Sofrer racismo com frequência e em diversas situações torna as pessoas mais sujeitas a ansiedade, depressão e problemas com drogas. A descoberta é de pesquisadores americanos.
Em se tratando de saúde mental, duas dimensões são atacadas diretamente: a identidade e a autoestima. Não possuindo referenciais identitários valorizados na nossa sociedade (heróis, pessoas bonitas, inteligentes) resta ao grupo subalterno se identificar com a sua “inferioridade natural” ou reivindicar para si um ideal de ego branco. Instala-se a baixa autoestima, valorizando-se pouco e acreditando que é inferior.
Como consequências somáticas temos a depressão, o alcoolismo, a ansiedade, a autodepreciação, síndrome do pâ- nico. O quadro é complexo e requer certa experiência para se diagnosticar que essas manifestações podem advir da discriminação racial.
Como consequências somáticas temos a depressão, o alcoolismo, a ansiedade, a autodepreciação, síndrome do pâ- nico. O quadro é complexo e requer certa experiência para se diagnosticar que essas manifestações podem advir da discriminação racial.
Um artigo sobre o tema foi publicado na Revista de ciência Addictive Behaviors. Para o estudo, cerca de 4,5 mil pessoas negras com idade entre 18 e 65 anos responderam questões relacionadas a situações de discriminação racial pelas quais pudessem ter passado.
Do total de entrevistados, 83% relataram que foram vítimas de algum tipo de discriminação no último ano. Cerca de 50% dos participantes afirmaram que sofreram todas as formas de racismo analisadas e 14,7% contaram que passavam frequentemente por situações de discriminação de todos os tipos.
Segundo os cientistas, os integrantes dos dois últimos grupos apresentaram maiores índices de depressão, alcoolismo e problemas com drogas do que os outros.
"A discriminação explícita é uma fonte frequente de problemas de saúde, embora seja negligenciada, e tem efeitos comparáveis à morte de um ente querido ou à perda de um trabalho", afirmou em nota sobre o estudo a socióloga Trenette Clark, da Universidade da Carolina do Norte.
Entretanto, Trenette destaca que, ainda que a maior parte das pessoas afirme ter sofrido racismo, problemas psicológicos ou de dependência de drogas não vitimaram a maioria dos entrevistados. Entre as razões para isso, ela destaca fatores como identidade étnica, espiritualidade e religiosidade.
E o papel do Psicólogo ?
De maneira geral, usamos muito o conceito de trauma. Ele ajuda a pensar como a vivência cotidiana do racismo pode produzir situações traumáticas, que fazem com que o indivíduo, muitas vezes, não consiga sair desse lugar da dor, da angústia, que não consiga compreender o que está acontecendo com ele. Esse conceito ajuda o sujeito, ao se apropriar da sua história, a entender suas mágoas e conflitos.
Mas o racismo gera outros problemas com os quais lidamos na clínica. Ele pode instalar um processo de ansiedade muito grande, por exemplo. Produz angústia, porque você está dentro de situações de humilhação, e instalação da depressão.
É importante que o racismo seja trabalhado na análise para que se entenda como ele provoca esses problemas e, no limite, como pode contribuir para o agravamento de doenças e da saúde mental. No Brasil já há algumas pesquisas que nos ajudam a entender os efeitos psíquicos do racismo, mas ainda são pouquíssimas. No que podemos apreender melhor – os processos de depressão, as crises de ansiedade, as manifestações de uma angústia profunda –, constatamos que pessoas negras que apresentam esses quadros têm forte componentes de racismo.
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