segunda-feira, 13 de abril de 2020

Há responsáveis pelos 30 dias que estão a abalar o mundo?


A opinião de José Couto Nogueira



O que não falta são teorias da conspiração sobre o mal que assola mais de 180 países e 200 territórios deste mundo, e que provavelmente irá mudá-lo... ou talvez não. Serão verdadeiras?
A História tem sido reescrita várias vezes desde 11 de Março, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS), anunciou oficialmente que o SARS-CoV-2 é uma pandemia. E continuará a ser mudada, sem talvez nunca se saber a verdade.

11 de Março foi há um mês, apenas, mas um mês em que tudo mudou e, até onde se pode ver, não se sabe quanto mudará mais. As notícias são diárias, horárias até, mas as opiniões são constantes e aparecem de minuto a minuto.
Há responsáveis pelos 30 dias que estão a abalar o mundo?
Vale a pena fazer a cronologia dos acontecimentos, que é reveladora.
A 31 de Dezembro de 2019, a China informou a OMS que no Mercado de Frutos do Mar (e animais vivos, marinhos e terrestres), em Wuhan, província de Hubei, algumas pessoas apareceram com uma síndrome respiratória aguda. Mais tarde soube-se que se tratava de um novo vírus, depois batizado de SARS-Cov-2 (ou covid-19), descendente de outros que, noutros anos, se tinham espalhado pela China e pelo mundo, como o SARS, que em 2002-03 matou cerca de 700 pessoas, ou o H7N9, em 2013. Há quem se lembre da Gripe A, ou suína, nascida não na China, mas no México, cuja estimativa é de de tenha feito mais de cem mil mortos em todo o mundo, de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças norte-americano.
Quem alertou para este novo coronavírus foi um médico de Wuhan, Li Wenliang, a 30 de Dezembro do ano passado. Foi imediatamente censurado, detido e obrigado a retratar-se. O Governo chinês seguiu o seu modus operandi de reprimir qualquer informação menos favorável ao paraíso social-capitalista que Xi Jinping lidera com grande vigor.
Mas, ao mesmo tempo que silenciavam o médico, terão averiguado as suas afirmações, já que o primeiro relato sobre a estranha doença à OMS, recordo, foi no dia 31 de Dezembro. 
Li Wenliang tinha razão, tanto que morreu a 7 de Fevereiro, vítima do vírus que identificara. A sua morte provocou uma onda de indignação na China e no mundo, mas muita coisa já tinha acontecido antes. A revista inglesa “The Economist” de 13 de Fevereiro dedicou-lhe um obituário onde se lê: “Como Wenliang partilhava online todas as observações que passavam por ele, não é surpresa que, em 30 de Dezembro, tenha publicado sobre um estranho grupo de casos de pneumonia no hospital. Eram inexplicáveis, mas os pacientes estavam em quarentena e todos haviam trabalhado no mesmo local, o pungente leito de barracas espalhadas por lixo que compunham o mercado local de frutos do mar. Imediatamente isso pareceu uma transmissão de pessoa para pessoa, mesmo que pudesse ter sido originária de morcegos ou alguma outra iguaria. Imediatamente, também, levantou o espectro do vírus SARS. Decidiu, portanto, alertar no seu grupo privado do WeChat todos os colegas da Universidade de Wuhan a tomar precauções. (...) O problema era que ele não sabia se era realmente SARS. Uma hora depois corrigiu-se, explicando que, embora fosse um coronavírus, como o SARS, ainda não havia sido identificado. Mas foi tarde demais: o seu primeiro post já se tinha tornado viral, com seu nome e ocupação incluídos. A meio dessa noite foi convocado para o hospital e, em 3 de Janeiro, levado para a esquadra da polícia e acusado de espalhar boatos e subverter a ordem social.”
Uma nova comunicação à OMS por parte da China tem lugar a 11 de Janeiro, com mais detalhes sobre a origem deste vírus. É nesta altura que se sabe que a China isolou e identificou um novo tipo de coronavírus, a 7 de Janeiro. Só no dia 12 o país liderado por Xi Jinping partilhou a sequência genética do novo coronavírus com o mundo para que pudessem começar a ser desenvolvidos kits de diagnóstico.
