Carlos Sodré Lanna (*)
Nosso País é a terra do “em se plantando dá”, do “amanhã se não chover”, onde um misto de sabedoria da vida e de esperteza nos ensina desde cedo o segredo para “quebrar o galho”, para “dar um jeitinho”. É igualmente cenário de contrastes violentos e, por vezes, até pitorescos.
Apesar de tudo, somos um povo de boa índole, unido e compreensivo, e tudo isso é mais do que sabido e vivido pelos brasileiros natos. Tornou-se popular a noção de como se formou este País aceitando-se a ideia de que a Independência não custou senão um grito…
Também é comum afirmar que “Deus é brasileiro”, o que teria predisposto nosso povo a resolver disputas antes pela diplomacia do que pela força, que as conquistas nacionais são alcançadas pelo consenso e sem derramamento de sangue. E sendo um povo cordial e pacífico, as lutas civis seriam menos cruéis que as de outros países.
Tempos atrás, um húngaro de nascimento — Peter Kellemen — mudou-se para o Brasil, cuja cidadania adotou, escreveu o seguinte: “O caráter deste país é cheio de contrastes, beleza, sinceridade, um pouco de infantilidade, mistério, insubmisso e de personalidade marcante. Não tente modificá-lo. É impossível e desnecessário. Ao contrário, aprenda a gostar de seus contrastes e assim você será mais sábio e muito mais feliz.”
No entanto, se estudarmos os acontecimentos que fizeram a nossa história, vamos descobrir novos panoramas, bem diferentes e bastante complexos.
Há um ditado segundo o qual “o brasileiro dá um boi para não entrar na briga, mas, quando entra, dá uma boiada para não sair”.
Tivemos, desde o Descobrimento, um grande número de guerras, batalhas, revoluções, motins, golpes e quarteladas que ocuparam todos os dias do ano com o brasileiro lutando, matando e morrendo pelas causas e ideais que moldaram a formação nacional.
Tais embates foram travados por portugueses que aqui chegaram, por índios nativos, negros vindos da África e por outros imigrantes que mais tarde passaram a tomar parte na história do nosso País, o qual foi sendo moldado desde o início pelos ideais de uma Civilização Cristã Ocidental.
Eis um breve resumo de guerras, batalhas e conflitos havidos no Brasil:
1500 – 2000 >>> Choque com indígenas
1500 – 1845 >>> Corsários, contrabandistas e piratas
1500 – 1845 >>> Presença francesa
1516 – 1526 >>> Expedições guarda-costas
1534 >>> Guerra de Iguape, contra espanhóis, SP
1542 – 1851 >>> Ataques e intrusões de ingleses
1555 – 1567 >>> França Antártica, Rio de Janeiro
1556 – 1558 >>> Campanha contra os índios caetés
1575 >>> Franceses e ingleses contra ES e RJ
1579 – 1696 >>> Ataques aos índios do norte e nordeste
1585 – 1682 >>> Bandeiras e dilatação do território
1589 – 1589 >>> Campanha da conquista de Sergipe
1597 >>> Tomada de Cabedelo dos Franceses, PB
1599 – 1680 >>> Holandeses: piratas e conquistadores
1603 – 1604 >>> Contra franceses e índios aliados, CE
1611 >>> Campanha da conquista do Ceará
1628 – 1635 >>> Choques missioneiros
1629 – 1640 >>> Contra holandeses no norte e nordeste
1644 – 1648 >>> Reconquista de Angola aos holandeses
1645 >>> Ataque aos holandeses no Pará
1654 – 1686 >>> Quilombos, Palmares, AL, PE
1665 – 1834 >>> Anti lusitanismo
1680 >>> Colônia de Sacramento, primeira campanha
1697 >>> Intrusão francesa no Amapá
1700 – 1783 >>> Ingleses na Ilha da Trindade
1708–1709 >>> Guerra dos Emboabas , MG
1709 – 1710 >>> Guerra amazônica contra espanhóis e índios
1710 – 1714 >>> Guerra dos Mascates, PE
1710 – 1711 >>> Corsários franceses no Rio de Janeiro
1713 – 1715 >>> Rebeliões indígenas urbanas,CE
1715 – 1720 >>> Motins arrecadação do ouro, MG
1723 – 1717 >>> Guerra de Ajuricaba, Amazônia
1736 – 1737 >>> Franceses em Fernando de Noronha
1754 – 1756 >>> Guerra Guaranítica, RS
1762 – 1763 >>> Invasão espanhola do Rio Grande do Sul
1772 – 1887 >>> Revolta de escravos
1775 – 1766 >>> Reconquista dos espanhóis, RS
1796 – 1991 >>> Incidentes fronteiriços
1801 >>> Conquistas das Missões Orientais, RS
1801 – 1802 >>> Invasão espanhola no MT, Nova Coimbra
1808 – 1817 >>> Ocupação Guiana Francesa
1816 – 1820 >>> Invasão uruguaia no Rio Grande do Sul
1820 – 1839 >>> Choques do Sebastianismo
1824 >>> Confederação do Equador, PE, PB, RN, CE, PI
1825 – 1828 >>> Guerra da Cisplatina, Independência do Uruguai
1832 >>> Setembrada, MA
1832 – 1835 >>> Cabanada, PE, AL
1834 – 1835 >>> Carneiradas , PE
1834 >>> Revolta dos escravos, BA
