sexta-feira, 29 de abril de 2016

Macroscópio – Vamos lá de fim-de-semana. De Uber ou de táxi?

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


Tinha pensado dedicar exclusivamente o Macroscópio de hoje a leituras mais próprias do fim-de-semana, mas com as ruas do Porto, de Lisboa e de Faro ocupadas pelas marchas dos taxistas é inevitável dedicar uma parte desta newsletter a este tema. Vou fazê-lo usando sobretudo o Observador como guia, mas com algumas incursões por outros órgãos de informação.

Primeiro, o que é necessário saber. Para isso, aqui ficam algumas sugestões:
A operação da Uber é um daqueles casos típicos em que uma nova tecnologia vem perturbar a forma de funcionar de um sector há muito instalado nos seus hábitos e protegido por detalhada regulamentação. Isso levou vários colunistas do Observador a reflectirem sobre este conflito, em textos que aqui recupero:
  • Paulo Ferreira escreveu por duas vezes sobre este tema. Em Março do ano passado, em Taxistas uber alles, defendeu que “Tentar travar as Ubers que diariamente nascem em todos os sectores será luta inglória. É negar o desenvolvimento, a criatividade, a inovação e a democratização económica em nome do imobilismo egoísta.” Hoje voltou ao assunto e, emTempos fantásticos para estar vivo, acrescentou novos argumentos, considerando que “Este caso dos taxistas vs. Uber - que nem sequer é exclusivamente português - é, só por si, um tratado sobre formas distintas de ver o mundo, de estar na vida e de ganhá-la através dos negócios.”
  • Alexandre Homem-Cristo escreveu há sensivelmente um mês1500€ por taxista, um texto onde critica a intenção do Governo de subsidiar os taxistas para aplacar a sua fúria: “É inaceitável que seja o dinheiro dos contribuintes a pagar a modernização do sector dos táxis. Sobretudo quando este teve meios e tempo para se modernizar mas optou sempre por não o fazer.”
  • Sérgio Figueiredo, no Diário de Notícias, defendeu emÜber alles que “Nunca Portugal tinha visto cidades tão vibrantes e empresários tão dinâmicos e empreendedores, porque antes também nunca havia sido liberalizada a atividade turística. Novos serviços eram mortos à nascença, porque o essencial era proteger a oferta instalada, em vez de responder às necessidades das pessoas. Chama-se a isto mercado, palavra que, por definição, ofende quem não quer concorrência.”

Mas julgo que chega de taxistas e Uber, sigamos em frente e, antes de passar a algumas das sugestões que tinha para hoje, deixem-me apenas acrescentar uma adenda ao Macroscópio de ontem, que como se recordarão abordou o discurso sobre política externa de Donald Trump. Não consegui ontem encontrar a transcrição integral do que disse o candidato à nomeação pelos republicanos, mas hoje completo essa lacuna. Aqui fica pois, para os mais interessados, Trump on Foreign Policy.



Mudemos agora de registo e saltitemos de tema em tema, um pouco ao sabor da actualidade, um pouco ao encontro de leituras interessantes.

Venezuela
A situação na Venezuela parece agravar-se de dia para dia, e ainda ontem João Almeida Dias deu-lhe conta disso no Observador emO país onde há filas para derrubar o governo. Sobre esta mesma situação vale a pena ler a análise do Joel D. Hirst's BlogThe Suicide of Venezuela. Por exemplo:
Tonight there are no lights. (…) They blame the weather – the government does – like the tribal shamans of old who made sacrifices to the gods in the hopes of an intervention. There is no food either; they tell the people to hold on, to raise chickens on the terraces of their once-glamorous apartments. There is no water – and they give lessons on state TV of how to wash with a cup of water. The money is worthless; people now pay with potatoes, if they can find them. Doctors operate using the light of their smart phones; when there is power enough to charge them. Without anesthesia, of course – or antibiotics, like the days before the advent of modern medicine.

