As “ingerências externas” fizeram novamente parte do discurso governamental. Oposição fala de “elites que se perpetuam no poder”
A diplomacia nacional considerou que África continua refém dos critérios e prioridades de intervenção dos parceiros externos, dificuldades que influenciam de forma negativa o seu crescimento sustentável.
A situação foi descrita pelo secretário de Estado do Ministério das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, no seu discurso de abertura de uma conferência para assinalar, na quarta-feira, o Dia de África, que trouxe à capital o ex-primeiro ministro de Cabo Verde, José Maria Neves.
O governante angolano lamentou ainda que os actuais recursos da União Africana sejam extremamente limitados, sendo as fontes externas a alternativa para a execução dos vários programas e projectos iniciados pelos órgãos da organização.
“Esta situação torna a nossa organização continental vulnerável às manobras externas e levanta a questão da preservação das independências e soberanias africanas”, disse Manuel Augusto.
Acrescentou que enquanto permanecer esta situação “haverá o risco potencial do surgimento de conflitos incitados a partir do exterior”.
“É imperativo que África identifique fontes inovadoras de financiamento para impulsionar o seu processo de integração económica e política”, referiu o secretário de Estado angolano.
Manuel Augusto enumerou grandes problemas que o continente africano ainda enfrenta, relativamente ao crescimento demográfico, globalização, escassez de recursos financeiros, ineficiência das economias, falta de contribuição dos Estados-membros, resolução, gestão e prevenção de conflitos, ingerência externa, terrorismo, entre outros.
“É imperativo que construamos um continente unido e forte, onde os povos partilhem uma identidade africana comum, evitando deste modo que ingerências externas nos levem à fragmentação e separação”, frisou.
O secretário de Estado reafirmou que a diplomacia angolana vai continuar a criar condições para enfrentar os grandes desafios internacionais e a aprofundar as relações político-diplomáticas, de cooperação económica, científica, técnica com os parceiros internacionais em geral.
A conferência em torno de uma análise da “África do Século XXI” teve como oradores, além de José Maria Neves, o jurista Carlos Feijó e o padre e professor universitário Jerónimo Cahianga.
A oposição
A UNITA lamentou que África continue com problemas por resolver depois de ultrapassado o colonialismo e conquistada a independência, por falta de vontade política da maior parte das elites dirigentes.
Numa declaração alusiva ao dia de África, o partido critica as elites que se perpetuam no poder durante décadas, tornando-se incapazes de construir sociedades justas, equilibradas e reconciliadas.
Para a UNITA, este quadro afecta profundamente a vida de milhões de africanos que vivem abaixo dos níveis de pobreza, enquanto elites minoritárias de dirigentes do continente continua a enriquecer-se cada vez mais.
“O caso angolano é paradigmático e ilustra bem a situação de muitos países africanos, vítimas da longevidade de poderes autocráticos, violadores dos direitos humanos, que promovem a má governação, a corrupção, o nepotismo, a exclusão, a intolerância, a má gestão e os desvios do erário público e a chamada acumulação primitiva da riqueza”, lê-se no documento.
Também a CASA-CE criticou que, decorridos 53 anos, os valores que inspiraram a criação da União Africana e os principais objectivos preconizados, ainda não tenham sido alcançados na maior parte dos países africanos.
A CASA-CE sublinha que centenas de anos após África ter sido colonizada pela Europa, o continente continua a ser adiado, “sem perspectiva que visa modificar num curto espaço de tempo o quadro sombrio em que estão mergulhados a maioria dos seus países, apesar das enormes potencialidades económicas existentes”.
“O Conselho Presidencial da CASA-CE considera que a África deve aprofundar e concretizar os parâmetros da democracia pluralista, constituindo instituições fortes e credíveis, capazes de impedir a eternização do poder político pelos líderes africanos”, destaca a nota.
Lusa, em Rede Angola – Foto: Manuel Augusto secretário de Estado das Relações Exteriores / Santos Pedro/JAImagens
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