A chegada de um novo ano, para alguns, é o momento aproveitado para um balanço, quase sempre melancólico e introspectivo sobre aquele que acaba de terminar.
Jornal de Angola, opinião - A Palavra do Director
Um balanço onde muitos tentam perceber os erros que cometeram, ou que ajudaram a cometer, para os não voltar a repetir naquele que acaba de se iniciar.
Para outros, como eu, o desfolhar de um novo calendário é o momento aproveitado para perspectivar o que fazer no futuro imediato e, simultaneamente, para proceder a um quase secreto elencar de desejos, uma espécie de elaboração de agenda para melhor poder fazer frente aos desafios que se avizinham.
É evidente que há aqueles, mais “torturados” pelas amarguras da vida que, mesmo perspectivando o futuro, não conseguem esquecer o passado – mesmo que recente – e fazem dele um fardo tão pesado que muitas vezes os impede de caminhar para a frente com o positivismo que se exige a quem tem confiança no futuro.
Para 2017, ano de grandes desafios que exigem de todos nós tudo o que de melhor possamos dar, os desejos são muitos e muitos deles, sabemos bem, não serão satisfeitos, por uma ou por outra razão.
Um desses desejos, talvez o que mais impacto poderá ter no futuro imediato de Angola, é o de que o percurso que falta cumprir do amplo e complexo processo eleitoral seja feito em harmonia entre todos os protagonistas, desde as instituições que têm sobre os ombros a responsabilidade de o liderar até aos diferentes partidos políticos, de modo que os interesses nacionais sejam devidamente salvaguardados, seja qual for o resultado final do pleito.
Um outro desejo tem a ver com a necessidade das diferentes instituições agirem de acordo com a lei, respeitando-a plenamente para que a palavra “cidadania” tenha o devido valor. Não se pode continuar a assistir ao descaso das escolas públicas de Luanda continuarem a abusar do cidadão que, desconhecendo a lei ou não tendo outras alternativas viáveis, se vê constrangido a pagar aquilo que lhe deveria ser oferecido gratuitamente.
A justiça angolana já deu suficientes provas de maturidade, de competência e de independência política, o que nos leva a acreditar, sem qualquer hesitação, de que continuará a desempenhar o seu papel de modo exemplar, mesmo que isso contrarie algumas forças que a gostariam de ver menos comprometida com a verdade e com a salvaguarda da legalidade, não hesitando em recorrer aos mais condenáveis truques para a por à prova.
Também gostaria que, em 2017, o discurso político fosse mais inclusivo, sobretudo aquele que é usado por alguns partidos da oposição e forças que se dizem da sociedade civil que para esconderem a sua incapacidade argumentativa recorrem, com demasiada frequência, ao insulto, à calúnia e à difamação, usando para isso alguns “peões” que neste tempo de crise (ela afinal toca a todos) parece se terem virado para o estrangeiro optando por, usando as suas antenas, “cuspirem” no prato onde comeram, não importando que isso coloque em causa o próprio país onde nasceram.
Gostaria, também, que o ano de 2017 desse frutos mais robustos na aposta que foi atempadamente feita na diversificação da economia nacional, uma vez que essa é uma condição incontornável para combater a crise que nos entrou pelo país dentro.
Nos dois últimos meses já se começou a sentir alguma reanimação da economia, mas a verdade é que são precisos sinais mais fortes e consistentes de que a diversificação é um processo irreversível.
Ainda para 2017 seria bom que, de uma vez por todas, a imprensa portuguesa entendesse que Angola é um país independente e que, como tal, tem todo o direito de pensar pela sua cabeça e não andar ao som da música que lhe querem impingir empresas de comunicação tecnicamente falidas que não olham a meios para tentar aumentar as suas fracas audiências.
Neste aspecto, o império mediático de Francisco Pinto Balsemão tem-se mostrado particularmente atento, não perdendo uma oportunidade de chamar os seus habituais “opinadores” contratados para falar de Angola quase sempre cegos pelo ódio e, por isso mesmo, formatados num programa já desactualizado.
É tempo daqueles que trabalham para Pinto Balsemão perceberem que, por muito que tentem e se esforcem, Angola não deixará de ser um país independente, com defeitos e virtudes, mas com o pleno direito de se deixar governar por aqueles que o povo elegeu e que, por mais campanhas que lhes tentem impingir, nunca mais aceitarão as imposições externas com um bafiento cheiro a neocolonialismo.
É evidente que o povo e o governo português não têm nada a ver com aquilo que é o sonho neocolonialista que diferentes grupos de pressão internos exercem sobre Angola. Por isso, e muito bem, os portugueses que aqui vivem são tratados como nossos irmãos e, como tal, respeitados com toda a mesma fraternidade com que os portugueses tratam os angolanos que lá vivem.
O governo luso merece, inapelavelmente, o respeito devido a um país irmão ao qual nos unem laços de uma história e de uma cumplicidade que alguma imprensa portuguesa, por muito que tente, nunca conseguirá apagar.
O ano de 2016 já acabou, dando lugar a um 2017 que se abre cheio de esperança para um país que tendo um passado de luta está mais que preparado para vencer os desafios do futuro, mesmo contra aqueles que ainda teimam em nos ver com um saudosismo caduco que só lhes fica mal. Ah, já agora, era também bom que em 2017 os russos e os norte-americanos se deixassem dessa maluquice de quererem caminhar rapidamente para uma nova “guerra fria”.
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