domingo, 21 de agosto de 2016

Angola. PORQUE PRECISAMOS AJUDAR O MPLA A DEMOCRATIZAR-SE

José Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião
O MPLA está a realizar o seu sétimo congresso em 59 anos anos de existência. Parecem-me poucos congressos para uma tão extensa vida política. Feitas as contas, temos uma média de um congresso de oito em oito anos. O número sugere um défice de qualidade (procurei uma expressão simpática) na democracia interna do partido no poder. Os camaradas conversam pouco entre si, porque quase nunca se encontram, e quando se encontram, a acreditar no mais-velho Ambrósio Lukoki, também não conversam: “aos militantes são impostas posições que têm de aprovar sem discussão”, afirmou.

O facto de José Eduardo dos Santos ser o único candidato à liderança do partido também não é um bom sinal. Das duas uma: ou o MPLA está de tal forma empobrecido de militantes com atributos de liderança que não consegue apresentar uma alternativa ao actual inquilino da Cidade Alta, ou os militantes têm medo de se assumir como concorrentes. A impressão que tenho é que ambas as situações são verdadeiras.

A UNITA, convenhamos, está a ganhar a corrida da democratização. Embora um pouco mais jovem do que o MPLA – o partido do galo negro foi fundado em 1966 – já realizou doze congressos. Nos últimos, como se sabe, foram apresentadas listas concorrentes à do presidente em exercício. O partido ainda tem um longo caminho a percorrer, como por exemplo afastar-se por completo da imagem de Jonas Savimbi, um homem cruel e tirânico, mas pelo menos já começou a percorrer esse caminho.

O MPLA perde com a incapacidade em democratizar-se e, logo, em modernizar-se. Na verdade, perdemos todos. Consigo imaginar uma transição para a democracia sem o MPLA, mas receio que esse movimento dificilmente ocorra de forma pacífica. Seria uma tragédia para o país e representaria, muito provavelmente, o fim do partido dos camaradas.

Não é possível escutar José Eduardo dos Santos no seu discurso contra os “falsos empresários”, sendo interrompido, a todo o instante, por unânimes salvas de palmas, sem experimentar um sentimento de violenta incredulidade: “Não devemos confundir estes empresários com os supostos empresários que constituem ilicitamente as suas riquezas, recebendo comissões a troco de serviços que prestam ilegalmente a empresários estrangeiros desonestos, ou que façam essas fortunas à custa de bens desviados do Estado ou mesmo roubados. Angola não precisa destes falsos empresários.”

É como escutar o Lobo Mau a defender o vegetarianismo, ao mesmo tempo que, alegremente, devora os três porquinhos.

O mais triste é que haverá sempre porquinhos a aplaudir – enquanto são devorados.

O regime de José Eduardo dos Santos está apodrecido. Arrasta-se a custo. Mal se mantém de pé. Todos sabemos disso. Contudo, não vejo ninguém a preparar-se para o dia seguinte. Vai sendo tempo de pensarmos nisso. O MPLA precisa da ajuda de todos para se democratizar.

Partidos políticos da oposição, revús, igrejas, organizações não governamentais, académicos independentes e as personalidades e correntes democráticas que ainda persistem no seio do MPLA, deveriam juntar-se num grande encontro que permitisse, por um lado, reflectir sobre a transição pacífica para a democracia, e, por outro, mostrar ao mundo que existe um pensamento angolano.

No fundo, trata-se de mostrar que existem alternativas à ditadura e também ao caos. Mostrar que quando José Eduardo dos Santos se for, a bem ou a mal, ainda haverá Angola. E que é possível construir, sem ele, uma Angola melhor.

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