O
constitucionalista quebra o silêncio e explica as razões que o
levaram a não continuar como presidente do Conselho Fiscal e
Disciplinar do Sporting. Entre elogios a Bruno de Carvalho, fala da
polémica auditoria e do ambiente "pidesco" que lhe criaram
em Alvalade.
Como
se dá a sua presença na lista de Bruno de Carvalho em 2013? De quem
partiu o convite?
O
convite partiu do Dr. Bruno de Carvalho, que eu conhecia mal, mas
passei a conhecer muito bem no exercício do mandato que agora
terminou. Julgo que reuniu consigo um conjunto de pessoas de muito
valor e fez uma excelente equipa nos vários órgãos sociais. E devo
dizer, tendo terminado funções, e tendo aceite o convite há quatro
anos, que estou hoje muito orgulhoso: eu lembro-me nessa altura que
muitas pessoas achavam que o Dr. Bruno de Carvalho era o "Vale e
Azevedo" do Sporting. E não eram muitos aqueles que o apoiavam.
Eu sempre acreditei nele desde a primeira hora. E não imagina as
dezenas de telefonemas de pessoas amigas - uns sportinguistas, outros
nem tanto - muito admiradas e até indignadas por eu ter aceite o
convite que ele me dirigiu para encabeçar o Conselho Fiscal e
Disciplinar (CFD). Hoje, ao fim de quatro anos, posso dizer que foi
uma boa decisão e os bons resultados estão à vista.
Entre
essas pessoas, há alguém com maior peso no universo do
Sporting?
Estão pessoas que foram antigos dirigentes do Sporting.
Estão pessoas que foram antigos dirigentes do Sporting.
Está
a falar de ex-presidentes?
Um deles foi presidente, mas não revelo de que órgão e de que mandato.
Um deles foi presidente, mas não revelo de que órgão e de que mandato.
Por
que não continuou para este mandato? Bruno de Carvalho falou em
razões de ordem profissional, mas o senhor nunca deu esse motivo
quando anunciou que não se iria recandidatar...
Em
primeiro lugar, eu acho que estes cargos não devem ser renovação
eterna. Quando aceitei o convite, o meu prazo estabelecido era de
quatro anos e foram quatro anos muito duros. O CFD a que presidi foi
o que mais vezes reuniu na história do clube, foram 44 reuniões e
participando ativamente em sub-comissões. Houve um trabalho muito
intenso, de acompanhamento das contas, da auditoria, da restruturação
e depois também tivemos os processos disciplinares, que foram
vários. Sinceramente, a certa altura comecei a ficar um pouco
saturado e cansado de uma atividade muito intensa. Entretanto,
aumentaram as solicitações profissionais para ir países de língua
portuguesa. Ainda na semana passada estive em Maputo e Beira e na
próxima semana estarei em Luanda. Esses afazeres levaram-me
gradualmente a tomar a decisão de não me recandidatar à
presidência do CFD.
Mas
teve alguma coisa a ver, por exemplo, com o facto de ter uma ligação
estreita, no âmbito da sua atividade como docente, com um dos
comentadores do Benfica, que tem motivado mais críticas por parte do
Sporting. Refiro-me a André Ventura.
Na
verdade, conheço bem esse comentador e foi um dos melhores alunos da
Nova Direito, sendo professor da Universidade Autónoma, onde eu
também sou professor. Essa "ligação estreita", como diz,
foi objeto de intervenções que não me agradaram porque, a partir
de certa altura, ia recebendo comentários e inquirições de
dirigentes intermédios do Sporting questionando o grau de
proximidade que tinha com esse comentador, ao que eu respondia sempre
com a verdade das coisas, mas sentia que essas perguntas tinham, na
sua essência, uma suspeita inadmissível quanto à minha lealdade e
ao meu sportinguismo. E, a partir desse momento, comecei a encarar a
minha continuidade no CFD de outra maneira.
