A GNR diz que a estrada EN-236-1, onde várias pessoas morreram por causa do fogo, foi atingida de "forma totalmente inesperada, inusitada e assustadoramente repentina, surpreendendo todos". O IPMA também já respondeu ao Governo. Em carta enviada ao primeiro-ministro, o presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera afirma que a "dinâmica" gerada pela conjugação entre incêndio e instabilidade climatérica, no sábado, em Pedrógão Grande, gerou no terreno condições excecionais para a propagação das chamas.
O primeiro-ministro exigiu respostas ao que aconteceu em Pedrógão Grande, e as respostas são agora conhecidas.
Em relação ao não encerramento da estrada EN 236-1, o Coronel José Luís Lopes Pereira, da GNR, escreve que "não havia qualquer indicador ou informação que apontasse para a existência de um risco potencial ou efetivo em seguir" por essa estrada "em qualquer dos sentidos".
A GNR diz que "considerando a aproximação do fumo e fogo, cortaram a circulação no IC 8, cerca das 18h50. Passado algum tempo, tornando-se insustentável, pela evolução do incêndio, permanecer no mesmo local, a força da GNR foi forçada a recuar para a zona de confluência do referido IC com a EN 236-1, mantendo-se, no entanto, no IC8, garantindo o corte do itinerário no sentido Oeste - Este."
A guarda admite depois que "o trânsito proveniente de Oeste passou a ser encaminhado para a passagem superior, existindo ali três opções para os automobilistas: retroceder pelo mesmo IC em direção a Oeste; tomar a EN 236-1 em direção a Figueiró dos vinhos; ou a EN 236-1 em direção a Castanheira de Pera". Ou seja, a estrada onde morreram várias pessoas nunca foi encerrada.
No documento enviado ao primeiro-ministro, a GNR alega no entanto que "o acesso à EN 236-1 se faz a partir de múltiplos locais, muitos deles provenientes de pequenas localidades e propriedades existentes nas proximidades e não apenas a partir do IC 8".
No comunicado lê-se ainda que "apesar das dificuldades nas comunicações, a Guarda manteve em toda a área o socorro e apoio às populações, tendo em conta os múltiplos focos de incêndio e as povoações e casa em risco".
Acrescenta a Guarda Nacional Republicana que "durante o período em análise (...) a zona foi alvo de condições meteorológicas verdadeiramente anómalas e adversas, com trovoadas secas e ventos intensos, que provocaram múltiplos focos de incêndio e propagações galopantes e imprevisíveis".
Termina o Coronel José Pereira a afirmar, na carta, que "foi no contexto deste fenómeno invulgar que terão ocorrido os fatídicos acontecimentos da EN 236-1, uma vez que o fogo terá atingido esta estrada de forma totalmente inesperada, inusitada e assustadoramente repentina, surpreendendo todos, desde as vítimas aos agentes de proteção civil, nos quais se incluem os militares da Guarda destacados para o local".
IPMA fala em condições excecionais para a propagação das chamas
Também hoje foi conhecida ao pormenor a resposta do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Em carta assinada pelo presidente, Jorge Miguel Miranda, o IPMA diz que existiram "condições excecionais que determinaram situações no terreno de excecional gravidade".
Quais? O presidente do IPMA afirma que essas situações execionais foram "o resultado da conjungação da dinâmica do próprio incêndio e dos efeitos da instabilidade atmosférica, gerando ´downburst`, ou seja, vento de grande intensidade que se move verticalmente em direção ao solo, que após atingir o solo sopra de forma radial em todas as direções".
Diz este responsável que este fenómeno "é por vezes confundido com um tornado e tem um grande impacto em caso de incêndio florestal por espalhar fragmentos em direções muito diversas".
No documento lê-se ainda que "o sistema de previsão meteorológico para as condições de superfície funcionou de forma correta, dentro das margens de erro expectáveis, definindo o quadro sinóptico de tempo muito quente, com temperaturas máximas muito elevadas, próximas dos 40º".
De acordo com o IPMA, "os níveis de avisos emitidos estavam de acordo com as regras fixadas entre o IPMA e a ANPC (Autoridade Nacional de Proteção Civil).
A carta enviada ao primeiro-ministro termina com a informação de que "esta situação tão complexa e excecional está a ser objeto de um estudo aprofundado" que será enviado ao Governo quando estiver terminado.
Fonte: RTP Notícias
Foto: Reuters
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