Os que amam o torrão gandarês onde nasceram estão gratos a Idalécio Cação, pela tarde do dia 13 de agosto, domingo, em que ele nos fez viajar por Sítios Nossos Conhecidos, principiando pela visita ao local, de Moinhos da Gândara, onde o escritor cria Raízes na Areia e, onde o amigo de infância, Mário Cardoso, numa encenação sobre a sua infância, pescou com ele rouvacos numa vala e apanhou míscaros no meio de pinhais.
Num salto à Sede da Junta de Freguesia, o Vereador da Cultura da Figueira da Foz, Dr. António Tavares, o Presidente da Junta, Paulo Rodrigues e os três filhos do escritor descerraram lápides da inauguração da Biblioteca, do Largo Idalécio Cação e do Memorial em nome do escritor de Daqui Ouve-se o Mar. Seguiram-se os discurso da entidades presentes e houve ainda tempo para ouvir o Grupo EmCantos, originário desta freguesia.
Seguiu-se o momento alto das cerimónias nas palavras de António Tavares, com a vivita à Biblioteca, duas músicas tocadas pela cítara de Manuel Ribeiro e a apresentação de O Cerco, por António Canteiro, que se refere a este livro póstumo de Idalécio Cação como a síntese, o resumo, a súmula de toda a sua riquíssima bibliografia, num momento em que o seu autor atinge o pleno, o limite das suas faculdades. Esta obra, pela sua temática, contexto de escrita e também por aquilo que condensa em pensamento, será comparável a obra de Carlos de Oliveira — que escreveu pouco mais de uma dezena de livros — e que, se os quisermos ler todos, comprimidos num só, bastar-nos-ia o romance “Finisterra”, o último que escreveu. Assim acontece com O CERCO, livro que reúne e funde a temática idaleciana, não só em termos de matéria lexical, como da orquestração fónica, de tudo o que até aqui escrevera. Esta temática é vertida em pensamento — em sentido lato — é aquilo que encontramos aqui, nesta Biblioteca, pois foi a partir dela, de todos os seus livros, jornais, revistas e folhetos, que o escritor formou e aperfeiçoou o seu itinerário cogitativo pela literatura, estampando-a no breviário que hoje apresentamos.
Uma referência à badana do livro, da autoria de Joaquim Correia, com alusão à mestria com que, enquanto jovem agricultor de enxada, muitas vezes baldeou, das profundezas da terra para a luz do sol, as sublimes areias da Gândara e, ainda, para a soberba imagem da capa, com o vento, este um pouco mais forte, que, ainda de acordo com António Canteiro, proveio da urdidura artística de Celestino Alves André, uma ventania daquelas que acompanha a passagem das viaturas numa autoestrada, que arrastam atrás de si ramagens dos pinheiros, que as dobram e, na curva de estrada, as casas foram recostadas, afastadas para o lado, para um recanto, encolhidas, como se o demónio de uma serpente gigante, que veio por ali desenfiada, e se intrometesse pelas aldeias adentro, cortando cerce a amizade ancestral entre vizinhos, mais parecia uma lança em áfrica, ou a muralha da China (primeiro título deste romance), cercando as suas gentes lá dentro.
Por fim, rumámos todos ao Parque da Tapada, para uma sardinha a pingar na broa, acompanhada de vinho tinto, como tanto apreciava em vida o escritor.
Poeta: António Canteiro
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