Quando
começou a perceber que havia suspeitas que não eram compatíveis
com a função?
Isso
começou a partir de setembro, outubro, em que várias pessoas, num
ambiente "pidesco" desagradável, me questionaram…
Bruno
de Carvalho?
Não,
nunca me abordou esse tema. Estou a falar de dirigentes intermédios,
que me perguntavam, em tom "pidesco", o que é que eu tinha
com esse comentador. Até logo me recordei, a esse propósito, que o
presidente da Assembleia Geral é amigo de Luís Filipe Vieira.
Costuma jantar ou almoçar com ele... bem, talvez agora já não
possa... Aqui tem de haver bom senso e o mínimo de respeito. Uma
coisa são as nossas relações académicas, profissionais e
privadas, outra coisa são as nossas relações institucionais e de
lealdade. Portanto, a partir do momento em que essas pessoas, agindo
por conta própria ou não…
Mas
acha que isso refletia o pensamento do presidente?
Nunca
lhe perguntei. Ele a mim sempre me disse que o nosso trabalho tinha
sido fantástico e tínhamos três listas no CFD. Para grande alegria
minha, todos os meus colegas até me ofereceram um jantar de
despedida, que não foi meramente protocolar. O Dr. Bruno de Carvalho
num outro jantar confidenciou-me que o nosso trabalho tinha sido
fantástico, ao que eu lhe comuniquei que nestas coisas de dúvidas
sobre lealdade, temos de ser intransigentes.
Então
a principal razão da sua saída deve-se ao facto de sentir que
duvidavam da sua lealdade?
Não,
não é a principal, mas contribuiu. Esse ambiente foi muito
desagradável e eu não podia tolerar isso. Não podia continuar com
a minha lealdade sob suspeita. O Dr. Bruno de Carvalho não se revia
nessa suspeita, disse-me que não tinha a mínima dúvida sobre a
minha lealdade, mas eu disse-lhe que essa suspeita era um dos fatores
que me levava a não querer continuar. Não era aquilo que o
presidente queria, mas esse ambiente instalou-se nalguns dirigentes
intermédios.
Uma
das bandeiras da campanha de há quatro anos do atual presidente do
Sporting foi a auditoria às contas da SAD do Sporting entre 1995 e
2013. De quem foi essa ideia e como é que o senhor, na qualidade de
presidente do CFD, a encarou?
Essa
era uma ideia antiga do Dr. Bruno de Carvalho porque já a tinha
apresentado em 2011 quando não ganhou. E voltou à carga (e muito
bem). A definição da ideia de auditoria era em relação ao
passado, para o período em que o Sporting passou a ter um novo
conceito empresarial, ou seja, nos últimos 19 anos. Eis uma das
coisas boas dos mandatos cessantes porque a auditoria foi cumprida.
Mas a auditoria não foi feita pelo CFD, foi encomendada pelo
Conselho Diretivo (CD), órgão que tem competência para fazer esse
pedido, ainda que evidentemente o CFD tivesse tido uma intervenção
muito relevante em vários momentos. Em primeiro lugar, para definir
as cláusulas do caderno de encargos, para se saber o que os
auditores iam perguntar, o tipo de documentos a obter, a parte
patrimonial abrangida. Era uma coisa mais ampla, para se saber se os
procedimentos nestes 19 anos eram corretos, se a gestão tinha sido
boa ou má. Ajudámos também na escolha das empresas candidatas,
algumas recusaram. O CD acabou por escolher uma empresa, com o nosso
parecer favorável, mais uma sociedade de advogados. Creio que o
valor final foi de 300 mil euros, era uma coisa muito cara. Depois, o
CFD fez o acompanhamento durante a processo, houve alguma derrapagem
temporal, até alguns sócios ficaram um pouco irritados e nas
Assembleias Gerais culpavam o CFD quando, na verdade, tudo era da
responsabilidade do dos auditores, sendo natural que se atrasasse.
