João Pedro Pereira
Juntaram-se durante um Verão,
pintaram bicicletas de branco e espalharam-nas pela cidade, para que
qualquer pessoa pudesse pegar nelas e largá-las quando já não
precisasse.
Podia
ser o começo de um qualquer artigo sobre um grupo de empreendedores
a lançar mais uma startup na era da “economia da partilha”; ou
podia ser o princípio de um texto sobre activistas ambientais; ou,
então, mais uma história sobre aquelas iniciativas que se espalham
pelas redes sociais e vivem um ou dois dias de fama passageira. Na
verdade, o Verão era
o de 1965 e
a cidade, Amsterdão. Um grupo de anarquistas decidira espalhar
bicicletas brancas pela cidade, numa acção simbólica contra “o
carro autoritário e espalhafatoso”, cuja poluição se começava a
fazer sentir nas ruas.
Venha
acompanhado do jargão que vier, o bike
sharing não
é uma ideia nova. Mas só nos anos recentes – e apesar de terem
existido projectos de razoável sucesso, alguns dos quais implicavam
o obsoleto sistema de moedas em ranhuras – a partilha de bicicletas
parece ter um caminho amplo pela frente. Isto acontece por uma
mistura de políticas públicas e de mudanças de hábitos; e, claro,
graças à ubiquidade das tecnologias de informação, que vieram
resolver muitos dos problemas associados ao conceito.
Hoje é possível fazer
pagamentos electrónicos de múltiplas formas. Alguns toques numa
aplicação bastam para ver onde estão as bicicletas mais próximas
(e também motas e carros) e para as desbloquear. Os sistemas de
geolocalização também permitem às autoridades locais e às
empresas saber onde estão os veículos (algumas modalidades já não
requerem docas para prender as bicicletas, que podem ser largadas em
qualquer ponto). E a recolha e análise computacional de grandes
quantidades de dados faz com que as cidades possam integrar melhor
esta forma de transporte.
Estamos
numa altura em que os carros são cada vez mais autónomos, em que um
ícone da tecnologia chamado Elon Musk tenta revolucionar os
transportes urbanos com túneis subterrâneos e comboios de alta
velocidade, e em que empresas como a
Uber e
a Intel estão a desenvolver aquilo a que – com liberdade
descritiva – se tem vindo a designar como “carros voadores”
(são uma espécie de pequenos helicópteros não tripulados). É,
por isso, curioso notar – como faz este
artigo da Wired –
que um dos veículos do futuro pode bem ser a velha e humilde
bicicleta, uma invenção que tem raízes na segunda metade do século
XIX (num veículo de duas rodas, mas
sem pedais,
inventado por um alemão). Às vezes, não vale a pena reinventar a
roda.
Digno de nota
-
O Facebook suspendeu
cerca de 200 aplicações no
âmbito das investigações internas a usos indevidos dos dados dos
utilizadores. O escrutínio surge no seguimento do caso da empresa de
consultoria política Cambridge Analytica, que acedeu a informação
de 87 milhões de pessoas. Mas a rede social não especificou que
aplicações foram suspensas. Entretanto, depois de um porta-voz do
PPE, um dos grupos do Parlamento Europeu, ter confirmado há três
semanas que Mark Zuckerberg seria questionado por eurodeputados,
ainda não entrou na agenda do Parlamento Europeu nenhuma audição
ao presidente do Facebook.
-
O coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança demitiu-se
na semana passada,
anunciando a saída a meio de um exercício que reuniu quase
meia centena de entidades públicas e privadas.
Pedro Veiga, um académico com um longo historial na Internet em
Portugal, diz que o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior quebrou uma promessa (o ministro não comentou o caso). Em
causa está a gestão do domínio .pt, que está a cargo de uma
associação sem fins lucrativos chamada DNS.pt
-
Foi uma experiência que mostrou como a inteligência artificial e a
inteligência biológica têm pontos em comum. Investigadores (muitos
dos quais da DeepMind, do Google) usaram redes neuronais e técnicas
de aprendizagem automática para ensinar agentes de inteligência
artificial a descobrir caminhos em espaços virtuais. Sem que ninguém
lhes tivesse dado instruções para isso, as
máquinas desenvolveram um
sistema de mapeamento do espaço semelhante ao do cérebro de
mamíferos.
4.0
é uma newsletter semanal dedicada a tecnologia, inovação e
empreendedorismo. O conteúdo patrocinado nesta newsletter não é
responsabilidade do jornalista. Críticas e sugestões podem ser
enviadas para jppereira@publico.pt. Espero que continue a acompanhar.
Fonte: Público
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