quinta-feira, 27 de outubro de 2016

FIM DE UMA TRADIÇÃO? Vaqueiros protestam em Brasília

Paulo Roberto Campos
 FIM DE UMA TRADIÇÃO? Vaqueiros protestam em Brasília
Milhares vaqueiros nordestinos e trabalhadores vinculados às tradicionais “vaquejadas” fizeram, no dia 25 último, grande manifestação em Brasília: a “Marcha dos Vaqueiros. [fotos]
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Eles levaram seus cavalos e bois na manifestação e protestaram na Esplanada dos Ministérios contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de proibir as vaquejadas, nas quais vaqueiros em cavalgada tentam derrubar o bovino.

O STF alegou “maus tratos nos animais”, o que é negado pelos vaqueiros, que garatem que a prática nos últimos 10 anos foi regulamentada a fim de se assegurar a proteção dos animais, o que é fiscalizado por veterinários.
Zito Buarque (vaqueiro de Campina Grande, PB) disse que várias cidades do Nordeste vivem das vaquejadas, gerando trabalho para muitos na fabricação de ferraduras, arreios, criação de animais etc. Disse também que há muita desinformação sobre eventual sofrimento do animal: “Hoje o que existe é a vaquejada moderna. O boi hoje, quando corre, é com protetor de cauda. Não se pode mais usar espora e chicote. O animal cai na areia com 50 ou 60 centímetros para amortecer. No passado pode ter existido, mas hoje não há maus-tratos”.
Os vaqueiros defendem essa tradição do povo nordestino que, ademais, auxilia fortemente a economia dos estados e das famílias naquela região. Por isso, pedem ao STF a revogação da decisão, que poderá causar graves prejuízos financeiros, além de dano à cultura do Nordeste.
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A Secretaria da Agricultura do Estado da Bahia afirmou em nota ser favorável às vaquejadas. “A equideocultura é a segunda atividade econômica da pecuária nacional, e a Bahia possui o 1º plantel de equídeos nacional (Equinos, Muares e Asininos), o que contribui significativamente para a economia regional do setor agropecuário, responsável pela geração de milhares de postos de trabalho”, afirma a nota.
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Segundo estimativas da Associação Baiana de Vaquejada, “Atualmente são realizados mais de quatro mil eventos do tipo na Bahia, movimentando R$ 800 milhões por ano, e gerando cerca de 720 mil empregos, sendo 120 mil diretos e 600 mil indiretos”. O que é confirmado pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha e pela Associação Brasileira de Vaquejadas.

A respeito dessa tradição nascida no agreste nordestino — quando vaqueiros montados, usando trajes típicos e com muita habilidade, juntavam o gado no sertão — segue interessante artigo de Carlos Sodré Lanna, publicado na Revista Catolicismo, Nº 551, Novembro/1996.

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Vaquejadas e Rodeios

Carlos Sodré Lanna
Antigamente o gado e outros animais eram criados em campos e pastagens não divididos. O rodeio e a vaquejada anunciavam a separação e a entrega das reses aos seus respectivos donos. Daí o termo “apartação” ou “aparte”, reunião dos animais para contagem, tratamento de feridas e doenças, marcação, beneficiamento e transferência para outras partes. Com o aparecimento dos campos cercados esses métodos foram desaparecendo, e o que era trabalho foi virando festa e competição, como sucede nos rodeios e vaquejadas em nossos dias.
Os grandes rodeios começaram nos Estados Unidos no início do século XX. Hoje é competição popular no País. Na Final Nacional de Rodeios de Las Vegas, em 1991, o público pagante foi de 171.414 pessoas. 2,6 milhões de dólares em prêmios foram oferecidos aos vencedores (Guinness Book/96).
No Brasil, a competição em rodeios teve inicio em 1956 em Barretos (SP), na Festa do Peão Boiadeiro da cidade. No ano de 1991 foi atingido número recorde de 950 montarias, e em 1994 distribuíram-se 200 mil dólares em prêmios.
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As vaquejadas

A vaquejada consiste em demonstrações de perícia dos vaqueiros, à semelhança do rodeio, mas com característica própria, que é a derrubada do bovino pela cauda. Festa muito tradicional no nordeste brasileiro, reúne grande número de curiosos, atraindo igualmente vaqueiros famosos e animais bravios e conhecidos. O boi ou novilho corre em velocidade e dois vaqueiros o perseguem. Um procura mantê-lo na direção desejada, e o outro segura sua cauda e dá um forte puxão, afastando o cavalo para o lado. Desequilibrado, o boi é derrubado, às vezes de patas para o ar. Banda de música e foguetes comemoram o feito; mas se o vaqueiro não consegue derrubar o animal, recebe uma sonora vaia. Esse costume de derrubar o touro pela cauda é de origem espanhola.
Além do costume tradicional no Nordeste, há sempre uma nota de religiosidade nos rodeios e vaquejadas em todo o Brasil. Nos rodeios, as orações dos cavaleiros antes das provas e o desfile de bandeiras dos padroeiros nas cerimônias de abertura são sempre as mais aplaudidas pelo público.
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Os rodeios
De norte a sul do Brasil existem as exposições ou feiras agropecuárias, nas quais são promovidos grandes e famosos rodeios, além de leilões de animais, desfiles e outras atrações. Mas nem todos os rodeios são realizados nas feiras de gado, muitos são promovidos em locais exclusivamente dedicados às competições.
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O rodeio é uma demonstração pública de bravura e domínio do animal. Os cavalos, e muitas vezes touros bravios, tentam derrubar o cavaleiro, dando pinotes para frente e para trás e jogando-se bruscamente para todos os lados. O cavaleiro tem que permanecer no dorso do animal pelo menos durante 10 segundos. As principais competições de um rodeio são: cavalgar cavalos bravios com selas ou em pelo, cavalgar touros, laçar bezerros em plena corrida e derrubar bezerros pelos chifres. Os competidores têm que cumprir um rigoroso regulamento e concorrem a valiosos prêmios.

Existem provas de tempo e de habilidade. Nas de tempo, julga-se a rapidez do cavaleiro em realizar manobras como laçar um novilho ou um touro, derrubá-lo e amarrar suas patas, ou pular de seu cavalo para o lombo de um touro e derrubá-lo. Nas de habilidade, são realizadas provas como cavalgar cavalo ou touro bravios.
Alguns rodeios atraem cavaleiros famosos que vêm de longe, assim como seus cavalos e mesmo os touros. É a ocasião em que os repentistas, sempre presentes, improvisam a descrição da festa, num clima propício para os desafios entre eles. As vestimentas usadas são típicas das zonas rurais: botas altas, calças rancheiras, camisas coloridas e chapéus de aba larga.
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 Fonte: ABIM


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