Bom dia,
A primeira noite foi de contestação. Alguns milhares de americanos saíram às ruas levantando cartazes dizendo "Not my President" (houve, aliás, vários detidos). As manifestações aconteceram horas depois de Trump se ter declarado líder de todos os americanos - e de ter apagado a expulsão de muçulmanos da sua lista de promessas na página candidatura. E sabendo-se já que Hillary acabou com mais votos do que o adversário, reacendendo uma velha discussão sobre o sistema eleitoral.
A verdade é que, com a eleição de Trump, entrámos em território desconhecido. Aqui está o guia possível para não se perder nele:
- Em Nova Iorque, o Alexandre Martins escreveu como o vendaval Trump deixa mais perguntas que respostas - mesmo com a certeza de que varreu duas dinastias americanas, os Bush e os Clinton. Sendo certo que a tragédia de Hillary talvez seja o mais fácil de explicar nisto tudo (e nem as celebridades lhe valeram, pelo contrário, como acrescenta o Mário Lopes).
- Dos tímidos aos pessimistas, como votou a América? A Bárbara Reis olhou para todo o eleitorado, encontrou dezenas de pistas e concluiu que mais de 30 anos foram virados do avesso.
- Quem são os vencedores e vencidos desta eleição? As respostas estão dentro dos States e fora das suas fronteiras.
- E agora? Se precisar de um mapa para os pontos de interrogação (já viu a nossa capa de hoje?), aqui tem quem vai controlar Trump, com o seu poder imenso; uma boa explicação de como os seus planos incertos já agitam a economia mundial. Krugman até antecipa uma recessão global, sendo certo que a incerteza só começou agora.
- Como vão ser os primeiros 100 dias de Trump? A Maria João Guimarães tem respostas: a secar o pântano e a apagar Obama.
- E como é que reagiram os políticos portugueses? Entre as felicitações formais e os "ataques cardíacos" por trás das cortinas.
- E como é que podemos explicar isto às crianças? A resposta honesta é que não é fácil. A mais longa está aqui, com a ajuda de psicólogos e pediatras.
- Last, but not the least, assinale no calendário as eleições na Europa onde o populismo voltará a ir a votos. Alerta: são todas nos próximos 12 meses.
- Olhando para a Opinião, Teresa de Sousa diz que estamos na era da imprevisibilidade; Jorge Almeida Fernandes fala-nos do poder e do medo; Francisco Assis assume-se em choque; Nuno Pacheco conclui que, "sim, eles podem (mas não sabiam)"; Carlos Gaspar enuncia o "princípio da incerteza", ao passo que Álvaro Vasconcelos fala de "dois futuros" e Seixas da Costa de "outro mundo"; Ricardo Cabral cita Júlio César (o da Roma antiga), enquanto Ribeiro e Castro exclama a November Surprise; António Araújo conclui que o melhor era Bernie Sanders; João Miguel Tavares diz que o jornalismo foi do "fuck it!" ao "wtf"; o Miguel Esteves Cardoso teve o texto mais partilhado destas horas, falando de uma "lição amarga, mas justa". Hoje, depois de ter sido inundado de mensagem, MEC ainda escreveu sobre o "pesadelo de acordar". A todos eles, devo um abraço grande e um obrigado. Aos jornalistas do PÚBLICO devo mais do que isso: fizeram nestas horas um trabalho ímpar.
Outras notícias do dia
Pedro Dias, o ex-fugitivo, deu uma entrevista ao Diário de Coimbra, onde lança suspeitas sobre a GNR e garante ter provas de que há "equívocos" nesta história. O Correio da Manhã diz que o suspeito recusou dar amostras do seu ADN ("um direito", diz a sua advogada, assim como será um direito - questionável - a sua opção pela rendição em directo). Facto é que a PJ vigiava há uma semana a casa onde ele se entregou em Arouca, que é a escola de uma professora, detida por alegadamente o ajudar a esconder-se. Naquele local, anote, Pedro é visto como um... gentleman.
António Domingues, o silencioso, foi chamado a Belém - com Marcelo a medir o que fará o presidente da Caixa, agora que o TC o intimou a entregar as declarações de património. Uma nota adicional: o Jornal de Negóciosacrescenta esta manhã que Marcelo quer que Domingues assegure a recapitalização da CGD antes de responder ao tribunal (o que, cá para nós, parece indiciar que Marcelo já sabe como a novela vai acabar).
Quem saiu do silêncio foi Rui Rio: numa entrevista ao DN, Rio diz que sim, que poderá ser candidato ao PSD se Passos não se afirmar... até 2018. Mas também fala da CGD (para criticar o Governo) e da "situação de pré-falência que o capitalismo está a viver" (sic).
No BCP, a Sonangol e a Fosun estão alinhadas numa estratégia: manter o equilíbrio de poder no banco. Já as contas, estão a negativo.
Menos alinhados estão Centeno e a Comissão: se Bruxelas revê em baixa o crescimento e estima que o défice deste ano vai ficar nos 2,7%, o Terreiro do Paço diz que não percebe porquê. A notícia teria sido bem audível, se não estivéssemos num dia Trump, até porque estamos a dias da avaliação sobre o Orçamento de 2017. Mas, é verdade, teriam também sido mais visíveis as boas notícias do emprego e exportações. Costa, o optimista, diz que é tudo positivo.
O que não é boa nem má notícia é este número: temos ainda 300 mil jovens "nem-nem", que não estudam nem trabalham. Por um lado, o número está a descer, por outro, é a ritmo lento.
Hoje acontece
Os acordos PS/BE/PCP/Verdes fazem um ano. A agenda diz-nos que não há comemorações, mas o PÚBLICO deixou aos partidos um lembrete da agenda perdida.
Os EUA vão ao mercado, numa emissão de dívida um pouco mais arriscada do que o habitual: ontem, no primeiro dia da era Trump, a yields da dívida a 10 anos dispararam (ao contrário do Dow Jones, que acabou estável).
Termina a Web Summit, ontem marcada pelas reacções à eleição de Trump. Quem tem presença marcada é, claro, o Presidente Marcelo.
Só mais um minuto
O próximo Tarantino vem dos media digitais como o Buzzfeed. É o que diz o produtor de Pulp Fiction à Joana Amaral Cardoso. Se gostar de séries e de televisão, tem mesmo de ler.
Quem anda a ver filmes a mais é o ministro do Ambiente: disse que a culpa da enchente de terça-feira no Metro foi de... Mark Zuckerberg. Mas enganou-se na referência ao Facebook.
Se Trump vai ser um filme, Lisboa respondeu com um cartaz. Na despedida da Web Summit, os congressistas vão poder vê-lo bem.
Por hoje despeço-me, com um sorriso de orelha a orelha - a melhor maneira de entrar em território desconhecido. O que é bem conhecido é este sítio, onde a toda a hora o vamos mantendo informado sobre o que se passa em Portugal e no mundo. Passe por nós, aqui não há muros que nos separem.
Até já!
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