segunda-feira, 23 de março de 2020

Moçambique não tem capacidade para cumprir recomendação da OMS de “testar, testar e testar”; professores e alunos em quarentena domiciliar

Foto de Adérito Caldeira
“Temos uma mensagem simples para todos os países: testar, testar e testar” recomendou o director-geral da OMS porém o @Verdade apurou que o Instituto Nacional de Saúde apenas consegue efectuar por dia 396 testes e Moçambique já tem menos de 2.500 kits de testagem. Entretanto o ministro da Saúde esclareceu que o encerramento de todas as escolas públicas e privadas do ensino pré-escolar ao ensino superior não são férias, é quarentena domiciliar, “não vão a escola é para ficar em casa”.
Há uma semana o director-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a realização de testes em larga escala em casos suspeitos do novo coronavírus e o isolamento dos doentes para se conter a pandemia. “Temos uma mensagem simples para todos os países: testar, testar e testar. Se o resultado for positivo isolar e descobrir com quem o doente esteve em contacto até dois dias anteriores a descoberta dos primeiros sintomas e testar essas pessoas também”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Esta recomendação da OMS foi reiterada por médicos chineses que na semana passada partilharam as suas experiências com colegas africanos por vídeo-conferência.
Até este domingo (22) apenas os viajantes provenientes da China, Coreia do Sul, Irão, Itália, França, Alemanha, Espanha, Suíça, Dinamarca, EUA, Reino Unido, Holanda, Suécia, Noruega, Portugal, Grécia, Bélgica, Áustria, Paquistão e Canadá estavam obrigado a ficar em quarentena domiciliar de 14 dias em Moçambique.
Embora tenha rastreado 338.427 pessoas provenientes de países confirmados com o covid-19, através da medição da febre e do país de proveniência, as autoridades de saúde apenas realizaram 46 testes dos quais apenas um deu resultado positivo num cidadão que chegou na semana passada do Reino Unido.
É público que Moçambique tinha disponíveis apenas kits de reagentes para a realização de 2.500 testes portanto as autoridades de saúde estão a geri-los em função dos casos mais suspeitos de infecção pelo novo coronavírus.
Ademais o @Verdade apurou que neste momento o Instituto Nacional de Saúde (INS), única instituição que realiza testes aprovados pela OMS, só tem capacidade instalada para a realização de 132 exames usando a tecnologia de PCR por cada turno de oito horas. O director-geral do INS, Ilesh Jani, precisou que a instituição realiza três turnos diários portanto os testes podem chegar a 396 e, durante a próxima semana, a capacidade será aumentada para 222 testes por turno.
Contudo se as autoridades de saúde tentarem cumprir a recomendação da Organização Mundial da Saúde em 4 dias serão esgotados todos os kits de reagentes que existem em Moçambique.
Todas províncias de Moçambique com locais de isolamento
Foto de Adérito Caldeira
Na conferencia de imprensa onde anunciou o resultado positivo do primeiro cidadão infectado pelo covid-19 em Moçambique o ministro da Saúde explicou que: “O paciente tem sintomatologia ligeira, encontra-se em isolamento domiciliar, está em seguimento clínico” não sendo um caso para internamento num hospital.

“Nós temos explicado que a maior parte das pessoas que tem infecção pelo covid-19 são pessoas que tem sintomas ligeiros, como é este (existente em Moçambique), 80 por cento dos indivíduos que eventualmente venham a ter a doença vão ter sintomas ligeiros e não há-de ser necessário o seu internamento em unidades sanitárias, 20 por cento sim precisarão de internamento. Todo o processo de definição dos critérios que definem a gravidade já existem nos nossos protocolos e portanto, quando nós tivermos um caso que precise de internamento, daremos a comunicação aos órgãos de comunicação”, explicou Armindo Tiago que recordou que na China dos mais de 81 mil infectados “só tem cerca de 3.300 óbitos, todos outros recuperaram, portanto as probabilidade de recuperação são muito boas”.
Questionado pelo @Verdade o titular da Saúde em Moçambique esclareceu também que foi definido “que em cada uma das províncias teremos um local de isolamento, na Cidade de Maputo para além do isolamento no Hospital da Polana Caniço o Hospital Central de Maputo também vai receber casos de coronavírus, temos uma enfermaria isolada e preparada para o efeito. Em caso de existência de um maior número de doentes nós temos o sector privado que tem camas preparadas para receber doentes com coronavírus”.
Mas o primeiro cidadão moçambicano a quem foi diagnosticado o novo coronavírus é um médico que reside e trabalha na Espanha onde, de acordo com o ministro da Saúde, está hospitalizado em situação estável e a registar melhorias.
Professores e alunos de quarentena domiciliar em Moçambique
Respondendo a outra pergunta do @Verdade o ministro Armindo Tiago chamou atenção que entre as medidas adicionais de prevenção a pandemia do covid-19, anunciadas sexta-feira (20) pelo Presidente da República, especificamente os professores e alunos das escolas públicas e privadas que encerram entre 23 de Março e 21 de Abril, “devem ficar em casa, ficar em casa sem sair é essencialmente quarentena. Não vão a escola mas não é para ir ao parque, não vão a escola é para ficar em casa”.
Relativamente aos restantes cidadãos que não são professores ou estudantes o ministro da Saúde esclareceu “tem que ir trabalhar, até aqui ainda não há uma medida em relação a isso”. “Existem em termos temporais a necessidade de adequar as medidas em função das circunstâncias, o que poderá acontecer é que na terça-feira o Conselho de Ministros possa decidir agravar ou não as medidas actualmente em uso”, alertou o ministro Armindo Tiago.
O @Verdade sabe que a quarentena domiciliária para todos os moçambicanos ainda não foi declarada pois há necessidade que a Assembleia da República reúna, pelo menos esta semana, para aprovar o Plano Quinquenal do Governo, o Plano Económico e Social e a Lei Orçamental de 2020.
A implementação da quarentena escolar é um dos grandes desafios da prevenção do covid-19 em Moçambique pois o encerramento de todas as escolas públicas e privadas do ensino pré-escolar ao ensino superior coloca em casa pelo menos 15 milhões de moçambicanos.
@Verdade
A possibilidade dos encarregados de educação, que continuarão a ter de sair todos os dias para buscar o sustento diário, manterem as crianças e jovens a estudar é irrealista. O ensino à distância ou usando as novas tecnologias será um privilégio para os poucos milhões que estão em pânico com descoberta do primeiro infectado pelo covid-19.

Também desafiante para grande parte dos moçambicanos é cumprir outra das principais medidas para reduzir o risco de contrair ou transmitir o covid-19. “Lavar as mãos frequentemente com água e sabão ou cinza, durante pelo menos 20 segundos”, é o sonho de grande parte dos moçambicanos que até hoje não tem água canalizada em casa ou sequer um torneira no quintal. Para muitos moçambicanos obter 20 litros de água é o desafio de caminhar vários quilómetros ou mesmo enfrentar crocodilos nos rios e lagoas.
Para além da perda de vidas humanas o impacto do novo coronavírus em Moçambique poderá ser mais dramático na capacidade da maioria dos moçambicanos suprir as suas necessidades de vida mais básicas, o país está em recessão desde 2016 a crise económica e financeira poderá voltar a agravar-se.

Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique

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