Quem nunca se sentiu embaraçado, nervoso, quer em face de si mesmo, quer diante dos outros ou dos acontecimentos, muitos dos quais são propícios a induzir ao desânimo?
É o caso de dizer que, quem não sentiu nada disso, só transitou pela vida, não viveu; passou pela existência em branca nuvem.
“Como não gostamos de confusão — disse Plinio Corrêa de Oliveira —, por isso ela nos causa perplexidade, nos atormenta, nos angustia. Queremos uma certeza, um rumo, um desfecho, e a confusão cria condições onde certezas, rumo e desfecho não aparecem. Daí nossa perplexidade e angústia”.
Quando as coisas se põem assim, é chegada a hora de uma palavra que é o contrário da confusão e da angústia: Confiança! Confiança em Nossa Senhora!
Há uma forma de tentação que é o chamado “demônio do meio-dia”. O homem está no meio-dia de sua vida, está no pináculo de sua existência, naquela hora em que vai caminhando para o seu declínio, em que a tarde começa e ele faz um retrospecto do que foi toda a sua manhã, para perguntar o que fez, o que colheu.
Preocupação que não se põe de modo tão aflitivo — é certo — aos 20 anos, como aos 30 nem aos 40. E que parece chegar ao seu zênite entre os 40 e os 60 anos. É a era em que o homem procura consolidar-se, em que, se não é um idealista, se torna venal.
Nessa hora devemos saber ouvir uma voz interior que muitas vezes nos terá cicatrizado as feridas. É como se uma palavra interna nos dissesse: “Confiança, os ventos e o mar obedecem a Ele” (Lc 8, 25). E assim se aplacam logo nessa alma várias angústias e perplexidades. Tem-se a impressão de estar acordando de um pesadelo. Lembremo-nos do que diz esta oração de São Bernardo:
“Doce Virgem Maria, eu creio tão firmemente que do alto do Céu Vós velais dia e noite sobre mim e sobre aqueles que esperam em Vós, estou tão intimamente convencido de que jamais pode faltar nada quando se espera tudo de Vós, que resolvi viver daqui para o futuro sem nenhuma apreensão, e descarregar inteiramente sobre Vós todas as minhas inquietações.“Doce Virgem Maria, Vós me estabelecestes na mais inabalável confiança. Oh, mil vezes obrigado por uma graça tão preciosa. Eu ficarei daqui por diante em paz sob o vosso Coração tão puro. Não pensarei mais senão em Vos amar, em Vos obedecer, enquanto Vós, minha boa Mãe, gerireis meus mais caros interesses”.
Vem a propósito lembrar que se a pessoa perde a confiança em Deus depois do pecado, comete outro pecado ainda pior.
“Se, pelo contrário — comenta o Dr. Plinio —, nós continuarmos a confiar em Nossa Senhora, Ela pelo menos receberá de nós essa forma de glória, que é a do pecador que confia n’Ela. É uma forma de glória. O pecado é um atentado à sua glória. Mas o pecador que continua a confiar n’Ela, dá-lhe uma forma de glória que nenhum justo pode dar, e que é exatamente a glória da confiança daquele que ofendeu.
“Então, ter essa confiança, esperar contra toda esperança, mesmo dentro das dificuldades e da buraqueira da nossa vida espiritual é uma coisa que São Bernardo recomenda intensamente. E que lembra aquela palavra de São Francisco Xavier, de que o pior do pecado — ainda que o pecado seja um horror — não é tanto o pecado, mas é o fato de que a pessoa depois perder a confiança em Deus. Aí é que vem o pior pecado”.
Porque enquanto se confia, o caminho está aberto, tudo é possível. Força, energia, ênfase, resolução!
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