Fernando Santos não se amedronta perante
a França e quer fazer história ao leme da seleção.
Em vésperas da primeira final em
território estrangeiro da história da seleção portuguesa, Fernando Santos não
se deixou vergar pela pressão e apareceu visivelmente bem disposto na
conferência de imprensa de antevisão ao Portugal-França, que deseja vencer.
Adeus de Cristiano Ronaldo à seleção: É
uma final, pelo que sim, será a final de Cristiano Ronaldo… Mas ele terá mais
uns dez anos à frente, por isso não será seguramente o último jogo.
Favoritismo de França: Antes do
Campeonato da Europa, quando foi o sorteio, sempre disse que Portugal era um
dos candidatos a disputar a final e a vencê-la, mas, quando me questionavam,
dizia que haviam três favoritos: os campeões europeus [Espanha], os campeões do
mundo [Alemanha] e a França, que jogava em casa e tem uma seleção enorme. Tendo
França chegado à final, e tendo em casa que joga em casa e todo o seu
potencial, é natural que seja considerada favorita. Não me parece nada de
estranho. Mas entre ser favorita e ter de ganhar, é outra história, porque
acredito que quem ganha é Portugal.
Não é a melhor final: Então qual era a
melhor final? Não é a melhor porquê? Uma coisa é pensar, outra é a verdade.
Posso pensar muita coisa, mas quem está na final é Portugal. E só pode ter
chegado à final porque ganhou as outras finais anteriores. É a final do Euro
2016 e aquela que merecia ser.
França pressionada por jogar em casa:
Existe sempre alguma pressão, é normal. Portugal já teve essa experiência em
2004. Mas os jogadores que normalmente estão nas finais são experientes, jogam
nas melhores equipas do mundo, estão fartos de disputar jogos de altíssima
intensidade. Nalguns casos até disputaram a final da Liga dos Campeões. É gente
muito experiente e que, com um treinador muito experiente como Didier
Deschamps, estará a tratar desse assunto. A mim compete-me tratar da forma como
a minha equipa se deve apresentar em campo de forma a que consiga fazer aquilo
que ambiciona, que é vencer.
O que mudou desde 2004: Estava a fazer
comentários do jogo, sofrendo muito por Portugal. Era um jogo de capital
importância, jogávamos em casa. Sofri muito, mas é diferente. Uma coisa é estar
na bancada como comentador, outra é estar no banco da equipa portuguesa, por
isso é natural que o estado de espírito seja diferente. Para já porque tenho de
ter capacidade para pensar. Quando estou a fazer comentários perco o raciocínio
e começo a puxar pela equipa. Desta vez tenho de por a cabeça a funcionar para
encontrar as melhores soluções para a equipa. Com o mesmo fanatismo de querer
que Portugal ganhe, mas tendo a cabeça lúcida para poder levar Portugal a
vencer.
Fraco historial com França: Nunca houve
uma final Portugal-França. Essa história tem a ver com meias-finais, esta é a
primeira final e acredito que Portugal vai marcar a história na final.
Percurso da seleção: Era natural que
fosse um percurso ascendente. Só podia ser. É preciso notar que aquilo que era
a base desta equipa, que é o meio-campo, a maioria não está aqui. Temos a
possibilidade de, graças à formação, podermos colmatar essas baixas. Obviamente
que durante toda a fase de apuramento havia uma determinada organização que
vinha a ser trabalhada com determinados jogadores. Chegámos ao Campeonato da
Europa com um meio-campo completamente novo. É normal que tenha de haver
entrosamento. Ao nível de seleção é muito difícil fazer esse trabalho, só o
jogo é que vai dando entrosamento. É natural que Portugal venha a crescer e o
futuro é risonho.
Mensagem aos portugueses: Que acreditem
tanto como eu, como os meus jogadores, como todo o staff, como o presidente,
que, desde a primeira hora, quando apostou em mim, já foi um risco. Ele
acreditou, confiou. É um homem que está sempre ao nosso lado, com aquela sua
forma de estar muito low-profile. É nisso que os portugueses têm que acreditar:
aqui há um só grupo que tudo vai fazer para dar àqueles que estão cá e lá
dar-lhes a maior alegria de sempre no futebol.
