Faltam poucas horas para que o dia 20 de Agosto em Timor-Leste termine. Por lá, nos confins do sudeste asiático, na fronteira com a Oceânia, são 8 horas da noite (à hora a que estamos a escrever este pequeno apontamento). Tem sido um dia de festividade, um feriado, as comemorações dos 41 anos da fundação das FALINTIL, a força armada da resistência timorense ao ocupante sanguinário indonésio.
Apesar de o dia estar a terminar por lá, a já menos de 4 horas disso, não vislumbramos nas notícias da Lusa referência às comemorações. Nem uma simples palavra. As notícias e referências em tétum têm sido profusas. Se acaso a Lusa já dispensou manter os seus serviços em Timor-Leste podia ao menos encontrar em Portugal quem traduzisse de tétum (idioma nacional timorense) para português o que por lá ocorreu no âmbito dessas importantes comemorações. Um simples apanhado de um conjunto de várias “janelas” de informação em tétum seriam o bastante para abordar o acontecimento. Mas não. O método mantém-se e o uso e abuso das falhas da Agência Lusa, de quem a dirige e coordena ressalta quase todos os anos em acontecimentos importantes ocorridos em Timor-Leste. Não só em Timor-Leste mas principalmente em Timor-Leste. Longe de admitirmos que a responsabilidade é dos jornalistas que para lá são destacados. A responsabilidade cabe aos que dispõem no tabuleiro das prioridades o que abandonam, quando abandonam, quando substituem correspondentes ou nem por isso. Usam a tradicional expressão portuguesa “que se lixe” em vez de usarem a gestão correta dos correspondentes nos países da lusofonia. Como é o caso de Timor-Leste. Se assim não é tem de haver outra explicação para a insistente repetição da situação. Não se pretende com este reparo ou crítica (se quiserem) desconstruir mas sim construir. Era perfeitamente possível, antes da data e das comemorações, fazer um trabalho alusivo e marcante da mesma. A prova - de 2015 - segue já mais em baixo num trabalho de António Sampaio, um dos melhores profissionais da Lusa em serviço (intermitente) em Timor-Leste.
Felizmente que, apesar disso, nada se perde, tudo se transforma. A fim de não deixarmos que a data de 20 de Agosto, relativa a Timor-Leste, não tivesse algo importante a marcá-la recorremos a um trabalho da Lusa com um dos principais fundadores e ex-Comandante em Chefe das FALINTIL, Rogério Lobato. Com agrado e muito reconhecimento o apresentamos, embora a mini-entrevista reporte ao ano que passou, 2015. Por isso não deixa de ser muito importante para quem a desconhece e se interessa por Timor-Leste, seu povo, sua história, seu presente, seu futuro.
Diz o adágio português que “quando não se tem cão caça-se com gato”. Importa é caçar para satisfazer o nosso sustento. Neste caso o que importa é fazer referência destacada às FALINTIL e à data da sua fundação, dignamente comemorada com alto significado em Timor-Leste – conforme o noticiário do país, em tétum (que pode ver em Timor Agora).
Mário Motta / PG
Ex-comandante das Falintil reconhece erros do passado, defende união timorense
O ex-comandante das Falintil, braço armado da resistência timorense, Rogério Lobato, reconheceu hoje que na luta pela libertação de Timor-Leste "se cometeram alguns erros" e que o objetivo só foi alcançado pela união dos timorenses.
"Muitas vezes a revolução devora os seus próprios filhos", disse Rogério Lobato, numa conferência sobre o 40.º aniversário da fundação das Forças Armadas de Libertação de Timor-Leste (Falintil), um dos pilares da resistência timorense e da luta pela independência do país.
"Lutámos por defender o povo. Mas todos nós cometemos erros e, algumas vezes, nós próprios matámos os nossos irmãos. Temos que reconhecer isto. E espero que um dia os líderes da Fretilin possam falar sobre isso", disse.
A conferência de hoje insere-se nas atividades que desde a semana passada assinalam o 40.º aniversário das Falintil e cujo ponto alto será quinta-feira, com as comemorações oficiais em Taci Tolo, a oeste de Díli.
Criadas como braço armado da Fretilin (Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente), as Falintil começaram a marcar o seu papel na história timorense a 15 de agosto de 1975, altura em que foi lida, na localidade de Aisirimou, próximo de Aileu, a sul de Díli, a "Declaração de insurreição Armada".
Esse momento foi recordado esta semana com uma cerimónia de homenagem em que participaram os principais dirigentes timorenses.
Em 1987 as Falintil tornaram-se apartidárias e consolidaram-se como braço armado da resistência à ocupação indonésia.
Depois da independência de Timor-Leste, as Falintil transformaram-se nas Forças Defesa de Timor-Leste (F-FDTL) pelo que a cerimónia de 20 de agosto inclui uma parada militar, um minuto de silêncio e a condecoração, promoção e passagem à reforma de quadros das F-FDTL.
Na sua intervenção, Lobato recordou os momentos que se viveram aquando da fundação das Falintil, da captura dos soldados portugueses em Aileu e Díli, da guerra civil com a UDT e de outros membros da história do movimento pró-independência em Timor-Leste.
"Houve momentos bons, outros menos bons. Lutámos uns contra os outros. Algumas coisas foram resolvidas da forma incorreta. Não podemos aceitar que a revolução tenha morto os seus próprios filhos", recordou.
"Nós vencemos a luta. E agora temos que ser unidos, apesar das coisas que aconteceram, de modo a desenvolver este país. Temos que lutar por Timor, para que as crianças vivam num país melhor e não sofram o que nos sofremos", disse.
Na reta final da conquista da independência, disse, foi especialmente importante o papel da frente diplomática, destacando-se aqui "o papel e o apoio essencial de Portugal" e de figuras como Jorge Sampaio e Antonio Guterres.
"Esta foi uma luta coletiva, da frente armada, da frente clandestina, da frente diplomática, da igreja. Vencemos por causa da força coletiva", afirmou.
"E agora trabalhamos juntos, somos amigos. Não temos que pensar todos da mesma forma, mas podemos pensar todos no mesmo, o desenvolvimento do país", defendeu.
António da Conceição, ministro da Educação e moderador do debate, recordou a importância de momentos como este, porque "contar a história é muito importante, especialmente para a nova geração".
"Ajuda a continuar a cultivar o nosso nacionalismo, o nosso conhecimento como nação. Aqui não estamos num tribunal, estamos a juntar a informação, a ouvir a história", considerou.
ASP // JCS - Lusa
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