Perante a maior tragédia que aconteceu em Portugal devido aos incêndios de Verão, a pergunta que se coloca é se não há suficientes responsabilidades políticas e civis que levem a demissões. E falo concretamente e em primeiro lugar da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.
Perante a maior tragédia que aconteceu em Portugal devido aos incêndios de Verão, a pergunta que se coloca é se não há suficientes responsabilidades políticas e civis que levem a demissões. E falo concretamente e em primeiro lugar da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.
Talvez não seja possível comparar o caso de Constança Urbano de Sousa com a do ex-ministro com o mesmo pelouro, Jorge Coelho, que perante a tragédia de Entre-os-Rios, originada pela queda da ponte local, apresentou de imediato a demissão em 5 de março de 2001, afirmando que pelo menos dessa vez a culpa não morreria solteira. Acontece que, pelo que se sabe, Coelho teria recebido algum tempo antes um relatório dos seus serviços a dizer que a ponte estava em risco iminente de ruir. Ao não reagir a esse aviso, tomando previdências para evitar o desastre, Coelho fez muitíssimo bem em demitir-se quando ele ocorreu, com a perda de 59 vidas humanas.
Curiosamente, a passagem do 15º aniversário do desastre de Entre-os-Rios foi assinalado em 4 de março de 2016. Ora no dia 1 de Março desse ano, assinalando o Dia da Proteção Civil, afirmou a atual ministra da Administração Interna: “Hoje, através da atuação da Autoridade Nacional de Proteção Civil, verificamos uma enorme evolução em termos da segurança da população e da salvaguarda do património, com melhorias significativas em termos de capacidade de resposta operacional, mas também com o necessário aprofundamento das políticas de prevenção, investindo-se no planeamento de emergência, na minimização de riscos e nos sistemas de alerta e de aviso às populações.”
Pois bem, um ano e dezassete dias após essa afirmação, o incêndio em Pedrógão Grande matou já 58 pessoas (o número tem vindo a subir, pelo que este pode não ser o balanço final) e fez 59 feridos. Segundo as primeiras indicações, a catástrofe terá sido iniciada por um raio que caiu sobre uma árvore. O mato seco e os ventos fortes fizeram com que o incêndio se espalhasse rapidamente e apanhasse cerca de 30 viaturas na Estrada Nacional 236, que faz a ligação ao Itinerário Complementar 8. Só aí foram encontradas 30 pessoas dentro das viaturas e 17 fora ou nas margens. Os outros mortos foram descobertos em ambiente rural.
Como é óbvio, Constança Urbano de Sousa não tem culpa que um raio tenha caído em cima de uma árvore, nem da força dos ventos. Também não é a ela que cabe a responsabilidade por a estrada EN 236 não ter sido cortada imediatamente, por forma a evitar a armadilha que conduziu quase 50 pessoas para a morte. Mas é dela toda a responsabilidade de ter preparado e prontos os meios terrestres e aéreos para atuar em casos como estes, por forma a limitar ao mínimo a perda de bens materiais e sobretudo humanos.
Ora sob esse ponto de vista, a tragédia de Pedrógão Grande é um absoluto desastre. E não deixa de ser curioso que seja e continue a ser o secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, que esteja no local a informar regularmente o país sobre os números da tragédia e a dar outro tipo de indicações importantes para as populações e para o país, que segue o caso com emoção. Constança Urbano de Sousa só apareceu no sábado à noite, quando o Presidente da República se deslocou ao local. Debitou algumas banalidades. Mas o mais notável que fez, quando Marcelo Rebelo de Sousa se encontrava a falar aos jornalistas tendo ao seu lado Jorge Gomes, foi pedir ao seu secretário de Estado para se chegar para o lado e passar para trás para ficar ela ao lado do Presidente da República (é ver as imagens televisivas para confirmar o que escrevo).
Quando, no meio de uma tragédia destas, numa área sob a sua tutela, a ministra mostra estar preocupada é com a sua visibilidade na comunicação social ou o seu lugar na hierarquia governamental, a única hipótese que resta é a sua demissão. Pelo seu pé, para ser uma saída honrosa.
Ou por decisão do primeiro-ministro, porque Constança Urbano de Sousa não merece nem dignifica o cargo que ocupa.
Idem BPS
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