Algures, em 1990 – creio, vi um engenheiro electrotécnico falando para uma companhia de Bombeiros na parada que arengava: “sois a última esperança dos vossos camaradas da Região Centro”. Infelizmente não foram, que a serra da boa Viagem ardeu toda mas vimos o comboio que veio com os senhores de Lisboa. Curiosamente foram uns serranos, de Castro Daire, despachados para a Figueira da Foz à conta de mau feitio e que apagaram as chamas com um truque simples. Esvaziando os pneus dos jipões, galgando as dunas e esticando manga de 25 milimetros.
Passados 27 anos volta o comboio e a ração de combate e o problema continua a não ser da doutrina mas dos procedimentos. E da forma como se motiva uma cambada, eu gosto dos Bombeiros e por gostar posso arengar nestes termos. Com pau e chicote esquecendo de pendurar, que dependurados estão os bombeiros, a cenoura. Mas a política vai fazendo caminho. Uns gajos do PPD indrominaram um deputado jornaleiro de Viana do Castelo, ou de Gaia que a transumância politica é pior que a das bordaleiras, por causa do comboio. Como se estivéssemos na I Guerra Mundial e a ferrovia fosse a panaceia das trincheiras. E de tão entrincheirados na política com que julgam que se apagam os fogos nem perceberam que essa é medida sensata.
O Voluntariado perdeu a vontade, mas não o saber, e em Viana e Braga acena ao senhor dos 1350 euros para ir ele que liderar homens é pelo exemplo.
Mas temos aí uns camafeus que lideram pela sombra, ensaiando receitas do passado, pensando na táctica, olvidando a estratégia que é o que falta. Sobretudo quando a estratégia é trocada pela verborreia e não aprendemos nada com o 28 de Maio que além de ter avenida em Viseu, envernizada com nome fresco, é data que nos irá assarapantar pelo óbvio.
Trocando a vontade pelo soldo, incandescendo o salário até aos pornográficos 1350,00€ mês quando um Secretário de Estado tem como vencimento 4.578,00€ acrescidos de 1.983,00€ de abonos que lhe permitem deixar o bivaque e amensar na melhor restauração que as nossas vilas e cidades oferecem e quem vem de Lisboa é principescamente obsequiado.
Não percebendo que o serviço de combate a fogos é maioritariamente voluntário – e ainda bem que o país não tem dinheiro para o sustentar que quando galvanizam as operações com a capacitação é porque a estatística foi envenenada.
Daqui que perante um Governo que escarnece; acolitado pela turbamulta que se achega à gamela que preocupações é com o soldo e não com a floresta que arde que competência é connosco e a taxa de sucesso é de 95% quando a estatistica nos obriga – pelo bom senso, a deixar uma margem de erro, os voluntários se sintam tentados a gritar vai lá tu.
Vamos ver o que a Baía de Cascais nos prepara para o 28 de Maio do nosso contentamento.
Não que eu goste de ver o país arder quando tem na floresta dez mil empregos e quase 11% do PIB. Mas educar governos é como educar crianças e o meu filho já sabe que se não vai pelo amor vai pela disciplina. Ora quando olvidamos o amor, que tem permitido a ampliação do ataque; quando as velhas caranguejolas sinalizam que não querem sair para fora das áreas prioritárias de atuação – e quem é que os pode obrigar? E quando temos este profundo desfasamento da intenção e da vontade em que ficamos nós?
Simples! Os fogos não são uma coutada nem trincheira politica. Tão pouco pode haver uma indústria do fogo mas uma fileira florestal. E como hoje chove, ao contrário do Verão que tem eleições e meteorologia da reles – e não vale a pena açougar com os ventos e os acessos que posso bem-fazer as contas aos milhões gastos para abrir caminhos pagos com fundos comunitários e todos ficamos borrados na fotografia, eu se fosse do Terreiro do Paço marchava rapidamente, e em força, a Coimbra, Leiria e Santarém. Os rapazes que quando aqui em cima toca a ferrinhos estão na primeira linha do despacho.
Mas isto, claro, sou eu a falar que nem voto nem uso a floresta e os bombeiros para engrossar orçamentos de agremiações que viram no DECIF uma gamela. Sou mesmo um gajo que sabe, porque viu, que quando arde um pinheiro é um velho que fica sem dinheiro para a farmácia. E que os tenho no sítio para não ficar escondido na sombra a influenciar e a mandar bitaites quando o óbvio nos salta à vista. E o querer é tão diferente da propaganda que nem vale a pena o tacticismo nem o esperar para ver.
É que estou cansado de ver a Pátria a arder há 37 anos seguidos. Chega, porra. Chega que quando arde toca sempre aos mesmos.
Amadeu Araújo, há 37 anos a ver o Gerês, o Caramulo, a Aboboreira, o São Macário…a arder.
Fonte: BPS
Fonte: BPS
Nenhum comentário:
Postar um comentário