domingo, 10 de julho de 2016

“Escrevam que Portugal ganhou sem merecer. Isso é que eu gostava”

Fernando Santos não se amedronta perante a França e quer fazer história ao leme da seleção.
Em vésperas da primeira final em território estrangeiro da história da seleção portuguesa, Fernando Santos não se deixou vergar pela pressão e apareceu visivelmente bem disposto na conferência de imprensa de antevisão ao Portugal-França, que deseja vencer.

Adeus de Cristiano Ronaldo à seleção: É uma final, pelo que sim, será a final de Cristiano Ronaldo… Mas ele terá mais uns dez anos à frente, por isso não será seguramente o último jogo.

Favoritismo de França: Antes do Campeonato da Europa, quando foi o sorteio, sempre disse que Portugal era um dos candidatos a disputar a final e a vencê-la, mas, quando me questionavam, dizia que haviam três favoritos: os campeões europeus [Espanha], os campeões do mundo [Alemanha] e a França, que jogava em casa e tem uma seleção enorme. Tendo França chegado à final, e tendo em casa que joga em casa e todo o seu potencial, é natural que seja considerada favorita. Não me parece nada de estranho. Mas entre ser favorita e ter de ganhar, é outra história, porque acredito que quem ganha é Portugal.

Não é a melhor final: Então qual era a melhor final? Não é a melhor porquê? Uma coisa é pensar, outra é a verdade. Posso pensar muita coisa, mas quem está na final é Portugal. E só pode ter chegado à final porque ganhou as outras finais anteriores. É a final do Euro 2016 e aquela que merecia ser.

França pressionada por jogar em casa: Existe sempre alguma pressão, é normal. Portugal já teve essa experiência em 2004. Mas os jogadores que normalmente estão nas finais são experientes, jogam nas melhores equipas do mundo, estão fartos de disputar jogos de altíssima intensidade. Nalguns casos até disputaram a final da Liga dos Campeões. É gente muito experiente e que, com um treinador muito experiente como Didier Deschamps, estará a tratar desse assunto. A mim compete-me tratar da forma como a minha equipa se deve apresentar em campo de forma a que consiga fazer aquilo que ambiciona, que é vencer.

O que mudou desde 2004: Estava a fazer comentários do jogo, sofrendo muito por Portugal. Era um jogo de capital importância, jogávamos em casa. Sofri muito, mas é diferente. Uma coisa é estar na bancada como comentador, outra é estar no banco da equipa portuguesa, por isso é natural que o estado de espírito seja diferente. Para já porque tenho de ter capacidade para pensar. Quando estou a fazer comentários perco o raciocínio e começo a puxar pela equipa. Desta vez tenho de por a cabeça a funcionar para encontrar as melhores soluções para a equipa. Com o mesmo fanatismo de querer que Portugal ganhe, mas tendo a cabeça lúcida para poder levar Portugal a vencer.

Fraco historial com França: Nunca houve uma final Portugal-França. Essa história tem a ver com meias-finais, esta é a primeira final e acredito que Portugal vai marcar a história na final.

Percurso da seleção: Era natural que fosse um percurso ascendente. Só podia ser. É preciso notar que aquilo que era a base desta equipa, que é o meio-campo, a maioria não está aqui. Temos a possibilidade de, graças à formação, podermos colmatar essas baixas. Obviamente que durante toda a fase de apuramento havia uma determinada organização que vinha a ser trabalhada com determinados jogadores. Chegámos ao Campeonato da Europa com um meio-campo completamente novo. É normal que tenha de haver entrosamento. Ao nível de seleção é muito difícil fazer esse trabalho, só o jogo é que vai dando entrosamento. É natural que Portugal venha a crescer e o futuro é risonho.

Mensagem aos portugueses: Que acreditem tanto como eu, como os meus jogadores, como todo o staff, como o presidente, que, desde a primeira hora, quando apostou em mim, já foi um risco. Ele acreditou, confiou. É um homem que está sempre ao nosso lado, com aquela sua forma de estar muito low-profile. É nisso que os portugueses têm que acreditar: aqui há um só grupo que tudo vai fazer para dar àqueles que estão cá e lá dar-lhes a maior alegria de sempre no futebol.