Nem imagina as dificuldades que encontrámos: desde contratos que não
apareciam, outros fechados numa célebre cave, documentos que nem
existiam, um conjunto de surpresas que ninguém esperava. Nós, CFD,
não fazíamos parte da equipa, mas tínhamos membros que reuniam
periodicamente com os auditores e com o CD.
Era
uma auditoria necessária no seu entender?
Era
e por dois motivos. Por um lado, para apurar responsabilidades e em
Portugal é normal a "culpa morrer solteira". Era
importante saber se havia responsabilidades, elas tinham que ser
apuradas e eventualmente punidas. Por outro lado, para pensarmos no
futuro e fazermos um luto sobre as coisas erradas do passado. Os
sócios há muito que pediam esse esclarecimento.
O
que é que se suspeitava? De fraude, de uso indevido de dinheiros do
clube, de gestão danosa?
De
tudo. Numa auditoria, estamos prontos para encontrar tudo aquilo que
disse... até responsabilidades criminais. Mas sobretudo aquilo que
nos surpreendeu foi haver processos de deliberação que não estavam
de acordo com os estatutos. Por exemplo, venda de bens sem pareceres
favoráveis do CFD ou venda de património sem o número mínimo de
assinaturas que os estatutos exigiam ou transações que não tinham
sido autorizadas pela Assembleia Geral. Não vou dar pormenores
concretos.
Isso
era muito importante clarificar até porque a grande venda de
património não desportivo do Sporting deu-se no consulado Filipe
Soares Franco...
Sim,
sim é verdade. Mas a questão não era só de haver processos
deliberativos irregulares, como também se colocavam questões
importantes do ponto de vista do valor por que os bens foram
vendidos…
Foi,
então, importante a auditoria
Muito
importante. O Dr. Bruno de Carvalho prometeu e cumpriu. Aliás, ele
fez tudo aquilo que prometeu fazer. Deste ponto de vista, é um
goleador 100% certeiro!
Durante
esse longo processo, almoçou com Godinho Lopes, que mais tarde
referiu que o senhor tinha criticado Bruno de Carvalho. O senhor
negou e depois houve ameaças de processos de parte a parte... como
está essa situação?
Exerci
as funções de presidente do CFD do Sporting com muito gosto e honra
e saí destas funções que exerci gratuitamente com a seguinte
"herança": uma ação cível que o eng. Godinho Lopes
intentou contra mim, pessoalmente, e também contra as pessoas do Dr.
Bruno de Carvalho e do comandante Jaime Marta Soares, no valor de
500.000 euros. O que tenho de ligação ao Sporting, para além de
ser sócio, é essa ação, que é totalmente disparatada e injusta,
além de ter recusado que o Sporting me pagasse as despesas com a
minha defesa em tribunal, que ficaram por minha conta, dado que esta
foi uma ação movida contra mim, a título pessoal, e não na
qualidade de então Presidente do CFD. O eng. Godinho Lopes nunca
chegou a perceber o problema porque ele foi objeto de um processo
disciplinar devidamente instruído por um jurista externo ao
Sporting. Foi elaborada uma nota de culpa de 70 páginas,
imputando-lhe um conjunto de factos. Enviámos essa nota de culpa e o
eng. Godinho Lopes respondeu em duas folhas a dizer que não percebia
a nota de culpa. Aplicámos a sanção de expulsão por seis votos e
uma abstenção. Ele teve uma segunda oportunidade para se defender
recorrendo para a Assembleia Geral no prazo de dois meses e não o
fez e teve ainda uma terceira oportunidade de se livrar dessa
condenação, que era ir para os tribunais e também não o fez. Foi
para os tribunais fazer outra coisa, não foi para revogar a
expulsão. Foi para intentar a tal ação disparatada. Não tive
nenhum prazer em expulsar o eng. Godinho Lopes, mas era um dever
moral perante as irregularidades que encontrámos. Em relação ao
almoço, ele existiu, marcado por ele através de um amigo comum,
durante o qual abordou dois assuntos e eu posso dizer que não
conhecia o eng. Godinho Lopes de lado nenhum…
Não
o conhecia?
