sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

A carta de Bruges

 BOAS FALAS do Duque de Coimbra (filho de D. João I e mano do  eloquente D. Duarte):
A famosa carta de Bruges, escrita pelo infante D. Pedro ao seu irmão D. Duarte, em 1426, devia ser dada nas escolas.
    É um documento notável sobre os problemas de Portugal e dos portugueses. É quase um programa de governo, extenso, minucioso e certeiro, de uma visão extraordinária, com muita actualidade, em que o infante das Sete Partidas  dá conselhos ao futuro rei sobre tudo. Há 600 anos!
    Deixo-vos algumas frases. É tão difícil de escolher, mas aqui têm um apanhado. Leiam, vale a pena!
 
   IGREJA
  “Há excesso de prelados com escassa preparação, e em quem a vocação é ausente. Clérigos sem cultura, em quem floresce a preguiça e a gula(...).
   Quanto aos bispos, entendo que é nefasto o hábito de serem nomeados sem que se acautele que sejam homens livres de escândalos.”
 
   ESTUDOS SUPERIORES
    “Saliento a importância da educação de todos os que dão mostras de aptidão e inteligência, e não apenas dos filhos dos privilegiados(...)
    Ricos e pobres devem conviver durante a vida de estudos, em igualdade de tratamento. Defendo a criação de dotações para os   estudantes sem recursos.”
 
   IMPOSTOS E POVOAMENTO
  “A força reside, em parte, na população. É preciso evitar o despovoamento dos campos e diminuir os tributos que pesam sobre o povo.”
 
   JUSTIÇA.  
    "A justiça parece só existir em Portugal na cabeça do rei e do seu herdeiro; e dá ideia de que lá não sai, porque, se assim não fosse,  aqueles que têm por encargo administrá-la comportar-se-iam mais honestamente. A justiça deve dar a cada um aquilo que lhe é  devido e deve dar-lho sem delongas(...). O grande mal está na lentidão da justiça”.
 
    DEFEITOS DOS PORTUGUESES
    "Dos muitos vícios que encontro no nosso povo, falar-vos-ei do gosto pela ostentação vazia, que leva a que todos queiram viver  na corte, enjeitando as nobres profissões de seus pais, para se verem afidalgados, entregues ao ócio e ao dinheiro fácil. Enche-se  de ociosos a corte e os lugares que deveriam administrar o reino. Vejo nesta situação um dos entraves de Portugal, onde não se cumpre a lei nem se resolvem os entraves.”
 
Nota: Até parece actual...
Texto por José Rui M. Rabaça

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