Arbitragem: Vão estar três grandes equipas em campo. Duas para jogar o jogo e outra para o definir. É um árbitro conceituadíssimo e não tenho dúvidas nenhumas de que vai fazer o seu melhor, como cada um de nós, para dar um grande espetáculo.

Equipa mais forte do que no início: Mais confiante não, a equipa sempre teve muita confiança. Mas obviamente que este foi um processo de crescimento. A confiança mantém-se, mas é normal que o entrosamento leva a que a equipa se sinta melhor.

Cabelo de Quaresma: É espetacular, fantástico. Dei-lhe os parabéns logo quando o vi, é uma obra de arte.

Mudança de mentalidade: Já tinha tido uma experiência de quatro anos numa seleção, foi aí que descobri o que era ser selecionador e isso ajudou-me muito porque quando somos treinadores de clube achamos que tudo é igual. Não é nada disso, são trabalhos distintos. Cada treinador tem a sua forma de estar e vai sempre mudar alguma coisa. Temos o nosso cunho pessoal e isso é perfeitamente normal, não tira qualidade a quem saiu nem a quem vier.

Críticas de franceses: O que quero é que continuem a dizer a mesma coisa, que Portugal ganhou sem merecer. Isso é que eu gostava. Ia todo contente para casa, e vou.

Nova geração de jogadores: Trazem irreverência e às vezes um bocadinho de utopia. Não têm noção da própria realidade e isso é positivo. Às vezes precisamos de algo novo e é isso que esses jovens trazem, mas porque têm qualidade, porque se não tivessem não dava jeito nenhum. Isso, conjugado com a experiência ganhadora… Quem nunca ganhou não sabe o que é ganhar e não lhe toma o gosto, e eu tenho aqui alguns que têm uma tremenda experiência em ganhar e vão continuar a fazê-lo.

Dominar a França: França tem vindo num processo de transformação. Iniciou o Euro jogando de uma determinada forma, com dois no meio-campo. Depois foi mudando o seu processo e, no último jogo, apresentou-se com Griezmann no apoio ao ponta-de-lança. Foram jogos muito diferentes. O jogo com a Alemanha também foi muito próprio, o Deschamps estudou muito bem a Alemanha, preparou-se para aquilo que o esperava. França, com toda a sua enorme qualidade, teve a capacidade de respeitar a equipa da Alemanha, para depois poder vencer o jogo. Não acredito que vá jogar da mesmo forma. Irá tentar entrar forte no jogo, pressionar Portugal, e nós vamos tentar responder bem.

Papel de Cristiano Ronaldo: Fui treinador dele há 13 anos no Sporting. Foi pouco tempo. Pu-lo a jogar e no dia a seguir foi para Manchester. Já nessa altura era um fenómeno. 18 anos de talento, de vontade de ganhar, de determinação, era um jogador impressionante e não parou de evoluir. É um ganhador por excelência e quer sempre mais. Ainda hoje é igual a si próprio. Quer fazer melhor em todos os treinos, fica zangado consigo próprio quando as coisas não funcionam bem e, naturalmente, esta capacidade de ser capitão da equipa é cada vez mais notória. Toda a gente reconhece isso.

Vingança: Portugal não joga contra ninguém, Portugal vai defrontar França, que é uma equipa fantástica. É um confronto de duas grandes equipas e nós, com o enorme respeito que temos pela equipa francesa, centramo-nos sempre naquilo que temos de fazer. Faz parte disso conhecer o adversário. Estamos centrados em encontrar a nossa própria estratégia e com ela defrontar essa grande equipa e vencer o jogo.

Derrota com França: Jogos diferentes. França ganhou os dois jogos mas são características diferentes. Era um momento de experiência. São contextos distintos, em que não havia pontos a ganhar. Amanhã estamos a falar de uma final e as finais não se jogam, ganham-se. O que vamos tentar fazer é, com toda a humildade e talento, vencer esse jogo.


Fonte: noticiasaominuto

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