Nunca
o tinha visto pessoalmente, mas agora também não tenho interesse
nenhum em voltar a ver... Retomando, fui apanhado de surpresa porque,
afinal, ele queria era livrar-se do processo disciplinar e que lhe
pagassem 750 mil euros que teria emprestado ao clube. Em relação ao
processo, disse que o processo estava a decorrer e que teria a
oportunidade de se defender, mas pelos vistos não havia nada para se
defender porque era tudo verdade. E o segundo assunto, comuniquei ao
Dr. Carlos Vieira, vice-presidente para a área financeira. Penso que
há um litígio judicial sobre esse assunto.
O
Sporting muito recentemente chegou a pedir a José Eduardo
Bettencourt e Godinho Lopes, em conjunto, qualquer coisa como 70
milhões de euros. Mas aos anteriores presidentes isso não
aconteceu. Pelo menos ainda...
No
âmbito da auditoria, foram encontradas diversas irregularidades e,
de facto, através daquela comissão, depois de o relatório estar
feito, ouviram-se os antigos presidentes, dando-lhes conhecimento
prévio de todos os relatórios, para que pudessem ter uma reunião
connosco e prestar esclarecimentos. Uns aceitaram, outros não.
Como
o Dr. Dias da Cunha...
Sim,
sim. Mas essas reuniões foram importantes: no caso do Dr.
Bettencourt, permitiu que se fizesse uma correção de um erro dos
auditores devido à data de conclusão de um mandato. E muito bem o
Dr. Bruno de Carvalho pediu em tribunal a correção e a redução
dessa ação.
Isso
é posterior à entrada da ação que pedia, em conjunto, 70 milhões
de euros a Godinho Lopes e José Eduardo Bettencourt?
No
princípio, o CD entendeu que se havia um conjunto de atos danosos e
desastrosos para o ativo do Sporting, isso corresponderia a uma
gestão que não é boa, que é má. Quem faz deliberadamente atos de
gestão que conduzem ao aumento progressivo do passivo de uma
empresa, não se pode dizer que tal gerente seja bom ou "amigo
da empresa" porque esse gerente vai levar a empresa para o
buraco. Como isso foi uma coisa continuada ao longo de vários
mandatos, foi-se sempre agravando até ao clímax atingido no mandato
do eng. Godinho Lopes, o CD entendeu que devia intentar essas ações
de responsabilidade cível de administradores e a Assembleia Geral
deu luz verde.
As
únicas ações intentadas em tribunal foram contra José Eduardo
Bettencourt e Godinho Lopes?
Há
dois grupos de ações. Há umas primeiras quatro ações e depois um
segundo grupo de ações numa segunda fase. Mas há questões
jurídicas complicadas, como o prazo de prescrição, não havendo
acordo dos juristas quanto a esse prazo... vamos aguardar o que os
tribunais decidirem. Posso dizer que nós, CFD, não fomos
consultados sobre essas ações, foram intentadas sem conhecimento
prévio do CFD.
Isso
é normal?
Faz
parte do modo de ver o exercício da função do CD, mas penso que
seria elegante antes de uma ação dessa envergadura ser intentada
que, pelo menos, o presidente do CFD tivesse sido ouvido sobre o
assunto, até porque, sendo advogado e professor catedrático de
Direito, talvez pudesse dar alguma ajuda. Mas não foi…
Isso
é uma pedra no sapato na sua relação com o presidente do Sporting?
