O país está em contagem decrescente para mais um ato eleitoral, as autárquicas, a realizar a 1 de outubro. É comum os líderes partidários afirmarem que não se fazem leituras nacionais das autárquicas. Será?
Acinco meses das eleições autárquicas, importa perceber como estão os principais partidos portugueses e que cenários podem já ser antecipados, numa altura em que o PS goza do seu melhor momento desde que está no Governo, brindado pelas ‘fintas’ de Centeno no setor da economia, onde era esperado o diabo.
“O PSD tem sinais de não crescimento nesta fase intermediária do mandato deste Governo e isso é mau para a democracia portuguesa. Interessava-nos ter o principal partido da oposição a dois, três pontos do principal partido do Governo”, começa por analisar o politólogo Adelino Maltez, notando que, em termos autárquicos, “há aqui várias danças”. “No fundo, as autárquicas são um bailado, cada terra com o seu uso e sobretudo nas zonas mais emblemáticas como na grande Lisboa, não parece que haja crescimento anunciado do PSD”, constata Maltez, sublinhando alguma fragmentação do partido em terrenos tradicionalmente favoráveis ao PSD.
E isso, prevê, “não augura nada de muito ameaçador face ao PS”. PS que, de resto, vive o seu melhor momento desde que governa. "Se Costa não tivesse um acordo com o Bloco e o PCP convocava eleições antecipadas. Mas não vai acontecer, nem o PCP deixa, nem o Bloco, nem Marcelo. Vai aproveitar as autárquicas para arranjar um atestado de crescimento".
Por outro lado, Maltez observa que há, nestas autárquicas, um boom de independentes. “Normalmente são os zangados com os partidos. Grande parte deles não é composta por verdadeiros independentes e há um recurso a dezenas de deputados em serviço”.
Apesar disso, o politólogo elogia as eleições autárquicas. São, para si, “uma festa da democracia”. A quantidade de candidatos que os grandes partidos conseguem movimentar é o melhor atestado de participação política dos portugueses. Elas [as eleições] podem ter muitos defeitos, mas mobilizam o país. Os partidos, sobretudo os dominantes do sistema, conseguem dar um belo atestado de vida. E é bonito. São três centenas de pequenas democracias a funcionar”, explica em conversa com o Notícias ao Minuto.
Há outro aspeto que merece ser realçado, na opinião do especialista. Apesar de alguns candidatos estarem “a concorrer pela senha de presença”, há, de facto, “determinados presidentes de câmara que são mais importantes do que alguns ministros” e que “gerem verbas cada vez maiores do Orçamento do Estado”. “Não estamos a falar em clubes de instrução e de recreio. Estamos a falar de estruturas, algumas delas, da dimensão de um ministério. Já é uma questão extremamente técnica que revela uma efetiva aproximação do poder político ao povo. E isso é a melhor garantia de continuidade de um sistema pluralista e democrático”, avalia.
Liderança do PSD. "Passos está apostado em resistir"
O líder do principal partido da oposição, Pedro Passos Coelho já deixou bem claro que não é um mau resultado autárquico que motivará a sua demissão. Apesar disso, Miguel Relvas já surgiu na arena política, desafiando Passos com a realização de primárias para a liderança do partido. Além de Relvas, começou a falar-se no nome de Luís Montenegro como possível adversário de Passos.
Maltez não tem dúvidas. “São jogos florais. Estão feitos um com o outro”, comenta, fazendo uma “análise fria” do que se passa no partido. “O PSD está no Palácio de Belém. 70% do PSD vibra com Marcelo, 30% vibra com Passos Coelho. É a minoria da sociologia do PSD que tem o partido”, explica, concluindo: “Como não há nenhum Marcelo disponível para se candidatar contra Passos, o partido tem de fingir que tem liderança. Ainda não apareceu ninguém. Montenegro ou Relvas não são alternativas a Passos Coelho. Nem Rui Rio. Não há alternativa neste momento e esse é o drama do PSD”.
Apesar disso, Adelino Maltez ressalva que o PSD “está no poder”, estando ele representado no Palácio de Belém, assim como num governo regional, em câmaras municipais e juntas de freguesia. Os problemas que tem agora a nível interno, vislumbra, são os de "um partido que não está nos seus dias finais”.
“Qualquer anúncio do funeral do PSD é um manifesto erro de propaganda. Tem energias suficientes para se renovar. Temos de dar tempo ao tempo. É um problema interno. E quanto mais de fora dizem mal da liderança do PSD, mais Passos se aguenta”, opina Maltez. E aguenta-se porquê? “Porque arranja inimigos externos e isso reforça a coesão do quadrado. Mesmo os que estão contra ele, apoiam-no. É dever dos militantes defenderem o seu líder. As coisas vão-se compor e de um momento para o outro desembarca D. Sebastião, não sabemos é quem”.
Resistir parece ser a palavra de ordem. António Costa Pinto alinha com o pensamento de Maltez. Considera que estas autárquicas não terão nenhum impacto sobre a estabilidade governamental em Portugal. “Apontando para aquela frase depois das autárquicas logo se vê, vale a pena dizer que não se vê nada”, afirma, prevendo um resultado “inferior ao expectável” para o PSD.
Quanto às movimentações no partido social-democrata, Costa Pinto refere que serão normais e que “serão, no fundamental, pretextos”. Contudo, “tanto quanto nos apercebemos, para já, Passos Coelho tem o apoio significativo dos núcleos das distritais do partido. Deverá resistir a essas pressões. Além do mais, terá sempre várias hipóteses, antecipar a sua própria reeleição, tomar conta do pulsar do partido em relação a si, coisas que podem acontecer, mas que são relativamente naturais num partido de oposição”.
Apesar do desgaste, "Passos Coelho resiste". "O PSD tem uma configuração política que, para já, a maioria da estrutura apoia o seu líder. Sofre evidentemente de contestações, como já aconteceu em Lisboa como foi visível com a escolha da candidata que não agradou aos setores mais importantes da distrital de Lisboa. Passos Coelho está apostado em resistir à regra de que um líder do principal partido da oposição não chegue ao final dos quatro anos de oposição”, comenta ainda Costa Pinto.
Fonte: Noticiasaominuto
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