Vasco Câmara
|
Ele é um pouco de tudo isso. No campo da música actual poucos geram tantas divisões como Josh Tillman, 36 anos, desde 2012 conhecido como Father John Misty e pelo seu folk-rock desnudado mas grandioso. Personagem controversa, diz coisas destas: “Os falhanços fazem sentido desde que sejam colossais”.
É este o homem que Vítor Belanciano entrevista na edição de hoje do Ípsilon. Dia em que é editado Pure Comedy, disco que o seu autor diz ser “sobre como o amor é essencial para a nossa sobrevivência como espécie. É sobre o significado disto tudo. É existencial mas também uma carta de amor à humanidade, que é algo essencial para lidar com o desamparo ontológico” (Atenção: há humor em Father John Misty, que se atira a grandes perguntas mas nesse mesmo momento é capaz de se rir do gesto). Pure Comedy: "Os temas resultam tão despidos quanto barrocos, com traços de folk, soul ou rock, num disco que não é de fácil digestão. Exige paciência. As melodias e as estruturas não são óbvias. As letras têm várias camadas de leitura. Mas quando nos é devolvido por inteiro, revela-se em toda a sua riqueza" - Vítor Belanciano dá-lhe 4 em 5 estrelas. Father John Misty virá mostrá-lo ao vivo a 20 de Novembro no Coliseu de Lisboa.
Damo-vos mais música: Mornas ao Piano, de Teté Alhinho, um grande disco de uma voz expressiva e encantadora; o álbum de estreia de João Barradas, 24 anos: Directions reclama o acordeão como um instrumento de liberdade e o veículo perfeito para ocupar as terras do jazz; o quarto álbum de PZ, Império Auto-mano, dança lúdica e comentário social entre o hip hop e outra coisa qualquer (segundo Mário Lopes, mantém o equilíbrio feliz e inusitado a que nos habituou o criador de Cara de Chewbacca).
Uma notícia em primeira mão, a programação para Maio do Theatro Circo de Braga: Rufus Wainwright e Douglas Dare são dois pontas-de-lança.
Continuam os dias do BoCa, bienal de artes contemporâneas. A semana passada falámos de Palhaço Rico Fode Palhaço Pobre, de João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, o primeiro grande momento de desafio, pela Bienal, a criadores para que se movessem em disciplinas menos familiares (neste caso, artistas plásticos na arena do circo). Agora é a vez de Salomé Lamas, cineasta, que mostra Fatamorgana, dias 12 e 13, no CCB, Lisboa: espectáculo para palco e para vozes políticas e religiosas dissonantes, resultou de uma visita ao Tourist Landmark of the Resistance, museu de Beirute dirigido pela milícia xiita libaneza Hezbollah.
Outro museu: a National Gallery, em Londres: Lucinda Canelas visitou uma exposição que reúne 70 obras de dois artistas do Renascimento, Miguel Ângelo e Sebastiano, e com elas fala de uma amizade e de uma época de intriga.
Livros, muitas propostas: Miguel-Manso, poeta, e uma linguagem a caminhar para o palco (Rosto, Clareira e Desmaio serviu de base a um espectáculo teatral); A Associação das Pequenas Bombas, de Karan Mahajan, exercício literário íntimo sobre o terror a partir do quotidiano em Nova Deli - entrevista ao autor, por Isabel Lucas. Os novos de Mário Cláudio, Yu Hua (Crónica de Um Vendedor de Sangue, retrato impiedoso da China de Mao, que a consegue descrever sem entrar de maneira óbvia nos aspectos políticos - a crítica de José Riço Direitinho), Howard Jacobson, Tzvetan Todorov.
Começou ontem, dia 6, na Cinemateca Portuguesa: Vittorio Gassman reduziu a pó a cultura e a introspecção, ultrapasspu tudo a alta velocidade, acelerou sobre o consumismo, e perverteu Jean-Louis Trintignant. É uma obra-prima: A Ultrapassagem. É a Itália dos anos 60. O ciclo de Dino Risi está aí, cheio de obras-primas, está a fazer boom!
Nenhum comentário:
Postar um comentário