A revelação de documentos secretos norte-americanos trouxe a verdade à tona sobre acontecimentos ocorridos em 1975 que comprovam a existência de conluio e indiferença de entidades portuguesas (civis e militares) na ocupação selvática levada a cabo por forças militares indonésias ao serviço de Suharto. Também esses traidores portugueses ficaram impunes. Conclui-se após a notícia veiculada pela Lusa em 2005, e que é recomendável não esquecer.
É costume em Portugal (assim como também em outros países) a culpa morrer solteira. Contudo isso não nos impede, em democracia, de recorrer às memórias da história para relembrar aos que são desses tempos mas ignoram e às novas gerações que no caso da invasão de Timor-Leste alguns portugueses têm a sua percentagem de responsabilidades perante o genocídio ocorrido naquele país, assim como a cobardia aviltante e desleixo em entregar de mão-beijada a Pátria de um povo e o próprio povo que Portugal colonizava (sendo por isso responsável).
É evidente que esses portugueses traidores e dignos de chafurdarem em chiqueiro adequado às suas práticas permanecem no secretismo e impunes. Nem a história de Portugal alguma vez fez constar quem são e o que fizeram na abrangência daquele fatídico período. Muito provavelmente alguns (ou todos) ainda foram condecorados por “bons serviços prestados à nação e a bem da nação”. Vómitos, é o que tais energúmenos merecem por tal comportamento. Decerto que inseridos numa componente política e militar. Se bem que certo é que não sabemos exatamente quem desses devemos apontar. A impunidade permite-lhes a opacidade conveniente.
Nem atualmente, mais de 40 anos volvidos, os nomes desses traidores, desses pulhas, e cúmplices dos crimes ocorridos em Timor a partir de 1975, por militares e polícias indonésias, foram divulgados. Passando-se uma esponja pelas responsabilidades e culpabilidades criminosas que lhes cabe.
Em abono da verdade deve ser facto real que na atualidade alguns deles já são ossadas ou pó. Isso não invalida que não seja escrita a história como se deve e que se lhes sejam retiradas condecorações se as tiveram recebido. Ao menos isso. Condecorar traidores é blasfémico para a história de Portugal e ainda muito mais aviltante para as centenas de milhares de vítimas timorenses.
Não são, não foram, os portugueses da plebe que agiram de modo tão sabujo e traidor dos povos timorense e português. Foram especificamente uns quantos, políticos e militares, pela certa. Quem? Quantos? Temos o direito de saber. Não só os portugueses mas também os timorenses interessados na verdade de toda a trama que causou cerca de 250 mil cadáveres timorenses.
Esta é a história pocilgueira de colonizadores cobardes e indiferentes aos destinos nefastos do povo por que se devia sentir e ser responsável. Essa seria a atitude correta e demonstrativa do respeito devido àquele povo. O colonialismo, os negreiros, decidiram ao contrário, cobardamente, com todo o desprezo pelas vidas humanas que então era fácil adivinhar serem varridas da face da terra, do Timor Lorosae. Assim se pode deduzir ao ler a seguir o que consta no jornal Público em 2005. Não só a Indonésia de Suharto é responsável pelo genocídio mas também os EUA e Portugal o são.
MM / AV
DOCUMENTOS SECRETOS | Portugal disse aos EUA que não se oporia à invasão de Timor-Leste
Em Março de 1975, Portugal já tinha informado os Estados Unidos não ser sua intenção resistir a uma possível invasão de Timor-Leste pela Indonésia, revelam documentos secretos divulgados ontem em Washingon. Isto apesar de uma análise militar norte-americana ter concluído que Portugal, com o mínimo de preparativos, tinha a capacidade de "encurralar" os indonésios em Díli, devido à falta de apoio dos timorenses a uma invasão Indonésia e às dificuldades do terreno.
Os documentos mostram a frustração indonésia para com a falta de resposta de Portugal à crescente crise em Timor durante 1975 e ainda a má informação sobre a situação política em Portugal por parte de um proeminente oficial indonésio.
Por outro lado, os memorandos revelam que em Novembro desse mesmo ano o actual ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-leste, José Ramos Horta, contactou desesperadamente a embaixada norte-americana em Sydney, na Austrália, para apelar à " ajuda política e económica à Fretilin" e avisar que a invasão indonésia a Timor-Leste estava "iminente".
Em Março de 1975, Portugal já tinha informado os Estados Unidos não ser sua intenção resistir a uma possível invasão de Timor-Leste pela Indonésia, revelam documentos secretos divulgados ontem em Washingon. Isto apesar de uma análise militar norte-americana ter concluído que Portugal, com o mínimo de preparativos, tinha a capacidade de "encurralar" os indonésios em Díli, devido à falta de apoio dos timorenses a uma invasão Indonésia e às dificuldades do terreno.
