Não é fácil libertar-se de ressentimentos que crescem a ponto de quase ganhar vida própria. Mas o alívio e a leveza que você vai sentir valem a pena. Abaixo, explicamos como os ressentimentos te prejudicam, e dão um passo a passo para deixar os rancores para trás.
O parceiro infiel, o pai ou mãe que não eram atenciosos, o ex melhor amigo que te rejeitou. O bully do trabalho, o criminoso, até você mesmo, quando era jovem. A mágoa é real. E agora? Depois de uma infidelidade, o ímpeto de se proteger da dor é normal. Reconhecemos que fomos magoados e estamos impotentes e vulneráveis. Não gostamos dessa vulnerabilidade, e tudo bem – isso faz parte da natureza adaptável do ser humano.
Guardar um ressentimento pode ser uma “moeda de troca” que um dos parceiros pode usar a qualquer momento no relacionamento. “Não venha reclamar de mim – lembra daquela vez...?” Mas manter o parceiro à distância por causa de uma desconfiança impede que o relacionamento se aprofunde, mesmo quando um parceiro se desculpa e muda o comportamento. Às vezes a desculpa nunca vem, é claro. Neste caso, é como uma “cicatriz” se formasse.
Ressentimentos podem ser corrosivos para nossa saúde física e mental. Ficar preso num estado de raiva faz com que o corpo opere no modo luta ou fuga. Hormônios liberados no sangue podem aumentar a pressão arterial e a frequência cardíaca. E o estado mental negativo e desconfiado pode afetar outros relacionamentos.
Os passos para deixar para lá
Ressentimentos levam tempo para crescer, e livrar-se deles é um processo. Você pode seguir esses passos por conta própria ou com a ajuda de um psicólogo:
1. Reconheça a mágoa. Você foi injustiçado, e isso é real. Descrever o que aconteceu e como você se sentiu é um começo – seja escrevendo um diário ou uma carta que você nunca vai enviar para a pessoa que te magoou. Contar essas verdades pode ser um processo incrivelmente poderoso, quando você coloca os responsáveis numa cadeira imaginária e expressa sua raiva,
2. Perdoe. Perdoar alguém que te magoou é um presente que você dá para si mesmo. Isso não significa que você tem de esquecer a ofensa. Não se trata de fazer a outra pessoa agir de forma diferente. Pode ser até mesmo perdoar-se a si mesmo por algo que você tenha feito.
3. Entenda que perdoar não significa concordar. Aceitação não significa concordância. As pessoas podem ter um bom senso de justiça e equidade e, apesar de entenderem logicamente – que é importante deixar para lá; que não se pode controlar tudo --, elas temem que, abandonando a briga, o culpado vai achar que saiu vitorioso, ou que a vítima concorda com o que foi feito. O que a aceitação realmente significa, é: “Não posso voltar no tempo e criar uma nova versão do passado”.
4. Pergunte a si mesmo: por quê? As pessoas percebem que o ressentimento é um problema quando sentem que não conseguem evoluir. A mágoa começa a parecer coisa antiga, que não importa mais tanto assim. Mas... deixar para lá parece ameaçador, porque isso significa abrir mão da atitude:
“Olha o que aconteceu comigo”. Você também pode ter medo de perder o ressentimento, pois isso vai te deixar se sentindo vazio. Na verdade, você estará criando espaço para que sentimentos mais saudáveis ocupem aquele espaço.
5. Considere a troca. Pense nos benefícios que você terá quando se comprometer a perdoar. Muitas vezes, estamos falando de paz de espírito, economia da energia pessoal desperdiçada com o ressentimento, uma sensação de liberdade e a capacidade de renovar a confiança de forma mais genuína.
6. Não deixe que a raiva te defina. As pessoas conseguem perdoar injustiças terríveis, até mesmo crimes hediondos. Mas muitas vezes deixamos que a raiva controle nossa vida, nossos pensamentos e consequentemente nossos pensamentos e emoções.
7. Preste atenção no que dizem os outros. Amigos próximos costumam ser boas referências quando você fala de mágoas do passado. Até mesmo os ouvintes mais pacientes vão se cansar. Quando as pessoas disserem que você está parado, é hora de encontrar uma nova narrativa.
8. Mude a conversa. Se você é quem ouve os lamentos de algum amigo ou parente, pode perguntar por que a pessoa insiste em reviver o passado. Mas, se estiver farto, seja direto. É “completamente aceitável” dizer (de forma gentil): “Não consigo mais ouvir isso. Não espero que você deixe para lá, mas também preciso de cuidados”.
9. Pratique. Empatia gera perdão. Reconhecer a perspectiva do outro – que ele ou ela também tem mágoas não resolvidas ou que agir em causa própria pode causar conflitos inevitáveis com seus interesses – pode ajudar a lidar com a mágoa. Deixar ressentimentos no passado gera revelações e transformações. Quando você "libera" a pessoa de uma mágoa, você se liberta. Além disso você se coloca na posição de alguém que também pode errar , afinal ninguém é perfeito.
10. Não se passe por vítima. Se fazer de vítima irá te impedir de assumir o controle da sua vida como protagonista. Muitas vezes não percebemos, mas fazer de vítima acaba afastando as pessoas ao invés de trazer empatia e amor. Ninguém consegue suportar uma pessoa vitimista o tempo todo. É cansativo e frustrante.
Debora Oliveira
Psicóloga Clínica
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