domingo, 27 de novembro de 2016

Dívidas em atraso voltam a aumentar como em 2012

Execução até outubro diz que receita continua a ser o motor da descida do défice: aumentou 1,7%. Despesa subiu 1,1%, mas ritmo é inferior ao previsto no OE 2016, cerca de 5,6%
Governo de António Costa e Mário Centeno está a atrasar pagamentos, mas consegue reduzir a dívida | EPA/ANTONIO COTRIM

O valor em dívidas atrasadas do setor público aos fornecedores (mais de 90 dias de atraso) aumentou 14% em outubro face a igual mês de 2015, para 1161 milhões de euros, a maior subida de que há registo. Esta série só começou a ser divulgada em setembro de 2011 (com dados a partir de junho desse ano) por iniciativa do anterior governo PSD-CDS. As variações homólogas só são possíveis de fazer de junho de 2012 em diante.
Mas, tal como no passado, são os hospitais EPE (entidades públicas empresariais) que explicam a dilatação do montante das dívidas que estão por pagar há mais de 90 dias, indica o Ministério das Finanças na síntese da execução orçamental até outubro, ontem divulgada.
Se esse passivo de 1,2 mil milhões de euros tivesse de ser regularizado, a despesa teria de aumentar na mesma proporção. Adiar pagamentos acaba, assim, por ser mais uma ajuda para os cofres do Estado, já que exige um menor esforço imediato à Tesouraria dos serviços públicos.
Mas há sinais bons. As Finanças também mostram que, apesar da demora nos pagamentos, há um esforço visível para não acumular mais dívida a fornecedores. Essa dívida não financeira (comercial, essencialmente) caiu de forma notória, tendo recuado 18% em outubro (homólogo) para 2227 milhões de euros.
No entanto, o atraso nos pagamentos volta a aparecer e a um ritmo acelerado. Em junho de 2011, estava Portugal no início do programa de ajustamento do PSD-CDS e da troika, o volume de pagamentos em atraso registava a sua última subida (5%). Na altura a situação dos fornecedores do Estado e outras entidades era bem mais frágil: o setor público estava a dever-lhe quase cinco mil milhões de euros.
O programa da troika contemplava especificamente este problema e o ministro das Finanças da altura, Vítor Gaspar, elaborou um plano: tirou os fundos de pensões dos bancos, transferindo-os para a Segurança Social, e parte da receita extraordinária foi para regularizar dívida do setor da Saúde, designadamente a dos hospitais às farmacêuticas (medicamentos, basicamente).
Desde então, e até agosto deste ano, o volume de dívidas atrasadas desceu de forma contínua e expressiva até atingir um mínimo de 921 milhões de euros em dezembro do ano passado. Desde aí que a tendência tem sido para aumentar.
As Finanças confirmam que "os pagamentos em atraso das entidades públicas situaram-se em 1161 milhões de euros no final de outubro, representando um aumento de 13 milhões de euros face ao mês anterior. Esta evolução é essencialmente explicada pelo aumento no SNS (50 milhões de euros), em parte compensado pela diminuição na administração local (menos 39 milhões de euros)".
Entre outubro de 2015 e igual mês deste ano, o setor que mais contribuiu para a subida volume dos atrasos foi justamente o dos hospitais EPE, com mais 69% (309 milhões de euros atrasados). Em contrapartida, a administração local conseguiu fazer uma redução de 32% (menos 82 milhões).
Retoma, um maná para o défice
Em todo o caso, o boletim ontem divulgado traz uma série de boas notícias para a execução do Orçamento deste ano. O défice público global apurado de janeiro a outubro deste ano caiu 357 milhões de euros face aos mesmos dez meses do ano 2015. "O défice até outubro melhora em sintonia com o crescimento económico", destacou o gabinete de Mário Centeno.
Até setembro, o défice total tinha recuado 292 milhões de euros, pelo que a marca de outubro é ainda mais favorável ao cumprimento do objetivo anual (janeiro a dezembro) de 5490 milhões de euros, na ótica da contabilidade pública (lógica dos pagamentos e recebimentos que efetivamente são realizados através dos cofres públicos).
A descida do défice "resulta do aumento de 1,7% da receita, superior ao crescimento de 1,1% da despesa. O quarto trimestre inicia-se com perspetivas positivas na frente orçamental, dando continuidade às boas notícias relativas ao crescimento económico do terceiro trimestre", frisa o governo.
A despesa só não sobe mais porque o governo tem retido ao máximo o investimento público, manteve um nível elevado de cativações e diz estar a cortar nas gorduras e nos consumos intermédios. Assim, o objetivo anual também ainda parece realista, pois o défice destes dez meses está abaixo do objetivo anual, coisa que não acontecia no ano passado, por esta altura.

Fonte: DN

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