Os documentos mostram a frustração indonésia para com a falta de resposta de Portugal à crescente crise em Timor durante 1975 e ainda a má informação sobre a situação política em Portugal por parte de um proeminente oficial indonésio.
Por outro lado, os memorandos revelam que em Novembro desse mesmo ano o actual ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-leste, José Ramos Horta, contactou desesperadamente a embaixada norte-americana em Sydney, na Austrália, para apelar à " ajuda política e económica à Fretilin" e avisar que a invasão indonésia a Timor-Leste estava "iminente".
Esta iniciativa de Ramos Horta foi feita por indicação do Comité Central da Fretilin e, segundo o documento confidencial do Departamento de Estado, o funcionário da embaixada norte-americana que recebeu Ramos Horta "ouviu a exposição sem comentários".
A Indonésia invadiu Timor-Leste em Dezembro de 1975 com conhecimento prévio dos Estados Unidos.
Arquivo de Segurança Nacional dos EUA revela documentos secretos
Os documentos foram dados a conhecer pelo Arquivo de Segurança Nacional (National Security Archive), um centro de estudos que se especializa em tentar angariar e publicar documentos governamentais, muitas vezes secretos.
A organização deu ontem a conhecer 39 documentos até agora secretos sobre os contactos diplomáticos em redor de Timor-Leste após a queda da ditadura em Portugal, que levou à descolonização.
Poucos meses após o 25 de Abril de 1974, o Governo indonésio começou de imediato a sondar os Estados Unidos sobre a posição de Washington quanto a Timor-Leste e a sua possível anexação por parte de Jacarta.
Henry Kissinger foi informado da invasão
Em Dezembro de 1974, um funcionário do Conselho de Segurança Nacional dos EUA enviou um memorando ao então conselheiro de Segurança Nacional, Henry Kissinger, informando-o de que num contacto com o adido de defesa da Indonésia ficou a saber que "o Governo indonésio estaria interessado em saber a atitude norte-americana para com Timor Leste (e, por implicação a nossa reacção à possível tomada de controlo pela Indonésia)".
O funcionário sugere a Kissinger que convide entidades indonésias para conversações sobre essa e outras questões, ao que Kissinger dá sua aprovação com uma assinatura no final do documento por baixo da palavra "aprovado".
Poucos meses depois, em Março de 1975, um memorando "ultra secreto" de três páginas endereçado a Henry Kissinger pelo mesmo funcionário do Conselho de Segurança Nacional avisa que a Indonésia receia que "uma retirada apressada dos portugueses deixará Timor enfraquecida sujeita aos instintos esquerdistas de uns poucos líderes do movimento independentista, líderes que os indonésios receiam serem influenciados por Pequim".
O documento informa estarem a crescer as pressões dentro da Indonésia para uma "acção militar directa". "Temos alguma informação indicando que estão a avançar preparativos para essa acção e uma informação de que Suharto deu ordens para incorporação de Timor português não mais tarde do que Agosto de 1975, pela força se necessário", lê-se no documento.
"Entidades oficiais portuguesas informaram-nos de que não resistirão a qualquer uso da força por parte da Indonésia," acrescenta o documento, sem dar outros pormenores.
Posição da Austrália era "ambivalente"
O relatório "ultra secreto" descreve a posição da Austrália sobre a possível invasão Indonésia como "ambivalente".
O autor do documento afirma que o Departamento de Estado não sabe "qual a melhor política a seguir", afirmando que o embaixador norte-americano em Jacarta recomendou "uma política de silêncio".
O documento propõe que se o Governo indonésio voltar a inquirir sobre a posição norte-americana, a resposta seja manifestar "a esperança de que qualquer mudança no Timor português seja levada a cabo pacificamente".
Henry Kissinger concorda com esta posição e nesse mesmo mês o consulado dos Estados Unidos em Surabaya enviou um extenso telegrama secreto à embaixada norte-americana em Jacarta alertando para as dificuldades que o Exército Indonésio enfrentaria numa invasão de Timor-leste.
O telegrama é titulado "Estimativa das capacidades militares indonésias " e nele o autor avisa que os timorenses ligam a possível invasão indonésia "às memórias amargas da ocupação japonesa e não deverão fornecer guias ou informação" aos invasores.
"Os portugueses não praticaram o ‘apartheid’ e as relações inter-raciais são excelentes," diz o documento.
"Não existe qualquer possibilidade de simpatia por uma autoridade indonésia entre a elite timorense ou a população em geral," acrescenta o documento, que avisa que sem o apoio da população "operações militares no Timor português seriam um grande peso para as melhores forças armadas do mundo".
