O pai que abandona o filho é um covarde. “Meu pai é um covarde”. A primeira vez que ouvi essa frase em consultório me chocou.
Percebi no olhar daquele adolescente não uma raiva, mas uma indiferença com relação ao seu progenitor. Seu corpo me dizia claramente que aquela indiferença não era verdadeira, ali dentro existia uma dor de um filho que foi abandonado pelo pai. Um filho que não pediu para ser gerado. Um filho que enxerga a sua vida como um peso, uma dor, não só para ele, mas principalmente para a mãe.
Penso no que ele disse e suas palavras ficam na minha cabeça: Sim, o seu pai é um covarde. Covarde não apenas por te abandonar, mas covarde por fingir que você não existe. Como se isso fosse possível. Covarde em deixar uma mulher sozinha, com um filho na barriga ( não que ela precisasse de você, porque adivinha? Ela se saiu muito bem), covarde por pensar que isso te fazia ou te um homem, quando na verdade isso te torna um saco de batata com espermatozoides.
O pai que abandona o filho, não tem ideia da marca, da ferida que ele causa. E não precisa ser apenas aquele pai que sai de casa, existem muitos pais que abandonaram seus filhos e estão com eles na própria casa. São pais que estão presentes, mas não se fazem presentes. Por favor, seria melhor que você fosse embora.
O papel do pai na vida dos seus filhos é algo importante e essencial. A participação ativa do pai na criação fortalece o filho para a vida individual e social, além de promover segurança, autoestima, independência e estabilidade emocional. Separar um tempo para brincar, ler, estudar e conversar com os filhos é fundamental. Você, pai, é exemplo a ser seguido e é referência quanto à integridade, ética e valores. Estabelecer limites e ajudar o filho a ter noção de certo e errado são algumas das atitudes decisivas para a formação do caráter e também fazem parte da função paterna.
Geralmente, a criança que cresce sem a presença da figura paterna busca esse modelo masculino em outra pessoa, como um avô, tio ou amigo da família, e que isso é importante para a construção da identidade. Por isso, é necessário que o pai não esteja apenas fisicamente presente, mas que contribua para a educação e a formação dos filhos, e não seja indiferente ao desenvolvimento deles. Quando uma criança se sente rejeitada pelo pai, ou não se sente que é desejada como um filho pode ficar frustrada, insegura e ansiosa. Já quando o filho se sente querido, a sensação de bem-estar é muito maior e isso é essencial para o desenvolvimento emocional.
Um estudo recente confirmou que o pai é fundamental na formação da personalidade da criança e na forma como ela desenvolverá diversas características até à idade adulta. Investigadores da Universidade de Connecticut, nos EUA, demonstraram que crianças de todo o mundo tendem a responder de igual modo quando são rejeitadas pelos seus cuidadores ou por pessoas a quem são apegadas emocionalmente. Quando essa rejeição é do pai, causa marcas profundas.
Segundo o estudo, que avaliou 36 trabalhos envolvendo mais de 10.000 pessoas, entre crianças e adultos, a rejeição paterna tem essa influência tão marcante porque, em primeiro lugar, é mais comum do que a materna, mas também porque a figura do homem é associada a prestígio e poder, ou seja, para a criança é como se ela tivesse sido esquecida ou preterida por alguém que todos consideram importante.
A investigação mostrou que as crianças sentem a rejeição como se ela realmente fosse uma dor física. As partes do cérebro ativadas quando uma criança se sente rejeitada são as mesmas que se tornam ativas quando ela se magoa, com uma diferença: a dor psicológica pode ser revivida durante anos, levando a insegurança, hostilidade e tendência à agressividade.
Um pai presente e carinhoso tem exatamente o efeito contrário na formação da personalidade do filho: a criança cresce feliz, segura e capaz de estabelecer ligações afetivas muito mais facilmente na vida adulta.
Então pai, sou obrigada a concordar quando você abandona o seu filho, você realmente é um covarde.
Debora Oliveira
Psicóloga Clínica
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