1835 – 1845 >>> Guerra dos Farrapos
1838 – 1841 >>> Balaiada, MA,CE,PI
1864 – 1894 >>> Intervenções navais norte-americanas
1864 – 1870 >>> Guerra do Paraguai
1879 – 1938 >>> Campanha contra o cangaço CE, RN, PB,PE, AL, SE, BA
1889 – 1906 >>> Revoltas contra a República, SC, RJ, SP
1893 – 1894 >>> Revolta da Armada, RJ, SP, PR, SC, RS
1893 – 1895 >>> Revolta dos Federalistas
1895 – 1897 >>> Guerra de Canudos, BA
1900 – 1903 >>> Campanha do Acre
1917 – 1918 >>> Primeira Guerra Mundial
1925 – 1927 >>> Coluna Prestes, PR, MT, GO, MG, BA, PI, CE, PE, PB
1930 >>> Revolução Liberal Nacional
1932 >>> Revolução Constitucionalista, SP, MT, RS, BA, MG, PA
1935 >>> Intentona Comunista, RN, PE, RJ
1938 >>>Levante Integralista
1942 – 1945 >>> Segunda Guerra Mundial
1964 >>> Revolução de 31 de Março
1965 – 1975 >>> Guerrilhas políticas, urbanas e rurais
Por limite de espaço não vamos inserir aqui todos os fatos que compõem esta relação das guerras e batalhas na História do Brasil, que seriam três vezes mais. Procuramos apresentar aqui apenas as mais destacadas.
A primeira página de guerra na História do Brasil
A primeira página da verdadeira História do Brasil deveria começar pela Batalha de Ourique, travada no dia 25 de julho de 1139 em Portugal, quando Nosso Senhor Jesus Cristo aparece a Dom Afonso Henriques e instaura na pessoa dele — então Condado Portucalense — o Reino de Portugal. Na mesma ocasião, o Divino Salvador anuncia uma grande missão para os descendentes de Dom Afonso situados em “terras muito remotas”.
Essa profecia corrobora poderosamente a opinião difusa de que o Brasil ainda terá um papel muito importante a desempenhar no concerto das nações, esperança que se mantém desde o Descobrimento.
Aprofundaremos aqui as razões dessa conjectura, fundamentando-a com vistas a fazer dela uma certeza a respeito do nosso futuro.
Pesquisando os anais da História, podemos verificar que a predileção da Divina Providência pelo Brasil foi anunciada muito antes de as naus de Pedro Álvares Cabral aqui aportarem em 1500.
Na Batalha de Ourique, os portugueses tiveram que enfrentar com grande inferioridade numérica os infiéis maometanos: 100 mouros para cada lusitano. Isso não obstante, o recém-aclamado rei português desfez com onze mil soldados o exército dos cinco reis mouros.
De acordo com antiga tradição, referida logo no início, Nosso Senhor Jesus Cristo veio em auxílio dos católicos portugueses, prometendo a Dom Afonso Henriques a vitória e ordenando-lhe aceitar ser aclamado Rei de Portugal pelos seus súditos. Depois, disse Nosso Senhor: “Eu sou o fundador e destruidor dos reinos e impérios, e quero, em ti e seus descendentes, fundar para Mim um império, por cujo meio seja meu Nome publicado entre as nações mais estranhas. Não se apartará deles nem de ti minha misericórdia, porque por sua via tenho aparelhadas grandes searas e a eles escolhidos por meus segadores em terras muito remotas.”
A vitória dos portugueses contra os mouros em Ourique e o aparecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo a Dom Afonso Henriques marcaram de tal maneira a alma e os destinos de Portugal na época, que o célebre poeta Luís de Camões imortaliza esses acontecimentos em Os Lusíadas.
Missão Providencial de Portugal e do Brasil
Dia afortunado aquele em que a Cruz projetada no firmamento fez nascer um povo abençoado, forte e piedoso por cujo meio Nosso Senhor veria seu “Nome publicado entre as nações mais estranhas”, sempre que os portugueses plantassem essa mesma cruz “em terras remotas”.
Não tem outro sentido o fato de a Mãe de Deus ter querido falar em Fátima ao mundo inteiro. Sua Mensagem se dirige a todos os homens, mas de modo imediato ao povo português e aos que lhe são mais próximos pelo sangue, pela história e pela língua. Pois, no ano de 1500, Ela estendeu seus braços a uma vastíssima região que se denominou Terra de Santa Cruz, depois Santa Cruz e, mais tarde, Brasil.
Bibliografia:
João Amaral, História de Portugal, Livraria Tavares Martins, Porto, 1958.
Frei Antonio Brandão, A Batalha de Ourique – Livraria Civilização Editora, Porto,1955.
Hernani Donato, Dicionário das Batalhas Brasileiras, IBRASA , São Paulo , 1996.
Peter Kellemen, Brasil para principiantes – Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1961.
* Carlos Sodré Lanna é colaborador da Abim.
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