segunda-feira, 28 de agosto de 2017

É possível amar sem apego? | Robina Courtin

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Robina Courtin, nascida na Austrália, professora do Dharma,  uma monja budista da Tradição Gelupga do Budismo Tibetano e da linhagem do Lama Thubten Yeshe e do Lama Zope Rinpoche
É possível amar sem apego?
Primeiro de tudo, nós achamos que o amor e o apego significam a mesma coisa. Mas o caminho budista de compreender as nossas emoções diz que o apego é a nossa parte necessitada, neurótica e insatisfeita que anseia por alguém lá fora, acreditando que quando chegarmos a esse alguém, nós estaremos felizes.
O amor, por outro lado, refere-se a uma parte altruísta do nosso ser – uma ligação com os outros, desejo que eles sejam felizes, e deliciar-se com o seu bem-estar. Temos esses dois, é claro, mas é difícil ver a diferença. Eles são como leite e água misturados. Se há alguma alegria no nosso relacionamento, é por causa do amor. Se há raiva, mágoa, inveja e todo o resto, é o resultado do apego. Mas é tão difícil ver isso.
O apego é uma palavra tão simples, mas é multi-facetada. No nível mais fundamental é aquele sentimento de carência dentro de nós; aquela crença que de alguma forma eu não sou o suficiente, eu não tenho o suficiente, e não importa o que eu faço ou o que eu tenho, nunca é suficiente. Então, é claro, porque estamos tão convencidos que isso é verdade, nós ansiamos por alguém lá fora, e quando encontramos esse alguém que acciona os nossos bons sentimentos, nós apegamo-nos à ideia de te-los para nós, convencidos que vão preencher as nossas necessidades e fazer-nos verdadeiramente felizes e contentes. Nós assumimos que eles são nossa posse, quase uma extensão de quem nós somos.
“No nível mais fundamental, o apego é esse sentimento de carência dentro de nós; aquela crença que de alguma forma ‘Eu não sou o suficiente “
A fonte de infelicidade
Esse apego é a fonte de todas as outras nossas emoções infelizes. Porque ele está desesperado para conseguir o que quer, no minuto em que não consegue – o momento em que ele não liga ou chega em casa tarde, ou olha para outra pessoa – o pânico surge e imediatamente transforma-se em raiva e, e em seguida, em ciúme ou baixa auto-estima, ou em qualquer um dos nossos velhos hábitos que costumamos manifestar. Na verdade, a raiva é a reacção quando o apego não consegue o que quer. Todos esses pressupostos estão enraizados tão profundamente dentro de nós, e nós acreditamos totalmente nessas histórias, que parece ridículo mesmo questioná-las. Mas precisamos. E a única maneira que podemos fazer isso, é conhecendo as nossas próprias mentes e sentimentos: em outras palavras, é preciso aprender a ser os nossos próprios terapeutas.
O facto é que o apego, a raiva, o ciúme e qualquer outra emoção aflitiva não estão gravadas em pedra; eles são velhos hábitos, e sabemos que podemos muda-los. O primeiro passo é ter a certeza de que, conhecendo bem as nossas próprias mentes, podemos aprender a distinguir as várias emoções dentro de nós e, gradualmente, aprender a mudá-las. O primeiro desafio envolve realmente acreditar que consegue fazer isso. E isso apenas, já é algo enorme – sem essa confiança, estamos presos e apáticos.
A próxima etapa é dar um passo para trás de toda a conversa sem fim nas nossas mentes. Uma maneira muito simples de fazer isso – é tão básico que é chato! – é, apenas alguns minutos todas as manhãs, antes de começarmos o nosso dia, se sentar e focar em algo. A respiração é um bom começo. Não é nada de especial; não há nenhum truque; não é algo místico. É uma técnica psicológica prática. Com determinação pode decidir ter atenção plena na respiração – na sensação nas suas narinas enquanto  inspira e expira. No momento em que a sua mente divagar, traga o seu foco de volta para a respiração. O objectivo é fazer os pensamentos irem embora; mas não se envolver com eles, e aprender a deixá-los ir e vir.
O resultado a longo prazo de uma técnica como esta é uma mente super focada, e isso vai levar tempo. Mas o benefício quase imediato será que, à medida que experimentamos dar um passo para trás de todas as histórias em nossa cabeça, nós começaremos a ser objectivos sobre essas histórias e lentamente começamos a desvendar, desconstruir e, eventualmente, mudá-las. Diz-se que um dos sinais que estamos indo bem na prática é ter a impressão que estamos cada vez pior! Mas nós não estamos. Estamos começando a ouvir as histórias de forma mais clara, ai então é que podemos começar a mudá-las.

Fonte: PB

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