Não,
nós temos uma boa relação. Devo mesmo dizer que o Dr. Bruno de
Carvalho me surpreendeu pela positiva. Nunca acreditei que ele fosse
o "Vale e Azevedo" do Sporting e revelou-se um grande
líder, com muita energia e capacidade de estratégia, salvou o clube
logo quando tomou posse. Lembro-me de um episódio em que eu estava
em Varsóvia e ele ligou-me a dizer que ia fazer uma conferência de
imprensa para anunciar a rutura das negociações com os bancos na
altura da restruturação. Ainda bem que ele conseguiu reverter isso
e o Sporting deve-lhe a sua salvação financeira. Ele devolveu a
dignidade aos sportinguistas. Isso não significa que tudo tenha sido
perfeito no relacionamento do Dr. Bruno de Carvalho com o CFD e
comigo em particular.
Houve
mais episódios de desconforto?
Houve
sim. O primeiro foi logo ao princípio quando o Dr. Bruno de Carvalho
desejou apresentar aos sócios as contas consolidadas do clube. E ele
pediu aos membros do CFD um termo de confidencialidade para terem
acesso às contas da SAD no âmbito da restruturação financeira.
Houve alguns membros do CFD que não assinaram e eu achava que não
tinha de assinar porque, tendo sido eleito, a minha legitimidade
democrática direta dispensaria qualquer tipo de assinatura. E eu
estou à vontade nestes procedimentos porque já fiscalizei segredos
bem mais importantes - quando fui eleito pela Assembleia da República
presidente do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informação
da República Portuguesa - e nunca assinei qualquer documento de
confidencialidade para ter acesso a segredos de Estado. Não era no
Sporting que ia assinar…
Então,
não assinou?
Acabei
por assinar porque considerei que se não o fizesse iria gerar uma
perturbação muito grande e estávamos no início do mandato. Por
uma questão de paz interna, pensei que devia assinar e assinei. Já
mais tarde, outro episódio que não correu muito bem foi uma
tentativa - felizmente frustrada - de fazer uma alteração
estatutária (e da qual o CFD só teve conhecimento pela leitura das
atas) que tinha como uma das medidas o absurdo de retirar o poder
disciplinar ao Conselho Fiscal e transferi-lo para o Conselho
Diretivo. Isso, além de ilegal e inconstitucional, seria gravíssimo
porque violaria a separação de poderes. A entidade que administra
um clube não pode ser a entidade que pune os seus associados. Se
essa medida tivesse ido para a frente, o Conselho Fiscal teria ficado
sem o poder disciplinar. E, na altura, houve mesmo alguns membros do
CFD que puseram em cima da mesa a sua demissão imediata. Ainda bem
que foi algo que se resolveu rapidamente e tornou-se uma medida
esquecida e espero que esquecida se mantenha para sempre.
E
como geriu essa situação com Bruno de Carvalho, já que não houve
uma comunicação entre órgãos?
O
CFD e eu próprio ficámos preocupados porque nos disseram que o CD
tinha aprovado essa proposta de alteração estatutária. Foi assim
que soubemos e a partir desse momento pedimos acesso às atas para
saber o que lá estava porque ninguém me tinha dito nada. E ficámos
muito espantados com essa alteração estatutária a ser proposta em
Assembleia Geral e na qual o Conselho Fiscal deixaria de ser
"Disciplinar".
Mas
confrontou Bruno de Carvalho?
Não
confrontei. Ele não me disse nada previamente e eu achei que também
não lhe devia perguntar nada posteriormente.
Mas
quem retirou a proposta?
Não
sei porque o assunto nunca foi levado à AG. Nunca passou de uma
proposta que ficou na gaveta.
Nuno
Silvério Marques é o seu sucessor.
E
muito bem.
Há
a curiosidade de o novo presidente do CFD ter sido eleito há quatro
anos na lista de José Couceiro.
Veja
lá bem as voltas que a vida dá. As pessoas não têm que ficar
marcadas por terem integrado outra lista. Acho que o Dr. Bruno de
Carvalho, quando decidiu perante a minha não continuação, teve um
golpe de asa curioso. Devo dizer que isto na política não costuma
ser assim, os adversários continuam a ser adversários, mas o Dr.
