida de coação diversa do Termo de Identidade e Residência, refere, em comunicado enviado à agência Lusa, o Tribunal de Instrução Criminal da Instância Central de Lisboa.
Dois militares morreram na sequência do treino do 127.º Curso de Comandos na região de Alcochete, no distrito de Setúbal, que decorreu no dia 04 de setembro, e vários outros receberam assistência hospitalar.
Lusa / Sapo
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