A hora legal
Muitos se interrogam porque razão tem Portugal uma hora legal diferente da espanhola. Em Espanha fazem o mesmo, mas olhando com inveja para o lado de cá da fronteira. Pelo menos é o que se depreende deste texto do El Mundo, ¿Cómo viviríamos con la misma hora de Portugal? Eis como o tema é introduzido: “Terminar la jornada laboral a las 18 horas y así mejorar la conciliación entre el trabajo y la vida personal. Volver al huso horario GMT+0 para reconciliar a España con su hora solar. (…) Dos propuestas de conciliación que han vuelto a despertar el interés y avivan viejas preguntas: ¿somos realmente los más 'tardones' de Europa?, ¿es la solución volver a Greenwich?” E a conclusão, depois de uma exaustiva análise dos hábitos de vários países: “En definitiva, las dos medidas que propone Mariano Rajoy implicarían acercarnos a las costumbres de Italia. La duración del periodo de actividad productiva sería de unas 11 horas, un valor alto en relación a Europa, pero en la media de lo que hacen portugueses e italianos. Un efecto adicional es que 'desperdiciaríamos' una hora de luz por la mañana a la vez que 'invadiríamos' una hora de la noche.”

História de II Guerra
Foi recentemente publicado em Espanha um livro da historiadora Lyuba Vinogradova, habitual colaboradora de Antony Beevor, e que aborda a história da aviação de guerra no feminino. É sobreLas brujas de la noche que o El Pais escreve. Pequena passagem: “Cuando veo un aeroplano con las cruces negras y la esvástica en la cola, tengo un solo sentimiento: odio; esa emoción hace que apriete aún más firmemente el disparador de mis ametralladoras”, decía la frágil y minúscula, pero tan corajuda y vital, Lilya Litvyak, la Chica Vengadora, el Lirio Blanco de Stalingrado y Kursk, a la que se atribuía haber derribado a un as de ases alemán, que quedó patidifuso cuando le presentaron al rival que le había vencido. Se dice que trató de besarle la mano, pero Vinagrodova apunta que es un cuento de la propaganda.”

Crise dos media
O problema de sustentabilidade dos jornais não é um problema português. Em Inglaterra, onde recentemente um diário importante, o The Independent, abandonou a edição impressa e passou a estar presente apenas online, há problemas noutros órgãos de informação. É a situação difícil de um deles, o icónico The Guardian, que o Financial Times analisa em The Guardian: Dark days for a liberal beacon. Os números dos prejuízos são impressionantes: “The Guardian has long suffered from over-optimism about revenues and an ingrained inability to control costs. Mr Miller warned after his arrival in 2010 that it had to cut losses to become sustainable, and made some progress before his departure. But operating losses rose to £52m in the year to March, and the cash reserve on which it depends fell to £743m from £838m. At this rate, it could be exhausted in less than a decade.” Infelizmente, mesmo com números de uma outra dimensão, trata-se de uma história que conhecemos bem.

30 anos de Chernobyl
Completaram-se esta semana 30 anos sobre o desastre de Chernobyl, uma calamidade numa central nuclear que acabaria por ajudar a precipitar a queda da União Soviética, como Manuel Louro recordou num especial do Observador esta semana - E a União Soviética a radiação levou. Entre os muitos trabalhos que recordaram esse desastre, encontrei na Spiegel uma abordagem surpreendente: a ideia de que, afinal, a radiação pode não fazer tão mal quanto se pensa. Em The Chernobyl Conundrum: Is Radiation As Bad As We Thought? é isso mesmo que se defende, começando por notar o seguinte paradoxo: “Those who travel to Chernobyl today will feel like they are entering a nature paradise. In the area surrounding the reactor that was the epicenter of the disaster, there are once again wolves and Przewalski horses -- and even European bison and lynx have now infiltrated the uninhabited forests. There are probably more animals living in the area than before the disaster. The still-elevated radiation seems to be less damaging to nature than humans are.”

E por esta semana (e este mês de Abril) é tudo. Tenham um bom fim-de-semana, reencontramo-nos na próxima segunda-feira.

 
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