Existe um planeta do tamanho de Júpiter orbitando uma estrela a 466 anos-luz da Terra. Ele provavelmente tem cor de ameixas, cor de brasas em extinção… ou qualquer outra cor. Os astrônomos envolvidos no estudo deste planeta não conseguem definir esta cor, porque o planeta massivo é um dos mais escuros já detectados.
De acordo com um artigo publicado em 17 de abril de 2018, o planeta conhecido como WASP-104b é mais escuro que carvão e engole 99% da luz que recebe da estrela que orbita.
“Entre todos os planetas que pude encontrar na literatura, esse é o quinto ou terceiro mais escuro”, diz Teo Mocnik, pesquisador da Universidade Keele (Reino Unido) ao New Scientist.
O planeta mais escuro descoberto até agora o TrES 2B ou Kepler-1b, a 750 anos-luz da Terra. Ele é totalmente preto e absorve mais de 99% da luz que chega a ele.
Mocnik e seus colegas não descobriram o WASP-104b, que foi descrito pela primeira vez em 2014. O que eles fizeram foi analisar dados do observatório espacial Kepler.
Já que eles não conseguiram visualizar o WASP-104b diretamente, os pesquisadores estudaram o planeta de forma indireta, com o método do trânsito astronômico. Nele, os pesquisadores analisam a mudança da luz de um astro que passa atrás do objeto de estudo. Um bom exemplo do trânsito astronômico é o eclipse solar, em que a Lua cobre a vista do Sol.
Outras observações também ajudaram, como a sutil oscilar que o WASP-104b causa em sua estrela.
Planetas como o WASP-104b são chamados de Júpiters quentes, o que significa que eles são tão massivos quando Júpiter mas têm uma diferença: eles orbitam extremamente perto de suas estrelas, resultando em temperaturas escaldantes em sua superfície. No caso do WASP-104b, o planeta está tão próximo de sua estrela que completa uma translação em apenas 1,76 dia (a Terra leva 365 dias).
Apesar de parecer uma explicação estranha, é justamente a proximidade do planeta com sua estrela que faz com que ele seja tão escuro. Assim como a lua da Terra tem uma face “travada” em relação à Terra (o mesmo tempo que a lua leva para girar ao seu redor é igual ao tempo que ela demora para girar ao redor da Terra), o WASP-104b também tem a face travada em seu sol. Como resultado, um lado do planeta tem dias permanentes e o outro lado tem noites sem fim.
A escuridão da parte que está sempre escura no planeta é fácil de entender. Por outro lado, a parte do planeta que está sempre na claridade não é visível para nós porque provavelmente recebe tanta radiação estelar que não consegue formar nuvens ou gelo. São justamente as nuvens e gelo que facilitam a visualização de planetas ao refletir a luz, mas eles também formam um tpo de teto sobre elementos que absorvem a luz na atmosfera do planeta.
A atmosfera do planeta provavelmente é nebulosa e rica em sódio e potássio atômico, que podem absorver muitas cores no espectro visual. O resultado é um planeta que absorve entre 97 e 99% da luz que o atinge.
Enquanto o WASP-104b pode parecer mais preto que carvão, ele provavelmente tem uma cor distinta que não conseguimos ver da Terra. A radiação solar provavelmente faz o planeta brilhar, talvez com uma cor roxa escura ou vermelho como brasa, explica Mocnik. [LiveScience, WASP-104b is darker than charcoal]
Por Juliana Blume, em 26.04.2018
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