terça-feira, 9 de agosto de 2016

Portas é administrador de quatro empresas. Sem incompatibilidade

Paulo Portas foi nomeado administrador não executivo (consejero independiente) de quatro empresas do grupo petrolífero mexicano Pemex, mas não cai na alçada de eventuais incompatibilidades como antigo governante e ex-deputado.

Aquele que foi vice-primeiro-ministro do governo PSD-CDS vai ocupar na holding Mex Gas Enterprises SL, e nas subsidiárias Mex Gas Internacional, Mex Gas Supply e Mex Gas Trading (todas sediadas em Madrid), o lugar que foi de Vuk Jeremic, antigo presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da Sérvia. E Portas terá idênticas funções de análise estratégica e avaliação de riscos e oportunidades económicas em mercados, países e regiões onde atua a Pemex. Desde 29 de julho, na holding, e de 4 de agosto, nas outras três empresas, que o ex-líder do CDS é consejero independiente externo, um cargo remunerado equivalente a administrador não executivo.

Na Assembleia da República, a Comissão Eventual para o Reforço da Transparência no Exercício de Funções Públicas tem entre mãos também a discussão sobre o período de nojo que um político deve observar depois de deixar as suas funções.

A Pemex está atenta ao que se passa em mercados como o Brasil, os Estados Unidos e a Espanha e às consequências do brexit (a saída da Grã-Bretanha da União Europeia). O grupo mexicano tem um acordo com a Galp ("confidencial" durante 12 anos, que só será divulgado em 2026), mas trata-se de um memorando assinado por duas empresas privadas, à partida sem nada que se relacione com o Estado português.

É por aqui que se fará a distinção entre a contratação de Portas pelos mexicanos e a de Maria Luís Albuquerque pela Arrow Global, uma empresa britânica que investiu no crédito malparado em Portugal, incluindo o Banif, banco que está sob tutela do Estado, como notou "em abstrato" ao DN o deputado socialista Pedro Delgado Alves, membro da comissão.

O caso de Portas "não encaixará" numa incompatibilidade, admitiu Delgado Alves. Nas páginas do jornal i, o deputado do BE Pedro Soares dizia ontem que esta contratação "suscita dúvidas". Ao DN, fonte próxima do antigo presidente centrista ironizou, afirmando que, para o BE, Portas devia ser "reformado à custa do contribuinte" ou que se "apresentasse a um balcão de rendimento mínimo", notando que o ex-governante "toda a vida trabalhou e continuará a trabalhar" fora da política.

Portas já disse que ia abrir sete capítulos novos na sua vida. "Eu mudei radicalmente de vida. Vou fazer sete coisas ao mesmo tempo", antecipou a 7 de junho. E enumerou então essas sete coisas: vai "ter um programa na televisão, dar aulas na universidade, promover exportações na Câmara de Comércio, ajudar à internacionalização de uma grande companhia portuguesa como a Mota-Engil, fazer consultoria estratégica no Golfo e na América Latina" e "participar em conferências e em palestras várias".

Comissão regressa em setembro

A comissão parlamentar que debate a transparência na vida política - suscitada pelo caso da contratação da ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque pela Arrow Global - tem neste momento em apreciação três projetos de lei, um sobre a "transparência do exercício de cargos políticos e de altos cargos públicos", outro que "regulamenta a atividade de representação profissional de interesses" e um sobre "enriquecimento injustificado".

É neste contexto que se fará o debate sobre a separação entre política e negócios. Nos EUA, na Bélgica e na França, há um ano de período de nojo após o fim do mandato de senadores e deputados. No Brasil, a lei 2813/2013 reduz esse período a seis meses. Só na União Europeia o período de nojo é maior: um ano e meio. Mas mesmo um intervalo destes não livra de polémica atores políticos. Durão Barroso que o diga.


DN

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