O documento faz depois uma análise detalhada do terreno de Timor-Leste, afirmando que, embora com planeamento e preparação Díli, possa ser tomada "por uma força militar capaz", as forças portuguesas, com apoio de organizações locais e com "um mínimo de preparativos defensivos e uns poucos dias de aviso, podem encurralar os indonésios em Díli sem gastarem muito sangue ou munições".
O documento analisa depois praias perto de Díli para um possível desembarque indonésio, concluindo que "a logística e manutenção seriam a chave para uma operação com sucesso contra Timor português e estes aspectos não têm sido no passado os pontos fortes dos indonésios".
"Como é que os portugueses tencionam cumprir as suas responsabilidades"
Em Agosto de 1975, a embaixada dos Estados Unidos em Jacarta enviou um documento "secreto" ao Departamento de Estado a relatar um encontro entre o embaixador dos Estados Unidos e o tenente general Yoga Sugomo, dos serviços secretos indonésios.
Neste encontro, Yoga delineou a situação em Timor-Leste e expressou frustração por não conseguir clarificar "o que o actual Governo português vê como as suas obrigações e responsabilidades no Timor português ou como é que os portugueses tencionam cumprir as suas responsabilidades".
"Yoga disse francamente que o Governo da Indonésia não sabia quem estava no poder em Portugal e não conseguia obter respostas de Lisboa ou de qualquer outra representação diplomática portuguesa em Macau, Hong Kong, Nova Iorque e noutros locais," diz o documento, que relata como o general Yoga considerou os "socialistas" portugueses como "pró-Moscovo" e os "comunistas" como "pró-Pequim".
Quando informado pelo embaixador norte-americano de que "os socialistas portugueses tendem a manter laços ideológicos com os socialistas europeus e não com Moscovo" e sobre como as "tendências" em Portugal eram "vistas como não comunistas e de dificuldades para os comunistas, o general Yoga repetiu meramente que, pelo que sabia, os "socialistas eram pró-Moscovo e os comunistas eram pró-chineses".
Interrogado pelo general indonésio sobre qual a posição dos Estados Unidos para com a situação em Timor-Leste, o embaixador respondeu que, "em primeiro lugar, o Governo dos Estados Unidos não está ansioso por se envolver de qualquer modo no Timor português", sendo o "principal interesse norte-americano o impacto de qualquer mudança no Timor português nas relações dos Estados Unidos com a Indonésia".
"Em segundo lugar, o Governo dos Estados Unidos não tem qualquer objecção à fusão de Timor português com a Indonésia, assumindo que é esse o desejo da população", acrescentou o diplomata, citado no documento.
O embaixador disse que poderia "haver problemas" se houver "uma tomada pela força" avisando que isso poderia pôr em perigo a ajuda militar à Indonésia.
O general indonésio insistiu numa opinião mais clara das autoridades norte-americanas, afirmando que "se daqui a quatro ou cinco anos Timor português for pró-soviético ou pró-chinês, então os problemas não serão só da Indonésia".
O embaixador norte-americano disse que a posição norte-americana não estava "inteiramente dependente do ramo executivo do Governo dos Estados Unidos".
"O ramo executivo pode compreender a situação, mas as suas mãos podem ficar amarradas, pelo que não é possível dizer exactamente qual seria a reacção dos Estados Unidos", disse o embaixador dos Estados Unidos.
No encontro, o general Yoga disse não acreditar que a fusão de Timor-Leste com a Indonésia pudesse angariar mais apoio entre a população timorense porque "só a Apodeti (Associação Popular Democrática de Timor) é que apoia isso".
O décimo segundo e último assunto
A 5 de Dezembro de 1975, nas vésperas de uma visita do então Presidente Gerald Ford a Jacarta, o Departamento de Estado enviou uma nota "secreta" a Henry Kissinger a mencionar a informação sobre a decisão da Indonésia de invadir Timor entre "6 e 8 de Dezembro".
O documento sugere que - embora seja de esperar que a Indonésia não tome qualquer acção antes da partida de Ford de Jacarta, para evitar um "sério embaraço" - seja enviada uma "mensagem urgente" às autoridades indonésias "pedindo que os indonésios não façam qualquer anúncio e não tomem medidas militares até bem depois da partida do Presidente de Jacarta".
Documentos preparados por Kissinger para o Presidente Ford, para a sua visita a Jacarta, indicam, contudo que para Washington Timor-Leste não era uma prioridade.
A situação em Timor-Leste é apenas o décimo segundo e último assunto do "briefing" ao Presidente norte-americano.
Lusa, em Público | 29 de Novembro de 2005, 12:08
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