quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

AS TEMPESTADES QUE TEMOS DE AGUENTAR

Hoje também há Expresso Curto, o servidor é um homem do Expresso, Ricardo Marques. Abertura com prosa romanceada, apetitosa. Versa a tempestade que aí vem para sul e que no norte de Portugal já está a fazer estragos.

Ler a abertura deste Curto deu para pensarmos que “hoje livramo-nos do Trump e de sua trupe”. Qual quê! Nem pó! Trupe de Trump vem logo a seguir. Outra tempestade.

Mais palavreado para quê? Vão diretos à cafeína. Está muito bem tirado, com espuma e tudo. Beberriquem com sorvos controlados. Só isso.

Bom dia e boa noite. Descansada, apesar das tempestades que temos de aguentar. É que entre mortos e feridos alguns de nós hão-de escapar. Já não é mau.

MM / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Ricardo Marques – Expresso

A culpa é do Jürgen

Hoje acordei cedo, fui até à praia e fiquei na areia a olhar para o mar com a ingenuidade de quem espera perceber o mundo. Não está famoso.

O vento levou a areia que falta ao fundo das escadas, como se nos escapasse o chão debaixo dos pés. As arribas, outrora sólidas como convicções, parecem frágeis montes de barro. O mar calmo dos dias quentes de agosto, que convida a entrar para um mergulho, está feito um pequeno monstro que tudo expulsa e empurra para fora. Imprevisível e imparável. Umaonda trás da outra, um golpe de cada vez, sem olhar a consequências, capazes de levar tudo à frente com estrondo. Rochas velhas de milénios e os molhes feitos pelo homem valem o mesmo: nada.

Quando olhamos para o horizonte, em direção ao outro lado do Atlântico, de onde virá o perigo, só vemos mais do mesmo. Céu cinzento, carregado de nuvens altas como águias e algumas a fazer lembrar penteados estranhos. Dá para ver que não está bom, mas ainda é cedo para saber até que ponto será mau. As gaivotas voam desvairadas por cima do areal sem saber para onde ir. Parou há pouco de chover e sopra um vento frio. O mundo não está famoso. O tempo também não. E vai piorar.

Ficarão os destroços.

Há um nome a reter: Jürgen. Fique a saber que um alemão, o tal Jürgen Karsten, pagou 199 euros para batizar esta baixa pressão que lá do alto nos vai cair mesmo em cima da cabeça (ainda há algumas tempestades à espera de nome no Instituto de Meteorologia de Berlim).

A Jürgen é uma depressão formada no Atlântico que viajou toda a noite a uma velocidade de 65km/h em direção à Península Ibérica. Se olhar pela janela neste momento poderá ter uma pequena ideia do que está para vir nas próximas horas: chuva intensa, vento forte (com rajadas de 80km/h no litoral e 100km/h nas terras altas).

A partir da tarde, e por algumas horas, haverá uma breve trégua em terra. Mas o mar estará apenas a acordar. Entre o meio-dia de hoje e as três da tarde de amanhã as ondas poderão atingir os 14 metros a norte do Cabo da Roca, vindas de Oeste e empurradas pelo vento que vai soprar da mesma direção – perpendicular à costa. A preia-mar é às seis da tarde, o pico da ondulação também e é provável que a maior parte das notícias sobre o mau tempo chegue por essa hora.

Prepare-se para um dia inteiro a ouvir falar da cor dos alertas e espreite aqui aqui algumas das zonas já proibidas.

Ontem à tarde conversei com Pedro Viterbo, Diretor do Departamento de Meteorologia e Geofísica do IPPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera, I.P). “É algo parecido com a situação que tivemos entre dezembro de 2013 e março de 2014, embora nessa altura tenha sido de uma forma persistente”, explicou o meteorologista referindo-se à tempestade Hercules (cujos estragos ultrapassaram os 20 milhões de euros).

O risco maior, acrescentou Pedro Viterbo, está nas arribas e na violência com que o mar as vai atingir. Portanto, mantenha-se longe da beira-mar, conduza com todo o cuidado e vá espreitando os avisos nas página do IPMA e da Proteção Civil.

Acima de tudo, não desespere. “A partir da tarde de domingo prevê-se uma melhoria significativa do estado do tempo”, prevê Pedro Viterbo.

E do estado do mundo?

OUTRAS NOTÍCIAS

Rex Tillerson, o ex-homem-forte da Exxon Mobil, é o novo Secretário de Estado dos Estados Unidos da América, o 69.º da história, mas a eleição no Senado foi a que contou com mais votos contra. Tillerson será o rosto da política externa de Washington, que já teve dias mais fáceis. A batalha seguinte do 45.º Presidente dos EUA será a confirmação do juiz Neil M. Gorsuch para o Supremo Tribunal. E a parada está alta, como escreve o New York Times.

É uma espécie de mau tempo político e há duas semanas que não se fala de outra coisa.

Esta manhã, a novidade vem da Austrália: parece que o primeiro-ministro Malcolm Turnbull discutiu a sério com o presidente dos EUA durante um telefonema no sábado. A história está esta manhã nos principais jornais.

O secretário-geral da ONU criticou as medidas anunciadas pela nova administração norte-americana que visam travar a entrada no país de cidadãos de sete países de maioria muçulmana. “Esta não é a melhor forma de proteger os Estados Unidos ou qualquer outro país em relação às sérias preocupações relativamente a possíveis infiltrações terroristas”, afirmou António Guterres.

Ontem à noite na televisão discutia-se a fotografia em que o novo inquilino da Casa Branca aparece de mão dada com Theresa May, a primeira-ministra britânica. Mil palavras já foram ditas sobre a imagem, mas se a conversa regressar durante o dia talvez seja útil ler mais esta explicação.

