terça-feira, 23 de outubro de 2018

À Lupa | O que mais me incomoda

J. Carlos*
A desigualdade dos destinos humanos é chocante e desmoralizadora: Há os que nascem em berço de ouro e toda a vida as boas fadas lhes sorriem, docemente, e as ajudam com humildade e devoção. Outros, porém, embora dotados de maiores méritos do que os primeiros, parece que a má fortuna se encarniça contra eles e contra tudo o que lhes sai das mãos, numa fúria incansável e feroz. De onde provirá tamanha injustiça de destino?

A todo o momento se observa no mundo, chega-se à triste conclusão de que o carácter, a probidade, a honradez e a honestidade são qualidades negativas para se triunfar na feira da vida, para tanto basta estarmos atentos à imprensa: Escândalos atrás de escândalos. 

De que serve ter inteligência, imaginação, faculdades criadoras, se o temperamento, muitas das vezes, nega aos seus possuidores as possibilidades de se imporem no jogo da concorrência social?

Se possível fosse ao homem ter consciência perfeita do que é e do que vale, deixaria a vida de ser como é. Na farsa da vida, passa-se do riso às lágrimas e das lágrimas ao riso, com a facilidade e a espontaneidade com que,  no palco, um bom actor muda de semblante. Fingimento no seu melhor.

Salvaguardar as aparências é a  preocupação máxima de tantos, para quem a verdade e a sinceridade não passam de incómodos tropeços, é o que está na moda.

Com frequência, a polidez social se confunde com a hipocrisia, pois uma e outra se servem das mesmas mesuras, que são unhadas e dos mesmos sorrisos, que são esgares ou dentadas. Afinal em que sociedade vivemos nós?

A sociedade, muitas vezes, força-nos a representar e a mentir, se dela não queremos ser escorraçados. A opressão do não deves envolver-te nisso, não é contigo, deixa andar, não ligues, dá lugar à indiferença de que mais tarde ou mais cedo acabamos por ser vitimas directas. 

Um sim hipócrita e doce, proferido sem intenção de o cumprir, agrada sempre mais do que um não, franco, leal e resoluto. O primeiro é dos farsantes, que captam amigos; o segundo é dos sinceros, que os afastam. Sou um dos atingidos...

Sou da opinião que todo o homem tem um dever elementar e sagrado para com o seu semelhante: Nunca lhe negar o pão e a justiça a que tenha direito.

Observe e ouça o leitor o que se passa ao seu lado, na sua rua, na mesa do café, no local onde trabalha e reflicta um pouco em tudo isso, dando-nos conhecimento da conclusão a que chegou. Procure ter uma relação de amizade com a sua consciência, caso contrário ela vai traí-lo. 

*Director

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