domingo, 9 de abril de 2017

Eu, Psicóloga: "Criança não namora, nem por brincadeira": campanha discute erotização precoce


Organizada pela Secretaria de Assistência Social do Amazonas, ação tem sido compartilhada por pais e mães na internet


A cena é corriqueira. Cedo ou tarde, os filhos voltam da escola anunciando um namorico com um coleguinha, menino ou menina. A reação dos pais oscila entre o susto e a surpresa. Nunca passa em branco. E nem pode.

A Secretaria de Assistência Social do Amazonas lançou, no último dia 5 de abril, uma campanha na internet contra a erotização precoce das crianças, com o slogan "Criança não namora, nem de brincadeira". A hashtag #criancanaonamora ganhou as redes sociais e faz parte de uma ação mais ampla do governo do Amazonas que pretende mobilizar escolas, comunidades, psicólogos e pais contra a exploração infantil.


#CRIANÇA NÃO NAMORA é uma campanha da Sociedade de Psicólogos e Conselhos Tutelares, com o objetivo de conscientizar pais e responsáveis sobre relacionamentos infantis. O nome da relação entre crianças se chama: Amizade.

Insistir em namoro na infância é adultilizar as crianças e incentivar a erotização precoce. Criança tem que ser criança. Infância precisa de proteção.

"Em dois dias, nossa caixa de e-mails lotou" conta Carolina Pinheiro, assessora de comunicação da Secretaria do Estado de Assistência Social. "Não pensamos que fôssemos ouvir tantas histórias diferentes. Muitos pais e professores realmente não sabem como agir em relação ao assunto, e precisam de um suporte", afirma Luiz Coderch, coordenador do Centro de Convivência da Família e do Idoso do Estado do Amazonas. "Esbarramos em um quadro mais complexo quando se fala em comportamento inadequado de crianças. No geral, elas apenas reproduzem o que veem em casa ou o que são incentivadas a fazer ou a dizer. Então, o problema é de toda a sociedade. O que ela vê, ela faz."

É preciso respeitar o desenvolvimento cognitivo de cada etapa da vida. Uma criança não sabe o que é um namoro, ela não tem esse discernimento. Para Luiz, é natural que meninos e meninas sintam algum tipo de repulsa em relação aos beijos entre adultos - sinal de que ainda não têm maturidade para compreender todas as nuances de um relacionamento com outras pessoas. Do ponto de visto psicológico e biológico, precisam amadurecer. "Um abraço no amiguinho, um beijo no rosto e demonstrações de afeto que ele recebe dos adultos em casa são seu instrumental afetivo. Beijar os pais na boca, por exemplo, especialmente entre os 4 e 7 anos, não é algo totalmente adequado. Nem pediatras recomendam."

Para Vera Zimmermann, psicanalista do Centro de Referência da Infância e Adolescência da Unifesp (SP), o machismo ocupa papel central nessa história. Em idade escolar, meninos são incentivados a terem uma "namoradinha", e meninas são ensinadas a se comportar. Essa é a regra geral. "Os pais interpretam o interesse pelo outro, as preferências por tais e tais amigos, as primeiras escolhas infantis, como algo erótico, quase genital. Não se trata disso. A criança só está aprendendo a fazer amigos e a se relacionar. Não são namoradas ou namorados. Essa é uma projeção dos adultos."

Professores e escolas também precisam estar atentos. A conversa precisa de uma correção de rota, caso o papo de namoro surja muito cedo. Criança tem de brincar. A brincadeira infantil é um exercício de comportamento; ao pular o aprendizado, a criança apenas reproduz comportamentos, sem compreendê-los. A hora de namorar vai chegar. "Os adultos é que precisam ser reeducados a entender o universo infantil. A criança não discrimina sentimentos de aproximação e amizade. Antecipar essas sensações só causam angústia à criança. É preciso reconduzi-la ao mundo infantil", crê Vera.

Afinal, quando é hora?


Vera acredita que, dos 9 aos 12 anos, com o início da adolescência, a curiosidade deve aumentar. Os pais precisam direcionar a energia das crianças para o conhecimento, para os esportes, os estudos, e aguardar a maturidade completa para a entrada na puberdade. Não é preciso estimulá-la nessa direção. Dar tempo ao tempo é a melhor resposta.


Fonte: Revista Crescer

Debora Oliveira

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