O investigador
Manuel Reis Carneiro, do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
(FCTUC), desenvolveu um dispositivo
eletrónico vestível
(do inglês
wearable),
de baixo
custo
e reutilizável,
que
permite a aquisição de eletroencefalogramas de forma bastante mais
confortável e durante períodos bem mais longos que a tecnologia
atualmente utilizada na clínica.
Assim,
no futuro,
realizar um eletroencefalograma, ou EEG, exame bastante utilizado
para avaliar a atividade cerebral, será muito mais simples e cómodo
para o paciente.
Este inovador
dispositivo baseado em eletrónica flexível, tecnologia que permite
criar circuitos eletrónicos elásticos (maleáveis), é constituído
por uma banda têxtil onde estão inseridos elétrodos não rígidos
ultrafinos produzidos através de uma tinta específica que facilita
a interface entre o aparelho eletrónico e a atividade cerebral,
desenvolvida no Laboratório de “Soft and Printed Microelectronic”
(SPM-UC) do ISR no âmbito de um outro projeto de investigação –
Stretchtronics.
Atualmente, a
eletroencefalografia é efetuada com elétrodos rígidos metálicos
colocados no couro cabeludo, que se tornam desconfortáveis ao fim de
algum tempo.
Para
além disso, os atuais sistemas são de grande dimensão, usam muitos
fios, demoram tempo a preparar e exigem um técnico especializado,
confinando a monitorização de pacientes a um laboratório ou
hospital.
O "EEG
vestível" desenvolvido pelo investigador do ISR ultrapassa
essas limitações, podendo «ser
colocado no paciente de forma extremamente simples e rápida por
qualquer pessoa e, como é têxtil e os elétrodos são altamente
flexíveis, permite a realização de exames ao longo de muito mais
tempo, pois não se torna desconfortável, garantido a mesma
qualidade dos atuais dispositivos utilizados na medicina»,
explica Manuel Reis Carneiro.
Pensado
inicialmente para ser aplicado em serviços de urgência, «onde
nem sempre está disponível um técnico especializado para a
realização do exame, possibilitando assim
que
qualquer profissional coloque o dispositivo e fique a conhecer a
condição do doente»,
o potencial de aplicação deste dispositivo vestível da próxima
geração é vasto, refere o investigador.
«Ao
permitir a interface homem-máquina, por exemplo, uma pessoa
tetraplégica consegue controlar uma cadeira de rodas através da
atividade cerebral. Por outro lado, como é um dispositivo sem fios e
de muito baixo custo, pode também ser utilizado para exames médicos
em locais remotos (telemedicina), ou seja, os dados podem ser
adquiridos em qualquer lugar do mundo e analisados remotamente por um
médico especializado, num hospital. Pode ainda ser aplicado em casos
em que é necessária a monitorização contínua da atividade
elétrica do cérebro»,
destaca.
Após o sucesso
dos testes em laboratório, o investigador e a sua equipa pretendem
avançar para a validação clínica tendo em vista a colocação no
mercado deste “wearable”. «O
dispositivo está a funcionar, é eficaz na aquisição de atividade
cerebral, é simples e barato (a banda têxtil custa entre 1 e 2
euros), e por isso pretendemos que a tecnologia chegue ao mercado»,
conclui Manuel Reis Carneiro.
Financiado pela
Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pelo Programa
Carnegie Mellon Portugal (CMU Portugal), o projeto foi desenvolvido
no âmbito da tese de mestrado do investigador, orientada por
Mahmoud
Tavakoli, docente e diretor do Laboratório de “Soft and Printed
Microelectronic” do ISR, e foi distinguido recentemente no concurso
de ideias "Fraunhofer Portugal Challenge 2019".
Cristina
Pinto
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