Nestes cerca de 15 dias entre o primeiro alerta de Li Wenliang e o momento em que o mundo ficou a conhecer este novo coronavírus, milhões entraram e saíram da província de Hubei (na China os números são sempre milhões...). E muitos outros milhões se seguiram até 30 de Janeiro, quando a OMS declarou o surto como uma emergência, pedindo uma acção coordenada de combate à doença a ser delineada pelas diferentes autoridades e governos.
Pouco antes, nos dias 22 e 23 de Janeiro, a OMS tinha-se reunido para discutir o assunto, mas "vários membros consideraram cedo demais para declarar situação de emergência pública internacional". Seria demasiado cedo?
Ou será mais provável admitir que Tedros Ghebreyesus, o Director Geral da OMS, colocado no posto por vontade da China — e criticado pela forma como elogiou publicamente a "rapidez" e a "eficiência" chinesa da identificação, divulgação e combate ao vírus — não quisesse aborrecer o seu patrocinador?
Sobre a forma como a OMS falhou em responsabilizar a China e o custo que isso terá para todos nós, vale também a pena ler este artigo da revista “Newstatesman”.
Finalmente, a 30 de Janeiro, a OMS teve de comunicar ao mundo o que se passava, e declarou o novo coronavírus como uma emergência de saúde pública internacional. 
O sub-director da organização, Bruce Aylward, chegou a afirmar a 24 de Fevereiro que “o mundo está em dívida com o povo de Wuhan e a resposta de Pequim foi admirável”, tendo este elogiado a superioridade do sistema político chinês. Ora o entusiasmo parece pouco apropriado para uma organização internacional falar dum Governo – sobretudo um Governo cuja eficiência só é possível por se tratar de uma ditadura que pode submeter os seus cidadãos a todo o tipo de constrangimentos. O argumento de que a OMS não se mete em política não faz sentido; se assim fosse, usaria termos mais neutros, não endossando implicitamente um regime brutal. E, já agora, reconheceria a existência de Taiwan, o que não faz por exigência da China. Até hoje, Taiwan, que é um exemplo da contenção da epidemia, não é citada nos balanços diários da situação apresentados pela OMS.
Finalmente, a 11 de Março, a OMS teve de reconhecer que o “surto” afinal era uma pandemia.
A China colocou Wuhan e as cidades vizinhas em lockdown em 23 de Janeiro. Ou seja, durante quase 30 dias o vírus espalhou-se sem qualquer controle. Um cálculo, que não podemos confirmar, avalia em 5 milhões o número de pessoas que saiu da zona infectada durante esse período
Mais ainda: segundo a revista francesa Liberation, a 18 de Janeiro as autoridades de Wuhan organizaram um banquete oficial para 40 mil famílias, em que os presentes foram felicitados por ter comparecido “apesar da tosse e dos sintomas de doença”!
Estes são os factos. Que conclusões se podem tirar? Concretamente, não há nenhuma prova de que o vírus tenha sido fabricado. Também me parece extremo, mesmo para um ditador de sangue frio como Xi Jinping, criar uma epidemia que custou caro aos seus (há quem fale em centenas de milhares de mortos, mas são suspeitas não confirmadas) com o objectivo de fortalecer o domínio chinês sobre o mundo.
Todavia, ao espalhar-se a epidemia, os chineses podem ter visto a oportunidade que efectivamente se veio a concretizar. Ou seja, que os Estados Unidos não estariam preparados para enfrentar uma catástrofe destas proporções – nem a Europa, se bem que a Europa, por um lado, estivesse melhor preparada, com os seus sistemas de saúde públicos e, por outro, tenha um interesse secundário.
Estou a especular? Talvez. Mas também é um facto que hoje, princípio de Abril, os Estados Unidos estão no princípio da pior situação da sua História sanitária e económica e a Europa não fica muito atrás, enquanto a China já está a funcionar e até a exportar toneladas de equipamento médico para “salvar” o resto do mundo.
Transformar um problema numa oportunidade, não é um princípio da filosofia chinesa?
Fonte:sapo24

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