É impossível ficar calado. É inaceitável não levantar a voz. Seria imoral e uma grande traição às pessoas não exigir que as responsabilidades sejam apuradas. Se a morte de 64 pessoas assim o exige, se a destruição da natureza de tantos concelhos deste país a isso obriga, se a perda de valor económico por parte de milhares de famílias não pode ser ignorada, a forma leviana, irresponsável e politicamente motivada como a política de proteção civil foi alterada e preparada pelo atual Governo, exige-nos a todos que não deixemos cair no esquecimento o que se passou neste verão.
Após os incêndios de Pedrogão Grande, as generalidades dos órgãos de comunicação social fizeram o seu trabalho, mostraram a Portugal e aos portugueses, a descoordenação, as falhas e a irresponsabilidade do Estado nessa tragédia. Falo de governo, autarquias, mas também das diversas forças de proteção civil e segurança.
Mas como a tragédia não ficou por aí e o terror se alastrou a muitos mais concelhos, terminámos o verão com o maior saldo de área ardida dos últimos anos. Também por isso, graças à imprensa, voltámos a mergulhar no imenso mundo da proteção civil em Portugal.
As notícias mais recentes revelaram os bastidores do planeamento desta época de fogos, onde tudo foi alterado e onde os mais diversos responsáveis com anos de experiência foram substituídos por militantes ou simpatizantes do Partido Socialista, sem a experiência ou formação adequada, a começar pelo próprio Comandante Operacional Nacional.
A verdade é que tudo aquilo que não dependia da mãe natureza ou da responsabilidade dos proprietários, falhou. O Estado falhou. Falhou, não por omissão, mas porque decidiu mudar tudo, a estratégia, os decisores, os líderes e as chefias, mudaram tudo a escassas semanas da época de incêndios.
Insisto neste tema porque a recente demissão do “engenheiro” Rui Esteves não pode permitir apagar da nossa memória e limpar da praça pública a exigência de responsabilização operacional, sua e da Proteção Civil, por muito do que se passou ao longo deste verão. A “imolação” de Rui Esteves não pode ser sinónimo de desresponsabilização da cúpula politica e operacional da proteção civil.
É impossível assistir aos relatos feitos pelo programa da RTP Sexta às 9, ou ler as reportagens do Público e lá mais atrás da SIC, Expresso, i ou Observador, e não sentir revolta.
O amigo (mais um) que António Costa colocou à frente da Proteção Civil (Joaquim Leitão) andou a brincar com o fogo, andou a brincar com a vida das pessoas e algumas mentes mais obtusas ainda acusam o PSD de fazer “aproveitamento político” da tragédia”? Será que não se sentem envergonhados ao saber agora de tudo isto?
Mais, não nos podemos esquecer que à revelia da Lei de Bases da Proteção Civil, Joaquim Leitão e Rui Esteves, imagino que com a cobertura política do governo, decidiram eliminar as chefias intermédias da ANPC que estavam responsáveis por grupos de distritos, os chamados CADIS (Comandantes de Agrupamento Distrital), comandantes experientes que estavam próximos do terreno e que geriam os meios da proteção civil no terreno. Este ano toda a esta gestão foi centralizada em Carnaxide, nas mãos do malfadado “engenheiro” Rui Esteves, que também à revelia da Lei nomeou para essas funções pessoas que não as desempenhavam de facto.
Importa também lembrar que se a Assembleia da República encomendou um Relatório sobre a tragédia de Pedrogão, ainda nada semelhante foi feito para as restantes tragédias. Portanto, não chega o Primeiro-Ministro refugiar-se neste “Relatório” para não dar explicações porque ele tratará apenas de uma das tragédias que ocorreram este ano.
Trata-se de uma questão de responsabilidade democrática apurar responsabilidades e saber o que aconteceu, mas é também uma questão de “higiene política” querer saber também quem escolheu, quem sugeriu, quem recomendou todas estas nomeações partidárias para cargos de tão alta responsabilidade na nossa proteção civil e na nossa segurança. Não se trata apenas de apurar as responsabilidades operacionais, essas ficarão com Rui Esteves e com Joaquim Leitão, exige-se também a responsabilidade política por esta dança de cadeiras que enfraqueceram a nossa proteção e a nossa segurança.
Quando falamos de cargos que são de elevadíssima responsabilidade para a nossa e para a segurança do Estado, o critério de escolha só pode ser o da competência. Admito até que se possa preferir alguém, em igualdade de circunstâncias, com quem se tenha maior alinhamento em termos de políticas a desenvolver, mas exige-se preparação, formação e capacidade para desempenhar tais funções.
Se se confirmar tudo o que foi relado pelo Expresso há já dois meses e agora aprofundado pela RTP nos seu últimos dois programas “Sexta às 9”, o que se passou na estrutura da ANPC é de uma leviandade e de uma imoralidade imperdoáveis.
Idem BPS
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