segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Crise em Itália: aperte o cinto de segurança (& as últimas do Novo Banco)

Enquanto dormia
David Dinis, Director do Público
Bom dia!
Renzi perdeu e Itália mergulhou numa crise política. As sondagens acertaram em cheio, desta vez, e o primeiro-ministro italiano teve uma derrota clara no referendo de ontem. As consequências políticas vieram rápido: Renzi anunciou que vai pedir a demissão ao Presidente e a oposição à direita pediu eleições antecipadas. Como explica a Sofia Lorena, não é certo que o Presidente italiano o faça - como aconteceu há uns anos, ele pode optar por um Governo de transição.
Os mercados financeiros reagiram com nervosismo logo nos minutos seguintes à demissão de Renzi. E esta manhã a tendência confirmou-se: bolsas em queda, juros a subir, euro a descer (está já tudo aqui, no nosso minuto a minuto). Porque voltaram os dias agitados, sobretudo por causa da fragilidade da banca italiana, deixo-lhe este guia para saber para onde olhar e como interpretar os dados de que vamos ouvir falar (mais à frente já voltamos a falar do tema).
Wolfgang Schauble voltou a avisar a Gréciaou aplica as reformas, ou sai da zona euro. E deixou claro que não aceitará uma reestruturação da dívida do país. Hoje há reunião do Eurogrupo, precisamente com o terceiro resgate grego em cima da mesa. 
Manuel Valls marcou uma hora para o anúncio da sua candidatura ao Eliseu. É ao final da tarde de hoje que o primeiro-ministro dá o pontapé de saída na campanha.
Na Áustria, um breve momento de alívio. O candidato da extrema-direita perdeu as eleições presidenciais e o centro vai manter-se no poder. O perigo pode voltar já nas legislativas, mas agora é tempo de celebrar os valores, como diz o Rui Tavares. 

A notícia do dia

O Novo Banco será vendido até ao Natal, a americanos ou chineses. O Banco de Portugal aproveitou o ruído em volta da CGD e acelerou os contactos com os interessados. E quer entregar este mês um vencedor ao Governo. O China Minsheng e o Lone Star são quem tem as melhores propostas, mas com soluções diferentes - e sempre levando o Estado a perder 90% do dinheiro injectado no banco. O que falta saber, também, é o que fará António Costa com a escolha que for feita: vende ou cede aos partidos à esquerda? A notícia que faz manchete no PÚBLICO de hoje é da Cristina Ferreira. 

Outras notícias a ter em conta

O caso da Caixa ainda não acabou. Depois da notícia de que Paulo Macedo vai ter uma subida de ordenado, ganhando o mesmo que António Domingues, o Presidente da República falou ao PÚBLICO para dizer que mantém a sua posição e que ainda prefere salários mais baixos no banco público (mesmo que já tenha desabafado que "o segundo vinho é o melhor", no relato do Expresso esta manhã. Esta manhã, o PS responde no Negócios com a mesma garantia que o Governo já tinha dado: o salário não mexe
Para já, Paulo Macedo nada diz - e ainda não tem equipa formada. Mas, aqui no PÚBLICO, recebe um conselho do economista Ricardo Cabral: o melhor é começar do zero, até mesmo no plano de recapitalização.

