Começou a XXIVª edição do Caminhos do Cinema Português, o mais antigo festival de cinema do país dedicado, na sua matriz, à divulgação do cinema nacional e que terá mais uma vez lugar no TAGV – Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra e que irá durar até ao próximo dia 01 de Dezembro data na qual serão conhecidos todos os vencedores da edição.
Tendo como ponto de partida a Cerimónia de Abertura onde serão exibidos a curta-metragem Como Fernando Pessoa Salvou Portugal, de Eugène Green – pré-seleccionada aos César entregues pela Academia Francesa de Cinema – e ainda Caminhos Magnétykos, a mais recente obra do génio que é Edgar Pêra, a vigésima-quarta edição dos Caminhos inicia mais cedo com a exibição ainda durante a tarde da longa-metragem documental Turno do Dia, de Pedro Florêncio. Por entre o registo muito particular do cinema de Pêra que recorre à imagem de uma Lisboa alucinada onde a “realidade” distópica coloca os seus cidadãos perante uma ditadura encoberta e o passado imaginado da obra de Green que nos leva aos inícios de uma ditadura, essa sim real, encontramos ainda um registo franco do outro lado das chamadas de emergência onde num conjunto de movimentos milimetricamente coreografados revelam a passividade controlada de um auxílio que o espectador não testemunha.
No mesmo dia, o cinema não termina por aqui sendo ainda exibidas um conjunto de curtas-metragens do melhor que tem sido feito no último ano no género de terror, suspense e fantástico nomeadamente 20-02-80, de Jerónimo Rocha, O Quadro, de Paulo Araújo, O Coração Revelador, de São José Correia, Inversão, de Miguel Ângelo, A Estranha Casa na Bruma, de Guilherme Daniel e O Segredo da Casa Fechada, de Teresa Garcia. Num mundo em que a realidade é tantas vezes assustadora, porque não uma sessão de cinema onde o surreal é permitido e bem-vindo? Num registo sempre do imaginado ou do terror que surge de onde não o equacionamos, este segmento do primeiro dia do Caminhos do Cinema Português surge com apostas firmes de um conjunto de novos realizadores dispostos a contar histórias atípicas do nosso cinema mas que, tal como o próprio cinema exige, tendem a expandi-lo e criar novos universos.
por Paulo Peralta
Nenhum comentário:
Postar um comentário