Bruno de Carvalho tem essa bondade de alma em transformar os
adversários em amigos. Aliás, o Dr. Bruno de Carvalho foi objeto de
uma campanha terrível e vergonhosa contra a sua honra a reputação,
em que muitas pessoas acreditaram, muito bem montada por uma agência
de comunicação que estava na outra candidatura. Só que depois as
pessoas perceberam que o verdadeiro Bruno de Carvalho não era aquilo
que diziam que ele era, mas era uma pessoa com determinação, com o
seu feitio, com a sua maneira de ser. É um líder nato e as coisas
funcionaram bem. Admito que a minha presença possa ter contribuído
para isso com algum traquejo de vida, com alguma experiência de
liderança e também o caráter e as qualidades das pessoas do CFD:
fiquei muito entusiasmado em relação a isso, pelo trabalho,
dedicação e lealdade entre todos nós, e eu não conhecia nenhum
dos seus membros.
O
atual presidente foi reeleito de uma forma esmagadora. O que há a
melhorar?
O
Dr. Bruno de Carvalho, ao longo destes quatro anos, também aprendeu
com alguns erros, que todos cometemos. E para além das muitas coisas
boas que já fez, percebeu o domínio do Benfica na Comunicação
Social. Tentou reagir virulentamente, como é seu apanágio, e o
Sporting tem vindo a retificar um caminho, que é ter uma forma mais
hábil de colocar os seus comentadores e pessoas da sua influência
nos lugares da Comunicação Social. Vai fazendo-o gradualmente e
também os próprios jornalistas - e aqui não estou a falar do
Diário de Notícias, que, na minha opinião, é um excelente jornal
- aperceberam-se que tinham ido longe demais no apoio ao Benfica.
Hoje, as pessoas têm a consciência de que o Benfica é uma máquina
poderosa de propaganda e que domina a esmagadora maioria dos órgãos
de comunicação social desportivos e não desportivos e, graças à
firme intervenção do Dr. Bruno de Carvalho, tem-se revertido a
situação.
Como
jurista, tem opinião sobre o caso dos vouchers...
Isso
tem uma dimensão criminal. É um favorecimento, uma oferta, uma
prenda. A legislação é cada vez mais rigorosa do ponto de vista de
não permitir que se ofereçam coisas que, mesmo que sejam de pequeno
valor, psicologicamente condicionam e limitam quem vai arbitrar um
jogo. E um árbitro é como um juiz, tem que ser imparcial e
independente. Não conheço nenhum advogado que antes de um juiz
proferir uma sentença lhe ofereça bilhetes para o cinema, uma
garrafa de azeite ou uma peça de fruta. Isso não é prática nos
tribunais.
O
presidente prometeu, em campanha, dois títulos nos próximos quatro
anos. Partilha deste entusiasmo?
Prometer
faz parte de uma política de objetivos. Ele já tinha prometido isso
para o mandato que agora terminou. Infelizmente não aconteceu. Mas
acho que ninguém pode ter qualquer dúvida sobre o amor e a
dedicação do presidente ao Sporting. Eu testemunhei isso
diretamente. Ele estava sempre no clube, só faltava dormir no clube
- e até é capaz de ter dormido lá algumas vezes. Essa é a grande
razão da esmagadora vitória que ele teve. Mesmo não se concordando
com o estilo, com alguns excessos de linguagem ou com alguma
intervenção mais abrupta, todas as pessoas reconhecem a sua entrega
total.
Ao
colocar a fasquia tão alta, se não cumprir o objetivo, pensa que
Bruno de Carvalho pode ter vida longa como presidente do Sporting?
O
futuro a Deus pertence, mas se ele continuar a gerir bem e a dar
alegrias ao clube, certamente que vai continuar, e espero que por
muitos anos, como presidente do Sporting.
Fonte: DN
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