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Razões culturais mas também falta de apoio contribuem para o fenómeno.
O risco é mais elevado nos homens com mais de 75 anos e doenças crónicas incapacitantes.
Escondido, muitas vezes dentro das próprias famílias, o suicídio de idosos em Portugal atinge números negros: segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2014, 491 portugueses com mais de 65 anos puseram termo à vida, mais 42 pessoas do que no ano anterior.
O combate à solidão e maiores redes de apoio social e saúde mental são vistos como determinantes para diminuir o sofrimento dos mais velhos. Em Portugal continuam a faltar respostas.
Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, os suicídios de idosos perfazem 40% do total e a população mais velha apresenta as taxas de mortalidade mais elevadas por esta causa, em particular os homens com mais de 75 anos.
Em 2014, 311 pessoas com mais de 75 anos puseram termo à vida, 76 das quais com 85 anos ou mais.
Nos últimos anos, a nível mundial, tem havido um aumento das taxas de suicídio em grupos populacionais mais jovens, um fenómeno ligado ao abuso de bebidas alcoólicas, mas também à crise social e económica.
Em Portugal, de 2013 para 2014 registou-se um aumento da taxa de suicídio entre os 55 e os 64 anos para o valor mais elevado desde 2004, mas os números mais elevados persistem na população acima dos 75 anos.
Encurralados Na linha SOS Voz Amiga – que presta apoio confidencial em situações agudas de solidão, ansiedade, depressão e risco de suicídio –, esta é uma realidade conhecida e que gera muita apreensão, pela constatação de que há muito por fazer.
Maria Azenha, vice--presidente da associação, testemunha que muitos idosos que os contactam se sentem “encurralados”. Pelo abandono, por perdas económicas, por perda dos companheiros de uma vida inteira ou outras relações familiares, mas também pela diminuição da sua autonomia física e por doenças crónicas.
Por vezes, tudo começa com o fecho do ciclo profissional, acrescenta a responsável. “A reforma, muitas vezes, fá--los sentirem-se diminuídos no seu estado, como um ser humano que facilmente passa de útil para inútil, contribuindo assim para o seu isolamento social.”
Em 2015, dos 3433 contactos recebidos na linha SOS Voz Amiga, 437 eram pessoas entre os 56 e os 65 anos. Acima dos 65 anos receberam-se 381 apelos. Apesar de não serem quem mais liga, são os que mais vezes referem a ideia de suicídio, refere Maria Azenha.
“São mais frequentes os casos de depressão, sucedendo-se ou convivendo simultaneamente com forte vivência de solidão, abandono e até bullying familiar.” Uma nuvem a que se soma, muitas vezes, um forte sentimento de culpa.
Ricardo Gusmão, psiquiatra à frente da associação EUTIMIA – Aliança Europeia Contra a Depressão em Portugal, explica que razões culturais contribuem para o fenómeno, assim como o peso da depressão e de outras doenças mentais.
O estreitamento da base da pirâmide populacional, a desvalorização do papel social dos mais velhos, a disfunção do papel da família alargada, situações de carência social mais frequentes nos mais velhos, tudo contribui para as taxas mais elevadas entre os idosos, justifica, sublinhando que importa reconhecer o peso da saúde mental na maioria dos casos.
“A solidão não mata, pode é contribuir para a depressão e a disfunção cognitiva e social. E esse processo mórbido pode levar ao suicídio.”
Mais apoios Para Maria Azenha, a sociedade ainda está longe de responder devidamente a esta realidade, um problema transversal na área da doença mental e das carências dos idosos. Existe o estigma de falar sobre a ideia de morte, diz a responsável da SOS Voz Amiga.
Daí oferecerem uma linha de apoio anónimo que funciona entre as 16h e as 24h e aceita ouvir e falar sem constrangimentos de ordem moral, sexual, religiosa ou política.
Mas as necessidades vão muito além de alguém que escute. Maria Azenha remete para o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio 2013-2017, que propõe mais campanhas de sensibilização, promoção de atividades de combate ao isolamento ou horários mais alargados nas linhas de apoio.
E define bem os fatores de risco: sexo masculino, perdas cumulativas, alcoolismo, desespero e angústia, acesso a meios legais, dificuldade em aceitar o envelhecimento e as suas limitações e maior vulnerabilidade a crises económicas.
Álvaro Carvalho, responsável pelo Programa Nacional para a Saúde Mental, reconhece que o grupo dos idosos é dos mais vulneráveis e admite que tem havido alguma demora na implementação das medidas. Foi proposto, por exemplo, às administrações regionais de saúde que iniciassem a monitorização dos idosos isolados, o que ainda não acontece.
“Quem tem feito um bom trabalho nesta área é a GNR”, diz o responsável, admitindo que é necessária uma maior articulação.
Fonte: jornal I
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