Num concurso que agora decorre, para fornecimento de derivados do plasma ao Serviço Nacional de Saúde, o milionário negócio da multinacional suíça em Portugal - que motivou as detenções de Luís Cunha Ribeiro e Lalanda e Castro, por suspeitas de corrupção - tem concorrência a sério
José Carlos Carvalho |
A
espanhola
Grifols e a italiana Kedrion são as multinacionais farmacêuticas
pré-qualificadas num concurso que agora decorre para fornecimento de
derivados do plasma ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) - soube a
VISÃO de fontes fidedignas -, concorrendo com a suíça Octapharma,
também pré-selecionada e que domina o mercado português desde os
anos 1980.
É
por ora um enigma o motivo pelo qual um concurso deste género só
agora arrancou, quando estes procedimentos podiam decorrer há uma
década - e, como vai pela primeira vez acontecer, com plasma de
dadores portugueses, que até aqui ia para o lixo. O argumento mais
recente, explicam especialistas, era o de que o método de inativação
viral patenteado pela Octapharma (tecnicamente designado "solvente
detergente") também eliminava o prião causador da
encefalopatia espongiforme bovina (vulgarmente conhecida como "doença
das vacas loucas"), que nos humanos provoca a chamada nova
variante da doença de Creutzfeldt-Jakob.
Mas
o último caso humano português dessa doença é já de 2007, o que
torna ainda mais questionável a longa ausência de concursos como o
que agora decorre, e a "presença muito estranha" da
Octapharma nos hospitais portugueses, como a define um responsável
do Ministério da Saúde.
Esse
domínio levou agora às detenções de Luís Cunha Ribeiro - membro
influente de um júri que em 2000 fez uma adjudicação provisória à
Octapharma que se tornou permanente até à atualidade - e de Lalanda
e Castro, este quando se encontrava numa reunião da multinacional
suíça em Heidelberg, na Alemanha, e que de seguida se demitiu de
administrador da empresa.
Ex-presidente
do INEM e da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do
Tejo, Cunha Ribeiro (detido esta terça-feira, 13) e Lalanda e Castro
(detido no dia seguinte pela polícia alemã em articulação com a
PJ, aguardando a extradição para o nosso país, após decisão
judicial) conluiaram-se, desconfia o Ministério Público, num
esquema de corrupção que causou um prejuízo superior a 100 milhões
de euros ao Estado português. Lalanda e Castro, aliás, vai
acumulando suspeitas: ex-patrão de José Sócrates, é arguido no
processo que envolve o antigo primeiro-ministro e está também
acusado e pronunciado para julgamento no caso dos vistos gold,
por tráfico de influência, num negócio de uma empresa sua que
conduziu à vinda para Portugal de feridos da guerra civil líbia,
para tratamento hospitalar.
A
partir de agora, tudo será diferente quanto ao fornecimento ao SNS
de derivados do plasma, como, por exemplo, o Fator VIII, para
hemofílicos, ou a imunoglobulina, para doentes autoimunes. Logo para
começar, o plasma será de dadores portugueses - o Instituto
Português do Sangue e da Transplantação (IPST) tem congelados para
o concurso que agora decorre 30 mil litros. É uma quantidade que
corresponde a 120 mil unidades de plasma, inativado por um método do
IPST que "parte" o ADN viral, eliminando assim o agente
infeccioso. Só por aqui, o processo fica substancialmente mais
barato.
Depois,
as farmacêuticas concorrentes vão ter à disposição plasma
seguro, proveniente de dádivas voluntárias e não remuneradas, como
impõem a lei portuguesa e diretivas do Conselho da Europa, pela
questão ética de "não associar o mercantilismo ao corpo e
partes do corpo humano".
Ao
contrário, os derivados de plasma que são fornecidos ao SNS pela
Octapharma provêm de dadores estrangeiros remunerados. E os produtos
são caros. Através de ajustes diretos, apurou a VISÃO, a
multinacional suíça chegou a cobrar a hospitais portugueses 120
euros por unidade de plasma, aqui para transfusões, sem extração
industrial de derivados. Já o IPST fornece a mesma unidade,
inativada pelo seu método, por €61,60.