Arbitragem: Vão estar três grandes
equipas em campo. Duas para jogar o jogo e outra para o definir. É um árbitro
conceituadíssimo e não tenho dúvidas nenhumas de que vai fazer o seu melhor,
como cada um de nós, para dar um grande espetáculo.
Equipa mais forte do que no início: Mais
confiante não, a equipa sempre teve muita confiança. Mas obviamente que este
foi um processo de crescimento. A confiança mantém-se, mas é normal que o
entrosamento leva a que a equipa se sinta melhor.
Cabelo de Quaresma: É espetacular,
fantástico. Dei-lhe os parabéns logo quando o vi, é uma obra de arte.
Mudança de mentalidade: Já tinha tido
uma experiência de quatro anos numa seleção, foi aí que descobri o que era ser
selecionador e isso ajudou-me muito porque quando somos treinadores de clube
achamos que tudo é igual. Não é nada disso, são trabalhos distintos. Cada
treinador tem a sua forma de estar e vai sempre mudar alguma coisa. Temos o
nosso cunho pessoal e isso é perfeitamente normal, não tira qualidade a quem
saiu nem a quem vier.
Críticas de franceses: O que quero é que
continuem a dizer a mesma coisa, que Portugal ganhou sem merecer. Isso é que eu
gostava. Ia todo contente para casa, e vou.
Nova geração de jogadores: Trazem
irreverência e às vezes um bocadinho de utopia. Não têm noção da própria
realidade e isso é positivo. Às vezes precisamos de algo novo e é isso que
esses jovens trazem, mas porque têm qualidade, porque se não tivessem não dava
jeito nenhum. Isso, conjugado com a experiência ganhadora… Quem nunca ganhou
não sabe o que é ganhar e não lhe toma o gosto, e eu tenho aqui alguns que têm
uma tremenda experiência em ganhar e vão continuar a fazê-lo.
Dominar a França: França tem vindo num
processo de transformação. Iniciou o Euro jogando de uma determinada forma, com
dois no meio-campo. Depois foi mudando o seu processo e, no último jogo,
apresentou-se com Griezmann no apoio ao ponta-de-lança. Foram jogos muito
diferentes. O jogo com a Alemanha também foi muito próprio, o Deschamps estudou
muito bem a Alemanha, preparou-se para aquilo que o esperava. França, com toda
a sua enorme qualidade, teve a capacidade de respeitar a equipa da Alemanha,
para depois poder vencer o jogo. Não acredito que vá jogar da mesmo forma. Irá
tentar entrar forte no jogo, pressionar Portugal, e nós vamos tentar responder
bem.
Papel de Cristiano Ronaldo: Fui treinador
dele há 13 anos no Sporting. Foi pouco tempo. Pu-lo a jogar e no dia a seguir
foi para Manchester. Já nessa altura era um fenómeno. 18 anos de talento, de
vontade de ganhar, de determinação, era um jogador impressionante e não parou
de evoluir. É um ganhador por excelência e quer sempre mais. Ainda hoje é igual
a si próprio. Quer fazer melhor em todos os treinos, fica zangado consigo
próprio quando as coisas não funcionam bem e, naturalmente, esta capacidade de
ser capitão da equipa é cada vez mais notória. Toda a gente reconhece isso.
Vingança: Portugal não joga contra
ninguém, Portugal vai defrontar França, que é uma equipa fantástica. É um
confronto de duas grandes equipas e nós, com o enorme respeito que temos pela
equipa francesa, centramo-nos sempre naquilo que temos de fazer. Faz parte
disso conhecer o adversário. Estamos centrados em encontrar a nossa própria
estratégia e com ela defrontar essa grande equipa e vencer o jogo.
Derrota com França: Jogos diferentes.
França ganhou os dois jogos mas são características diferentes. Era um momento
de experiência. São contextos distintos, em que não havia pontos a ganhar.
Amanhã estamos a falar de uma final e as finais não se jogam, ganham-se. O que
vamos tentar fazer é, com toda a humildade e talento, vencer esse jogo.
Fonte: noticiasaominuto
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