Sobre o homem que sucedeu a Obama, o conservador Ben Shapiro escreve na National Review que não há nenhum grande plano.

A propósito de Theresa May, o Parlamento britânico deu luz verde ao governo para iniciar o processo de saída da União Europeia. Do lado de lá da Mancha, há muita gente a fazer contas às contas que vão comandar a negociação entre Bruxelas e Londres.

Milhões e mais milhões. Ou millones, como se diz aqui ao lado. O El Mundo divulgou a lista das 200 pessoas mais ricas de Espanha. Para ver com toda a calma do mundo, sem pressa. Comece por Sandra Ortega Mera, cujas empresas investiram esta ano 50 milhões de euros na Península de Tróia e siga sem parar à descoberta dos cofres mais cheios da Península Ibérica.

Atravessando os Pirinéus, mas sem deixar de falar de dinheiro, a corrida ao Eliseu não está a ser fácil para François Fillon. Problema atrás de problema, como ondas em dia de mar revolto. Depois do alegado falso, e bem pago, emprego da mulher, o ex-primeiro-ministro e candidato da direita vê-se agora em problemas com um seu emprego, real e igualmente bem remunerado.

A eleição presidencial em França está marcada para abril. A líder da Frente Nacional, Marine Le Pen – que recusa devolver 300 mil euros ao Parlamento Europeu -, é a candidata mais bem colocada nas sondagens, a par de Fillon. Este artigo já tem uns meses, e é um pouco longo, mas ajuda a explicar um pouco a força crescente da extrema-direita europeia.

A chanceler Angela Merkel está de visita à Turquia e, como escrevem os jornais alemães, o clima entre os dois países não é o melhor.

Na Hungria, onde o partido Jobbik (extrema-direita e anti-semita) cresceu 5 % nas eleições do ano passado (de 16% para 21%), está o presidente russo Vladimir Putin, para discutir com o primeiro-ministro Viktor Orban o reforço da cooperação económica. A presença de Putin em Budapeste está a ser um verdadeiro teste aos nervos dos restantes países da União Europeia.

O Egipto, que derrotou ontem na meia-final o Burkina Faso treinado pelo português Paulo Duarte, é o primeiro finalista na Taça das Nações Africanas, que decorre no Gabão. Gana e Camarões disputam hoje a segunda meia-final.

(O Manchester United, de José Mourinho, empatou com o Hull City, de Marco Silva. Zero a zero. O Barcelona foi a Madrid ganhar 2-1 ao Atlético e o derby Porto-Sporting já mexe)

Em África está o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Manuel Heitor termina hoje uma visita de quatro dias à Nigéria. Além de uma reunião com o seu homólogo nigeriano, Ogbonnaya Onu, o ministro vai visitar a Agência Nacional de Investigação Espacial e Desenvolvimento e a Agência Nacional de Desenvolvimento em Biotecnologia.

Manuel Heitor não deverá estar no Conselho de Ministros, que começa dentro de pouco mais de uma hora.

Quem já está a trabalhar é a nova administração da Caixa Geral de Depósitos. Paulo Macedo e Rui Vilar aproveitaram o primeiro dia em funções para escrever aos funcionários. Querem a ajuda de todos para cumprir os objetivos traçados: capitalização, reestruturação e rentabilidade do banco público.

No Parlamento, depois da discussão de ontem sobre a eutanásia, hoje estará debate o acesso dos administradores judiciais ao registo informático das execuções, às bases de dados tributárias e da segurança social. E também as alteraçõespropostas pelo governo (e contestadas por todos) à lei sindical da PSP.

Sem acesso a medicamentos para tratar, por exemplo, infeções respiratórias e pneumonias, estão vários hospitais portugueses. O Infarmed já recomendou uma gestão cuidada dos stocks.

A terra tremeu ontem à noite, pelas 23h20, em Porto de Mós, Leiria. Sem estragos nem vítimas.

E nos Açores.houve uma espécie de antevisão do temporal que vamos ter hoje.

MANCHETES

Correio da Manhã: “Justiça aperta Sócrates com milhões da PT"
Diário de Notícias: “Gestores de falências vão ter acesso a todos os dados de devedores”
Jornal de Notícias: “Segurança Social culpada por mortes em lar ilegal”
Público: “Líder da UGT não garante nova subida do salário mínimo”
I: “Homens suicidam-se três vezes mais do que as mulheres”
Visão: “Ganhar dinheiro com as casas”
Sábado: “Mário Soares: A família desconhecida"

O QUE ANDO A LER

Um pouco de tudo, mas sem páginas nem papel. Apenas alguns artigos a partir dos quais vai nascendo uma história. A viagem pelas sugestões será breve, até porque o tempo, já vimos, não está para grandes passeios.

O roteiro é simples, tão simples como este mapa que mostra a Internet em 1973.

Damos um salto rápido ao fim do mundo, literalmente, para perceber como é que os mais ricos e poderosos dos nossos dias se preparam para o fim dos dias. Pode ser num silo à prova de tudo algures no meio do nada, ou à beira-mar na Nova Zelândia.

Voltamos a África para descobrir que o mundo acaba todos os dias. Doze milhões de pessoas com fome.

E acabamos onde tudo começou, à procura de esperança em 165 anos de anúncios de casamento publicados no New York Times.

“In good times and in bad…”

Tenha um bom dia de mau tempo.

Há Expresso Diário às seis, informação disponível a qualquer hora em Expresso.pt e amanhã cá estará o Nicolau Santos para servir o último Curto desta semana.

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