Mesmo
assim, em 2015, apenas 15 hospitais usaram o plasma do IPST para
transfusões (1 600 unidades), enquanto 24 estabelecimentos
hospitalares preferiram, para o efeito, o produto da Octapharma (15
500 unidades). Houve uma só vantagem: o plasma do IPST obrigou a
multinacional suíça a baixar os seus preços, por unidade, para
cerca de 90 euros.
Ver-se-á
como o júri do concurso tutelado pelos Serviços Partilhados do
Ministério da Saúde irá avaliar o comportamento da Octapharma. O
ministro Adalberto Campos Fernandes, esse, quer o processo decidido
no fim do primeiro semestre de 2017.
Jornalista
Fonte:visao
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Comentário: com o passar dos anos os dadores de sangue vão perdendo os incentivos que desde sempre existiram, à conta de explicações sem substancia, a não ser aquela que já é conhecida de todos: no poupar é que está o ganho. Contudo, não se vê resultados na tal poupança.
Como
dador de sangue, venho do tempo em que no Serviço de Sangue do
Hospital de S. José era oferecido um cálice de vinho do Porto, um
chocolate da marca Regina, após a dádiva era oferecido aos dadores
um cerveja preta, com uma boa sandes, e caso o dador fizesse questão
ainda podia levar ma senha para almoçar no refeitório do dito
Hospital.
As sandes desfazem-se nas mãos dos dadores, tanto o chão fica cheio de migalhas |
Com
o decorrer do tempo tudo aquilo foi retirado sob desculpas
esfarrapadas. Em tempos ainda eram colocadas umas latas de cerveja na
mesa, umas sandes de queijo, fiambre, chouriço com alguma qualidade,
umas garrafas de água pequenas.
Agora
as sandes ficam escondidas, as garrafas de água são litro e meio,
as sandes desfazem-se nas mãos dos dadores, tanto o chão fica cheio
de migalhas.
É
verdade que, os dadores podem por enquanto beneficiar da isenção da
taxas moderadoras nos ditos centros de saúde, e a partir do dia 30
de Março do ano ainda em curso foi reposta nos hospitais públicos,
à conta de tanta ‘luta’, com duas federações contra quem
ombreou a causa que todos dizem reconhecer, apesar de nem sempre se
tornar numa prática diária.
Por
vezes são entregues uns questionários aos dadores no decorrer da
sessão de colheitas no sentido de darem a conhecer a sua satisfação
constando diversas questões merecedoras de nota negativa, ou “não
satisfaz”, um procedimento que em nada altera seja o que for.
Ainda
no que respeita à isenção das taxas moderadoras nos famigerados
centros de saúde nem sempre é respeitado o que está estipulado na
Lei, existe sempre o recurso a um truque administrativo para sacar o
dinheiro aos dadores, sendo assim obrigados a pagar o que não devem,
acontecendo o mesmo no Centro Hospitalar do Baixo Vouga, Aveiro.
Aos
dadores não podem ser imputadas as responsabilidades por não ser
possível a leitura do Cartão Nacional do Dador de Sangue, uma vez
que não foi feita a instalação o equipamento. Quando pedimos
explicações, o que ouvimos é sempre do mesmo: a culpa não é de
ninguém.
Paulo
Macedo e Fernando Leal da Costa não nos deixaram saudades nenhumas.
Devem ser recompensados pelo que nos fizeram: esmagaram a pouca
dignidade que nos resta.
Por
fim somos da opinião que os ex-responsáveis das duas federações
de dadores, incluindo os actuais devem ser ouvidos em sede de
inquérito para esclarecer o que sabiam à uns anos a esta parte e no
presente, acreditamos que podem ser úteis neste processo do Plasma
sanguíneo humano.
Estamos
atentos ao evoluir do processo de investigação, dos seus
resultados, nunca esperando que seja empurrada a culpa para o
porteiro ou para o pessoal da limpeza.
O
aluguer dos autocarros da Transdev que transporta os funcionários
para os locais das colheitas também devem ser analisados num ponto
de vista de investigação.
J.
Carlos
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