O número de greves caiu para metade em 5 anos. Os dados consultados pela Raquel Martins mostram que houve menos 83% de trabalhadores em protesto, com os transportes a manterem-se como o sector mais conturbado e os salários a ser o principal motivo.
A luta continua e a dívida é a próxima batalha. Do congresso comunista deste fim-de-semana sobrou um caderno de encargos para os tempos mais próximos - com salário mínimo e a dívida no topo da lista. Mas sobretudo a prova de que "o cimento do poder chegou ao PCP", como anota a São José Almeida. Quando até os comunistas europeus já olham para a "geringonça" com "interesse", a conclusão que se tira é que, "se a luta continua, ela é pacífica"(aqui, no Editorial).
Marques Mendes diz que o PSD corre risco de "humilhação". Nas autárquicas de Lisboa, sobretudo depois do "não" de Santana Lopes. E a culpa é de Passos, diz o ex-líder do partido e comentador da SIC.
O Porto celebra 20 anos de património histórico - e o autarca que deu o título à cidade pede "mais atenção às pessoas". Rui Moreira, o presidente da Câmara, escreve sobre o assunto aqui no PÚBLICO, aproveitando para dar uma palavra sobre o turismo que invadiu a cidade: é bom, mas "nem tudo está bem".
A desigualdade racial em Portugal motiva uma queixa à ONU. Vinte e duas associações de afro-descendentes criticam o Estado por não reconhecer necessidade de políticas específicas para estas comunidades. O retrato da desigualdade racial é assustador, da educação e habitação à criminalidade.
A ministra defende a legalização de imigrantes, ainda que não tenham visto de Schengen. A posição da responsável pela Administração Interna está no DN.
As dádivas ao Banco Alimentar diminuíram. Este fim-de-semana, e face ao ano passado, foram recolhidas menos 140 toneladas de alimentos.

Leituras a não perder

Voltando a Itália e à agitação europeia, quero deixar-lhe um guia de leitura, para perceber melhor o que está em causa: Mattarella é o Presidente com a chave da estabilidade política, perfil traçado pela Sofia Lorena; A Itália a meio da ponte - sobretudo a banca, vista por um analista do Banco Carregosa; "A Europa na era da incertezas", uma análise densa e imprescindível do Jorge Almeida Fernandes; e o texto da Teresa de Sousa, com este título: "A Europa ou se salva unida, ou não se salva". Com isto, garanto-lhe, perceberá melhor a minha apreensão desta manhã.
Seguimos em frente, agora, para outras leituras?
O jornalista numa batalha com o stress pós-traumático. "Pensei que me podia distanciar das histórias sobre as quais escrevia. O atentado na discoteca de Bali, na Indonésia, a morte dos meus colegas iraquianos, cujos caixões carreguei ao ombro no funeral em 2007, a devastação do tsunami". As palavras foram escritas por Dean Yates, jornalista da Reuters, mas ele não conseguiu esquecer nada.
Morreu Ferreira Gullar, mestre de poemas que só nasciam do espanto. Nome maior da literatura brasileira, poeta, escritor e ensaísta, arrojado experimentalista da língua e corajoso lutador contra a ditadura, Gullar partiu aos 86 anos. A Isabel Coutinho antecipou a saída de férias para nos recordar as suas palavras
A propósito de jornalistas e grandes autores, a Isabel Lucas voltou à América pelos livros. Vai um aperitivo?
"E agora? É a grande pergunta da diáspora americana. Casa de estrangeiros construída extraterritório, a América continua a ser abrigo precário para muita gente que carrega uma identidade baseada na diferença. A linguagem distingue-os e remete para um passado de onde surgem fantasmas recorrentes"Aqui está a porta de entrada para a reportagem, que passa por Miami, Boston, New Jersey e Cincinnati.

Hoje acontece

Há Eurogrupo, discutindo a Grécia e os orçamentos da zona euro.
Mas sobretudo haverá muita agitação nos mercados, face aos resultados em Itália da noite passada. Aqui fica o link para o nosso ao minuto.

Só um minuto, para espreitar isto

Esta é a polémica do momento: Bertolucci não contou a Maria Schneider a cena de violação em O Último Tango em Paris. “Não queria que a Maria interpretasse a sua humilhação e raiva, queria que a Maria sentisse a raiva e a humilhação". As declarações do realizador são de 2013, mas só agora foram divulgadas.
Este é o prato do momento (melhor dizendo, os pratos, porque fomos pedir aos chefs distinguidos com a estrela Michelin para escolherem os que melhor sintetizam a sua forma de trabalhar.
E este é o português do momento: Frederico Morais garantiu presença no mundial de surf em 2017. É o segundo surfista português a integrar a elite, depois de Tiago Pires, entre 2008 e 2014.
Até já!

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