segunda-feira, 14 de agosto de 2017

As coincidências da Altice


Os tempos não têm sido meigos para a Altice em Portugal. O grupo francês é, aliás, quase um "case study", de um grande investidor estrangeiro que chega a um mercado e não cessa de levar pancada.
Tiago Freire
Tiago Freire 13 de agosto de 2017 às 23:00
De início foi a desconfiança aquando da compra da PT Portugal. A Altice era mercenária, ia cortar a eito em fornecedores e trabalhadores, etc. O tempo acabou por confirmar parte dessas preocupações, embora muita gente parecesse ter-se esquecido de que, antes da Altice, a PT estava num pântano estratégico e não só.

Este ano, os problemas aceleraram. Foi a perda da liderança da Meo para a Nos, na quota de mercado de pacotes de serviços. E intensificou-se o ruído quanto à sua gestão de recursos humanos. Depois tivemos Pedrógão, tivemos António Costa a exceder-se completamente nos comentários públicos e no ataque à empresa, algo que repetiu neste fim de semana. E tivemos Paulo Neves, até aqui CEO, a deixar claro no Parlamento que o corte de pessoal é para continuar. 

No final da semana passada, mais três episódios: os sindicatos a darem conta de nova ofensiva da PT sobre 400 funcionários; os problemas de comunicações com o multibanco, com a SIBS a não ter qualquer pejo em responsabilizar a Altice pelo sucedido; e a denúncia de uma "promoção" de Verão que na verdade é um esquema para sacar dinheiro aos clientes, se estes não cancelarem a tempo a "benesse" em forma de gigas de internet. Pelo meio tivemos a OPA sobre a Media Capital, cuja gestão fez questão de dizer publicamente, com alguma candura, que o negócio irá criar postos de trabalho. Esperemos que sim.


Não vejo aqui qualquer tipo de xenofobia financeira, como existe, por exemplo, em relação aos investimentos angolanos e até chineses, embora menos. Então como explicar este fogo cerrado, esta sucessão de episódios cinzentos que tem afectado um investidor que nem sequer está por cá assim há tanto tempo? 

Há alguma má vontade, eventualmente, sobretudo por mexer numa empresa que foi uma das mesas do banquete do bloco central e da elite portuguesa. Mas serão todos estes acontecimentos apenas coincidências, ou parte de uma campanha concertada para atacar a Altice e a PT? A empresa gostaria de pensar que sim, mas estaria a enganar-se a si própria. 

Tudo isto é reflexo de uma forma de estar na vida e nos negócios. Em que os fins (a rentabilidade) justificam os meios (ver exemplos acima). Mesmo que se actue dentro, mas no limite, da legalidade.

Pelo que vimos até aqui, a Altice não está de todo preocupada com a sua reputação, e sim com o seu "bottom line". Veremos se este resiste a tanto desprezo pela sua imagem. 

Fonte: Jornal de Negócios

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